COMO E QUANDO USAR A VERGONHA E A CULPA PARA A CORREÇÃO E MUDANÇA DE ATITUDE

Diante da avalanche de denúncias sobre corrupção no Brasil, pela elite política, pela inciativa privada como prestadora de serviços e o poder público em todas as instancias, em vários setores, deixa a população, que sempre é a primeira a sofrer, diante da crise boquiabertos pela falta de sentimento, de constrangimento dos envolvidos no processo.

A imprensa televisiva, jornais e revistas especializadas chamam a atenção para a postura do presidente da Odebrecht e Empresários do ramo de todas as empresas envolvidas, que investigadas e comprovados seus envolvimentos, além de políticos, foram expondo, não apenas estes indivíduos, mas seus familiares. No caso do presidente da Odebrecht, o curioso foi seu comportamento, como se ele fosse convidado para dar uma palestra sobre qualquer assunto. Seu posicionamento era um acinte a população, que vem sofrendo com desemprego, perda de poder aquisitivo, passando fome, perdendo seus imóveis, e bens móveis, com uma educação decadente, com um sistema de saúde quebrado, mal pago e malformado, etc.

Faz-nos lembrar um livro escrito por Lawrence E. Shapiro. Inteligência emocional: uma nova vida para filho. Rio de Janeiro: Campus, 1998, no capitulo onde escreve sobre a “a importância da vergonha”, (p.55-58), que começa na educação da criança. “

De acordo com teorias da neuroanatomia, as emoções extremas acarretadas pela vergonha provocam um curto-circuito nas formas normais com que o cérebro registra informações e guarda memórias. Emoções extremas criam um desvio em torno da área do cérebro responsável pelo pensamento, córtex, e carrega de eletricidade o centro de controle emocional do cérebro, a amígdala, sede do aprendizado emocional e da memória.

O sentimento de vergonha experimentado por um indivíduo quando questionado sobre suas ações, quer sejam justas ou injustas, pode ter efeito devastador. Diante das prisões que têm sido efetuadas desde o início da Lava Jato, temos observado a fisionomia dos envolvidos; uns estão humilhados e sentindo-se injustiçados, em outros, observamos a surpresa e a incredulidade de terem sidos descobertos, e cujo posicionamento é de desdém, como se cressem que não seriam punidos. Uns cobrem os rostos, outros encobrem as algemas. Valeu a pena ganhar fraudulentamente tantos milhões e bilhões, desviados dos mais diversos órgãos, ainda que não fiquem totalmente pobres? Eles não pensaram nem em seus filhos, ao contrário, alguns envolveram suas esposas e filhos neste lamaçal de desvios, ou na humilhação ao serem apontados como pertencentes a estes indivíduos.

São tantos os políticos envolvidos em escândalos, que não há possibilidade de mudanças se os mesmos continuarem no poder, seja por sua própria candidatura, ou pela candidatura de um

de seus parentes, para continuarem no poder, a maquinar o mal, roubar a nação e os brasileiros.

Há outro sintoma ainda mais absurdo. A ignorância e o ludibrio dos incautos. De pessoas, cuja pobreza e a falta de conhecimento, são aliciadas em troca de benesses temporárias. Mas, há os que vendem seu voto em troca de benefícios em médio e longo prazo, numa via de mão dupla do tipo: “eu dou, você me dá”. Estes não fazem parte da massa empobrecida e sem educação de qualidade, sem qualificação profissional; são os que podem intervir direta ou indiretamente em favor de seus interesses.

Faz-nos lembrar do livro do Prof. Dr. Luís Vicente VIEIRA, Democracia com pés de barro, (2006, 110-111):

A realidade dos eventos políticos [...] os novos atores sociais que emergem no cenário político parecem eles mesmos, negar a prática política dominante, viciada, mas institucionalmente reconhecida e legitimada [...]. Não resta, senão a ação direta, a pressão, mobilizações [...] O jogo político partidário, instrumento articulador da representação institucional, parece não lograr legitimidade junto aos novos segmentos que crescentemente passam a exigir o seu reconhecimento como agentes políticos.

Nossa democracia tão nova e tão remexida, cujo instrumento de legitimação política é através do voto popular obrigatório para indivíduos acima dos dezesseis anos, tanto é um exercício de cidadania, com a consciência de escolhas legitimas e boas para a nação, quanto o de irresponsabilidade, quando votamos por obrigatoriedade, desinteresse, como barganha, transferindo para os menos articulados e sem conhecimento suficiente para ler nas entrelinhas dos possíveis candidatos, bem como a ideologia político-partidária. Como afirma

Porque uma vez escolhidos os representantes, tornamo-nos simples espectadores da vida política, e não atores protagonistas deste processo. E, durante quatro anos só nos resta indignarmos, porém impotentes, e finalmente, resignados [...] O ceticismo da população com a democracia é, em parte, a contrapartida no cinismo parlamentar...” VIEIRA, 2006, p.111),

Será que precisamos ficar resignados e nada fazermos para mudar o quadro? Nosso problema é ignorância política, e desconhecimento dos nossos deveres e direitos como cidadãos. Somos analfabetos funcionais em termos de economia e política. “De que vale o parlamento aprovar centenas de leis que nada têm a ver com a utilidade pública, em sua maioria, aos interesses do próprio Estado” (Marco MACIEL. Política e cidadania. 2007, p. 19)

Maciel continua (p.20) afirmando que a maioria dos conflitos se dá no cotidiano dos indivíduos, mas cuja fonte é “deficiente cultura cívica”. A sociedade corre o risco da perda da confiança na “lei, justiça, ordem e responsabilidade coletiva, padrões erigidos da civilização”. Ele conclui seu texto afirmando que “só a educação, mais que ensino, e o ensino pelo exemplo podem reverter essa situação que ameaça se espalhar por toda a parte”. O curioso é que ela se espalhou. Estamos em perigo.

Volto agora para Rousseau que afirma no Contrato Social, que “o povo se engana facilmente, mas dificilmente se corrompe, já os representantes raramente se enganam, porém, frequentemente se corrompem”. Mas, os políticos são, antes de tudo, cidadãos da polis, e se há corrupção em seu meio, a responsabilidade é nossa, ao escolhermos de forma aleatória ou com interesses escusos.

VIEIRA citando MONTESQUIEU, Espirito das Leis afirmava “o remédio era um poder dividido, pois um freia o outro poder, evitando assim o uso abusivo do poder. ”

O resultado disto é pobreza, e pobreza política. Pedro Demo, Pobreza política, (1996, p.13), afirma que “pobreza, em sua essência, é repressão, ressalta também seu caráter político, resultante da discriminação sobre obter vantagens, e que isto significa “bens escassos: dinheiro e poder”.

DEMO, (p.17), afirma que “o homem político é aquele que tem consciência histórica. Sabe dos problemas e busca soluções. Não aceita ser objeto. Comanda seu destino...” É criativo, e não um produto, produto no sentido de fazer outros enriquecerem com seu trabalho, sem dele usufruir. Contudo, isto acontece frequentemente.

O que queremos afinal?

Dignidade, e isto é alcançado a partir da consciência de si, do papel que representamos na sociedade, e de trabalho que garanta um salário justo, que dê condições para vivermos dignamente. Vendemos nosso tempo, conhecimento e habilidades em troca de uma vaga no mercado de trabalho e de salário. Logo, como cidadãos conscientes, precisamos estar dispostos a agir corretamente, cumprindo ao que nos propomos quando assinamos um contrato de trabalho. A partir daí, podermos morar, vestir, comer, ter educação de qualidade, seguridade social, seguro saúde adequados. Mas, isto não acontece. Há muitos vivendo de forma nababesca, sem ter a noção do significa crise, enquanto que a maioria aceita trabalhar pela metade do que normalmente receberia por seu trabalho, para poder continuar a por comida na mesa.

“A dignidade dos desiguais não pode ser feita pelos discriminadores [...] A melhor farsa ainda é a roupagem da participação. Poder inteligente é aquele que se transveste de conquista popular [...] faz política social porque desmobilizam. Desmobilizam o adversário, destruindo-o ou manietando-o [...] quando o Estado anuncia participação, é de desconfiar, pois deve vir uma proposta aparentemente avançada, mas no fundo desmobilizante. (DEMO, 1985, p. 19,22)

CONCLUSÃO

As investigações da Lava Jato continuam e espero que consiga “passar o Brasil a limpo”. Apesar de que, não atingiremos o ideal desejado, pois onde há o ser humano, há o desengano, o erro, as conivências. Dentre os investigados e presos, consideramos o mais conturbado, até hoje, foi a prisão de Lula, cuja novela tem um enredo digno de uma novela mexicana, culminado com a definitiva inelegibilidade por ser considerado “ficha suja". Mas, ele continua fazendo propaganda eleitoral, através dos candidatos do seu partido. Quanto as investigações, creio que estamos na ponta do iceberg ainda. Há muito que vir à tona. Enquanto isto, as eleições de outubro estão as portas, e os meios de comunicação manipulam as estatísticas de preferência de voto para os candidatos à presidência da república. Pior, os candidatos a deputados federal e senadores estão na ponta, esquecidos, quando na verdade quem governa o país é o Congresso Nacional. Precisamos redobrar o cuidado ao eleger candidatos que assumirão a Câmara e o Senado Federal. É desanimador ver os debates televisivos, mas como cidadãos não manipulados e conscientes quanto ao nosso papel, precisamos votar de forma coerente, com a situação que o país enfrenta.

BIBLIOGRAFIA

DEMO, Pedro. Pobreza política. São Paulo: Autores Associados, 1996

MACIEL, Marco. Política e cidadania. 2ª ed. Brasília-DF; Senado Federal, 2007

MONTESQUIEU, Espirito das Leis. São Paulo: Martins Claret, 2004.

SHAPIRO, Lawrence E. Inteligência emocional: uma nova vida para filho. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

VIEIRA, Luís Vicente. Democracia com pés de barro. Recife: UFPE, 2006.