Bússola

Sentada naquela areia morna, o vento fazia com que os pequenos grãos arranhassem minhas pernas, que protegia o restante do meu corpo. Havia subido aquela duna acompanhada por dezenas de pessoas que faziam o mesmo e, parece, por todos os dias. Se sentam no topo da montanha de areia e olham o Sol se pôr. Algumas seguram seus celulares ou câmeras fotográficas. Outras carregam em suas mãos garrafas e copos com bebidas. Grupos animados de amigos, jovens, velhos e crianças, casais, ou solitários como eu. Fiquei dali, do meu pequeno e disputado espaço de areia, imaginando e me encantando em como, diariamente, tanta gente participava daquele ritual.

Lá embaixo, o mar e o vento quente agradável do inverno cearense, que mais parecia um tímido verão. E ali no alto estava eu, com meus cabelos emaranhados, pele salgada e dourada de dias inteiros na praia, short jeans, biquíni de gatinhos, pés descalços e as sandálias de borracha repousando ao lado. Meu filtro dos sonhos fazendo peso na minha orelha esquerda sacudido pelo forte e ruidoso vento do fim daquela tarde. Não queria usar o óculos para ver o espetáculo, então o pus no topo da cabeça.

Que ritual divino! Quem inventara isso? Aquele lugar era tão místico, assim como toda aquela cidade. Talvez aí estivesse a reposta, uma forte e vibrante energia envolvia todo lugar, não tinha como não se banhar dela.

Queria, por mais uma tarde, ver o Sol se pôr e aplaudi-lo. Queria eu aplaudir aquele pôr do sol todos os dias! Estava imersa a minha vontade e um sentimento profundo de paz me invadiu. Estava tão tranqüila, como a muito tempo não sentia. Estava leve e um pouco enigmática, acho que influenciada pelo momento, para mim, tão mágico. O Sol já estava perto de tocar o mar e sua luz alaranjada iluminar as águas num dourado espetacular, quase no mesmo tom dos corpos que ali aguardavam. Uma luz que tornava tudo mais quente e vibrante. Então, inclinei a cabeça para trás, com os olhos fechados, suspirei o mais profundo e fiquei um tempo nessa posição, imersa naquele sentimento de calma, no calor do momento, no clima de amor verdadeiro em sua mais ampla definição. Então voltei a olhar o Sol e algo, naquele imensurável instante, me fez perceber que tudo é tão exato, seja qual for a direção em que esteja.

Então, percebi que poderia sim, aplaudir o pôr do Sol todos os dias e viver momentos como aquele. De qualquer lugar que eu estivesse, mesmo nos dias mais nublados, o Sol continuaria ali, nascendo e se pondo, bastava procurar sua direção.

Luna Canceriana
Enviado por Luna Canceriana em 26/08/2018
Código do texto: T6430539
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.