Transtorno dissociativo e médiuns

Relata-se o caso de uma mulher com transtorno dissociativo de personalidade. Ela possuía vários “alter egos” e alguns deles se diziam cegos, embora ela, em tese, pudesse enxergar normalmente. Depois de feitos alguns testes, descobriu-se que, quando “encarnava” um cego, o cérebro da mulher efetivamente se comportava como o de um cego, ou seja: a sua atividade associada à visão cessava. A descoberta é sem dúvida espantosa e me faz pensar em algumas implicações.

Muitas vezes já foram feitos testes com médiuns famosos, como o Chico Xavier, para verificar se, de alguma maneira, as cartas que psicografava não podiam ser fruto do seu próprio cérebro, e não o de uma suposta entidade espiritual. Os resultados, de maneira geral, sugerem que há uma diferença notável entre a personalidade do médium e aquilo que ele escreveu, com o próprio cérebro atuando de maneira muito diversa.

Muito bem. Pergunto o seguinte: não poderia Emmanuel e qualquer entidade ser uma personalidade alternativa criada pelo médium (não de forma consciente) e tão convincente na sua “diferença” em relação a ele como a personalidade cega de quem sofre de transtorno dissociativo? Vemos os testes de uma carta psicografada e pensamos: “Não há dúvida que se trata de outra pessoa escrevendo”. E, no entanto, se analisarmos o cérebro da mulher quando se dizia cega e quando enxergava normalmente concluiremos: “Sem dúvida são duas pessoas”.

Só que não são, pelo menos não vi, até agora, alguém defendendo que a personalidade cega seria uma entidade de outro mundo que ocupava o corpo da mulher. Tudo indica que uma mesma pessoa é capaz, por razão não suficientemente claras, de criar personalidades e de alternar entre elas, possivelmente sem ter o devido controle sobre isso, de tal forma que o próprio cérebro se ajusta à personalidade que criou.

Emmanuel pode ser mesmo uma outra personalidade, e pode ter diferenças muito significativas quando comparadas ao do seu médium (tão grandes quanto enxergar e não enxergar) e mesmo assim pode ser que tudo isso se passe apenas no cérebro do Chico Xavier.

De certo algo semelhante já foi aventado por pesquisadores. Existe, no entanto, um problema mais difícil de resolver, que é o dos significados que a outra personalidade consegue gerar no mundo real, a partir de conhecimentos, em tese, “insabíveis” pelo médium.

No entanto, a partir de ideias derivadas do pampsiquismo, não espantaria se surgisse também uma resposta “natural” para isso. A resposta natural não invalida a fé. Mas faz da fé apenas isso: fé.

Frederico Milkau
Enviado por Frederico Milkau em 30/07/2018
Reeditado em 30/07/2018
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