Colocações e nada mais.

Pra que serve a tristeza?

Se usar o anagrama que é comum na sociedade de hoje,será muito provável que você não verá nenhuma utilidade da tristeza.A tristeza é considerada inútil e todos querem mata-la.O filósofo cético Roger Scruton tem razão em definir que estamos vivendo em uma cultura que celebra todo tipo de destruição.Na cultura da destruição,a sociedade é doente,e se vê comum uma opinião pública que anseia em buscar coisas úteis e nada mais.Trata-se de uma ganância contemporânea.Scruton fala que um bom exemplo disso é a considerada arquitetura que se instala em grandes metrópoles.A coisa mais comum de se ver são construções de prédios inexpressivos,que futuramente serão revendidos,ou destruídos para ter um novo prédio,ou simplesmente eles ficaram lá abandonados.É muito comum ver isso no centro de São Paulo.

Por que é trágico?Por que é uma ganância mesquinha que tenta acabar com as imperfeições humanas.A tristeza é considerada inútil pelo simples fato de que estamos tentando criar um homem perfeito,um admirável mundo novo de Aldous Huxley.Criar o homem perfeito é utópico,e naturalmente vemos da história que quanto mais é sedento a idéia de utopia num nicho comportamental,mais comum é o caminho da destruição.No mundo de hoje,falam entre os quatro cantos do mundo que devemos apenas focar nas coisas úteis.Isso é difícil de definir,na mesma maneira que isso moldura uma sociedade fria,sem graça e sem arte de valor.Viver é essencialmente desperdiçar,é sentir a água do mar fugir em sua rígida mão.

Mas a tristeza tem a sua utilidade?Como disse antes,o modo de ver as coisas de uma maneira útil e inútil pode prevalecer esse delírio modernista,mas as vezes,nas tripas do desespero,onde uma pessoa fica a mercê da solidão,sofrendo até a morte,ela pode fazer essa pergunta.Ela deve perguntar”por que a tristeza existe se ela dói tanto?”.A resposta possível depende do seu senso de valor.Você é triste por viver.O homem é um animal triste.A pergunta certa é se a vida é útil mesmo.Se vale a pena passar por esse reino de sangue e de lágrimas.A felicidade?Ela é passageira,é uma droga se você ficar viciado.A questão é que não dá pra tirar a tristeza,na mesma maneira que não dá pra tirar o seu sofrimento.Quando você tenta tirar,a tedência é piorar.Considero o mercado de auto-ajuda algo ruim demais,por ter um material tão barato e tão cafajeste.A pergunta exata é se vale a pena "ser".

Então não dá pra fugir…

Não dá pra fugir,pois é o nosso gene,e a nossa condição.A busca do sentido é natural,fruto da agonia.Mas acho que no decorrer na vida,fica nítido o quanto ela parece não ter nenhum sentido.A idéia que o mercado de auto-ajuda promove é o suficiente para aliviar os nossos corações:no fim,se você fizer tal coisa,isso pode fazer com que a tua vida seja boa,ou ruim.Na minha visão,o destino é moldurado por Moiras.O que são as Moiras?Três mulheres velhas,feias,que moldura o destino dos deuses e dos homens,ah e elas são cegas...isso é importante.

Na visão de Maquiavel,a vida é caótica,sem sentido,desprovido por atividade divina.Você pode ser bom e se fuder,ou você pode ser ruim e não se foder,ou ao contrário.Única coisa que podemos fazer(na visão de Maquiavel) para sobreviver é entender o padrão do comportamento humano,e pra isso é necessário um certo fator histórico em suas costas.Entender o que uma pessoa pode fazer numa determinada situação,onde os discursos e a formalidade são jogadas de lado,aparecendo apenas o animal humano em sua síntese.

Ser ou não ser…

Isso é uma pergunta que depende mesmo do seu senso de valor.Acho que o inferno de Cioran é que não dá pra voltar atrás,atingido um certo nível melódico de sofrimento.Por que?Em um certo momento,não dá pra não ser,quando a questão é não nascer.Você nasceu,e pronto,já esta você e a vida, frente a frente.A eternidade apenas aparece nesse sentido,para colocar a sua cota de culpas e pecados em cima de suas costas.Não dá pra desqualificar os teus atos,até mesmo os mais insignificantes.Quando Hamlet descobre que o seu próprio pai foi morto pelo seu próprio tio,pronto,já era.Não dá pra desfazer aquela informação,e tão pouco ia dar pra desfazer o funeral de Ofélia.O que pode fazer seria o fim da agonia,como Camus assumiu,que seria o suicídio.Mas a tragédia já esta em seu feito,e em sua estrada.Você já nasceu,já fez ou não fez alguma coisa,se espalhou com os outros,matou ou reviveu alguns sonhos,cometeu pequenos pecados,se entregou ou não a uma paixão.Dá pra aniquilar o seu ser,mas não dá pra voltar,ou esquecer que um dia você já foi um ser...

CaiqueM
Enviado por CaiqueM em 14/10/2018
Reeditado em 15/10/2018
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