REFLEXÕES SOBRE A PÓS-MODERNIDADE E A TRANSCENDÊNCIA EM CRISTO

1ª PARTE: AS BARBÁRIES NA PÓS-MODERNIDADE

Nessa civilização repleta de barbárie e de maravilhas tecnológicas, nessa era de tantas encruzilhadas, incertezas e abismos existenciais, os homens estão longe de se sentirem satisfeitos e felizes, apesar de existirem indivíduos que pintam os seus rostos com tonalidades de alegria instantânea, de satisfação e de entusiasmo apenas para camuflar a miséria espiritual que assombra a sua própria existência.

Mesmo vivendo no vazio, muitos perseguem a ilusão de que são autossuficientes com alguma posse que obtiveram no curso de suas vidas; e esquecem que não é a posse de bens materiais e, tampouco, de uma posição social avantajada, o que traz elevada paz de espírito e felicidade perene, mas sim a plenitude da graça que o ser humano se alimenta enquanto repousa com fidelidade nos braços seguros do altíssimo.

Por todos os lados e em todas as direções o homem tem estabelecido seu domínio, acreditando ser o senhor da natureza e da vida. Mas enquanto caminha nessa direção, perde a capacidade de saber qual o sentido de sua vida e o propósito de viver num mundo em que uma parcela significativa dos homens já perderam o respeito e o amor entre si.

Com o tempo, emergem ciências que ambicionam descobrir enigmas indecifráveis, trazendo explicações e teorias que contribuem para esterelizar do coração dos homens a ânsia pela transcendência e também qualquer avidez pelo sagrado.

Na mesma direção, surgem pensadores contemporâneos que, sedentos por acumularem conhecimentos, cuja ambição é se distanciarem do senso comum, ridicularizam qualquer manifestação sobrenatural que possa enriquecer os homens com a verdade do inefável. Tais saberes, fazendo questão de levarem às últimas consequências a ideologia do ''homem como medida de todas as coisas'', dão continuidade ao projeto iluminista, enfatizando a razão contra qualquer manifestação que transcende a lógica e a objetividade dos fatos.

A disseminação de doutrinas sobre o qual o homem passa a ser a medida de todas as coisas, acarretou uma forte confiança no progresso da ciência e da civilização, dando prioridade ao saber do homem, em vez de qualquer saber revelado por uma Divindade onipresente, onipotente e onisciente.

Nesse deserto que o homem civilizado tem atravessado, assolado por inúmeras guerras, crises existenciais e dificuldades na própria relacionalidade humana, é propositalmente disseminado distrações, jogos, passatempos e vícios como forma de encobrir o absurdo existencial presente no seio da humanidade, especialmente nesse século repleto de guerras espalhadas pelos quatros cantos do universo.

Num planeta onde somente o homo hostilis se prolifera em quantidade significativa e define a sua lógica desumana de segregação, xenofobia, separação e exclusão, dificilmente podemos pensar em outro cenário, a não ser o de morte e de desolação (a cada dia mais preponderantes nas relações sociais). À medida que a soberba e o orgulho dos homens crescem, menos habitável se torna a terra, dificultando até mesmo a condição de perpetuação de outras espécies com direito mínimo à vida.

Vivemos num tempo em que o homem almeja se tornar uma divindade, um ser acima do bem e do mal, ou para usar uma expressão comumente usada, um ídolo de nossa cultura; e se for necessário até mesmo subjugando os demais homens com arrogãncia, astúcia e impiedade sem precedentes.

Quantos homens, ao ostentarem um poderio e uma hierarquia elevada, não tem usado de toda sua ''força'' para oprimir os seus subalternos com arrogância e demonstração de ódio? Nas sociedades mais complexas, é evidente a quantidade de pequenas organizações e de microcosmos com as suas regras e poderes particulares, ambientes esses que mais parecem um campo de concentração do que propriamente um ambiente organizado e aprazível de trabalho!

Na lógica do consumismo que impera em nossa sociedade, o culto aos falsos deuses e as personalidades mais importantes e badaladas se torna uma regra, alimentando um comércio fraudulento que inclusive já tem invadido altares repletos de blasfêmias e orgias eclesiásticas. Hoje podemos presenciar inúmeras instituições que se arrogam ser os ''representantes'' ou ''porta-vozes'' da verdadeira mensagem do Deus altíssimo na terra. Lamentável haver tanto descaso com algo tão sério, sublime e valoroso como a palavra inspirada pelo Rei dos Reis!

Não dá para pensar nessa lógica da barganha presente em nosso meio religioso sem entendermos a miséria espiritual de multidões de indivíduos enganados por homens inescrupulosos e sem afeição pelo seu semelhante. Como vivem assediados por doutrinas que incutem a garantia da prosperidade, tais pessoas buscam milagres e respostas para os seus problemas pessoais sem terem consciência do que está por trás desse sistema perverso; infelizmente, se tornam vítimas das ''meias verdades'' expressas pela boa oralidade de indivíduos sagazes.

2ª PARTE: A IMPORTÂNCIA DO DIVINO E DA TRANSCENDÊNCIA EM CRISTO

Só quem tem sinceridade e pureza no coração, como também uma profunda insatisfação contra o absurdo de nossa civilização altamente manipuladora, mergulhando heroicamente na angústia e na inquietação constante como forma de encontrar uma resposta para a própria existência, está em condições de encontrar um oásis fértil nesse deserto espiritual e moral presente por todo esse planeta sombrio.

O nada não é totalmente desprovido de sentido, é na verdade apenas uma breve travessia em prol de algo maior, uma vez que há um propósito para todos nós que buscamos a Deus em sabedoria e em verdade, ainda que, por alguma razão que desconhecemos, precisemos atravessar o vale das sombras da morte. E tampouco podemos concebê-lo como um antro de hospitalidade, obviamente, uma vez que nos sentimos desprovidos de familiaridade e vulneráveis quanto as incertezas da vida. Todavia, se considerarmos o deserto como símbolo do vazio e do nada, percebemos que tal vastidão percorrida é apenas uma passagem, ou melhor, um convite à solidão e ao recolhimento interior que nos conduzem à necessidade do divino.

A importância do deserto como forma de obtermos uma resposta sobre o sentido de nossa existência se torna mais evidente quando a esperança irradia a sua luz em nossas vidas, ou melhor, para a vida de todos nós que não deixamos evanescer o que ainda existe de mais sublime e valoroso em nosso ser.

Esse árduo caminho percorrido pelos mais nobres sábios, especialmente aqueles dotados de profundo temor a Deus, existe para ensiná-los durante a sua longa peregrinação. De tempos em tempos, a sua fé inabalável se fortifica, sabendo que nada se compara ao verdadeiro encontro com o único que pode salvar os seres humanos de sua miséria, com o único que pode responder ao apelo de um ser desiludido de qualquer pátria ou nacionalidade.

Ora, quem mais senão aquele que viveu segundo a ordem de Melquisedeque, que foi imolado antes da fundação do mundo e que sentiu na pele as nossas dores, ou seja, nos amando profunda e infinitamente até mesmo no madeiro de uma cruz como se fosse um ladrão, pode apascentar as nossas inquietações e as nossas angústias? Quem mais senão Jesus Cristo (que foi morto na cruz para nos dar a possibilidade de vida eterna) tem o poder para nos libertar e, ao mesmo tempo, nos saciar com a verdade que se frutifica no horizonte de nossa espiritualidade? Quem mais senão o filho de Deus pode desvelar a verdade no coração dos homens, verdade essa aberta para aqueles que a vivem de forma apaixonante e sincera?

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 03/08/2018
Reeditado em 17/08/2018
Código do texto: T6408352
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