O PREGADO

“Poder é uma carapuça de solução para tudo”

O homem suspeita que o poder possa o corromper, mesmo assim o homem quer o poder para tentar melhorar o que está errado na sociedade, logo o homem quer se corromper para mudar algo. Ironicamente o homem sabe que o poder corrompe, não há inocência nesse caso, por isso eu alerto, sempre desconfie da pessoa que almejar o poder com o discurso de que irá usa-lo para mudar o curso das coisas, tal pessoa vai apenas abastecer seu ego, sua ânsia e ganancia de altivez, sua importância sobre os demais. Não aceite quem veste a carapuça do poder com a desculpa de que vai fazer alguma coisa por você...

No livro Cantiga de Ninar do escritor Chuck Palahniuk, vemos a forma do poder que já triturou insanamente a sociedade ao longo da história, quando o protagonista descobre uma cantiga de ninar que ao ser lida mata quem quer que a escute, aqui a metáfora se aplica, o poder é a cantiga que todos querem em prol de algo que os favoreça, cada pessoa procura o poder para tirar alguém do seu caminho, a cantiga de ninar que mata, quantos poderosos já tiraram alguém do seu caminho com esse método? As pessoas desejam a cantiga de poda para usar ao seu bel prazer. O poder é um tesouro maldito que seduz. Edmund Burke dizia que quanto maior o poder, mais perigoso o abuso.

O poder é deletério, o poder corrompe, conspurca, apodrece, degrada, ulcera, desvirtua, domestica. O poder é como os príons na doença de Creutzfeldt-Jakob, uma proteína que infecta e forma bolsões envenenando os neurônios e trazendo demência.

O historiador John Emerich Edward Dalberg-Acton dizia que o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente, as pessoas se prostituem moralmente em troca de poder, poder é “eu” em detrimento do “nós”, segundo o suíço Carl Gustav Jung, onde o amor impera, não há desejo de poder, onde o poder domina, há falta de amor, onde há poder não há desenvolvimento das três chamas do amor Raya, Ahava e Dod. Abraham Lincoln supunha que quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quisermos por a prova o seu caráter “dê-lhe poder”. Aos que se curvam ao poder deveriam conhecer Etienne de La Boétie ou Guy Debord, a servidão voluntária.

A sede de poder implica a ganancia, implica o status, implica impor seus desejos sobre os demais, arrogância, a palavra “arrogante” tem origem no Latim e descreve a distorção da personalidade de exigir de outrem um merecimento o qual a pessoa não merece.

Há um conto alemão dos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm , que diz que um peixe chamado “PREGADO” (Psetta Maxima) que acabara de ser pescado, convence o pescador a liberta-lo dizendo que era um príncipe e que havia sido condenado a viver na forma de um peixe, o pescador apavorado o liberta, já que nunca na sua vida havia ouvido um peixe falar. Ao chegar em seu casebre contou o fato, sua mulher Ilsebill logo o perguntou por que o homem não fez um pedido para que o peixe o concedesse um desejo, a mulher fez o pescador voltar a praia no outro dia e chamar o peixe e exigir um pedido de uma casa nova, o peixe concedeu-lhe o desejo, a mulher do pescador não contente fez o marido voltar e pedir um palácio ao peixe, o Pregado realizou o desejo, dia após dia a mulher mandava o pescador exigir muitas e muitas coisas do peixe que as concedia, até que um dia o peixe os tomou tudo e fez voltar ao casebre paupérrimo para que a mulher entendesse que toda a sede de poder, todo o excesso e toda a ganancia um dia será punida...

"Há um animal abjeto a vicejar em algum lugar dentro de mim. Tento mantê-lo oculto, subjugado, enquanto ele tenta se libertar. Não sei o que é, nem o que deseja destruir, talvez seja eu mesmo" (Joseph Heller)

Eden Mendes
Enviado por Eden Mendes em 07/12/2018
Reeditado em 19/12/2018
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