Blood, Sweat and tears (Resenha hit BTS)

A música Blood, Sweat & Tears (BTS), retrata o amor como possessão e aprisionamento de subjetividades, tanto a do ser que ama quanto a do objeto desse amor, também como uma condição inelutável para a realização pessoal, quiça o sentido maior que permeia todas as outras realizações e lhes atribui sentido e materialidade. Em linhas gerais a letra diz:

"Meu sangue, suor e lágrimas Leve-os todos. Meu corpo, mente e alma. Saiba perfeitamente que sou todo seu. Antes da sua doçura há um gosto amargo..."

Amar a liberdade e tentar ser livre é sinônimo de profundo autoconhecimento e a certeza de que é preciso compartilhar o que se sente, mas não de forma dependente. Porém, quando se sente que o que se tem de “seu”, objetiva e subjetivamente, está a disposição de um outro, já não há uma relação de compartilhamento, mas de posse e submissão. Essa submissão ou senso de pertencimento pode ser engendrada pela percepção de uma posse real ou aspirada, imaginada. Aqui vê-se que o aprisionamento não pode prescindir do seu objeto para externar o que sente e é antônimo de estar em si mesmo e ser igualmente feliz e bem-aventurado mesmo quando não há um objeto com o qual/quem compartilhar tais sentimentos.

"Não importa o quanto doa, torne esse laço mais forte. Até que não possa doer mais. Tudo bem me embriagar. Por que agora eu bebo de você..."

Ao apreendermos nossa consciência interior, nosso âmago, o amor deixará de ser uma prisão e um aprisionamento de subjetividades. Para apreender essa consciência ou âmago interiores, primariamente é necessário estar presente em si mesmo, ser para si mesmo e lutar contra a fragilidade tácita do pertencimento, gerado pela insegurança, que é suscitada por não estarmos em nós mesmos ou estarmos diluídos em nossa essência. O aprisionamento se valida na insegurança e no pertencimento e não na afirmação do ser.

"Não importa o quanto doa. Me aperte mais para que eu não possa escapar. Viciado e inconsciente nessa prisão que é você. Não posso adorar ninguém mais além de você..."

Não se pode escapar facilmente ao apego, ele tomará sempre novos formatos. Ele está no ser que se sente aprisionado e volta-se para o exterior para externar a contrariedade de que não se luta contra a prisão em si, por que ela é interior, o que equivale a uma atuação auto-imune. Tenta-se, sobretudo, compreender por que ela existe, e a causa profunda é: por que você não está presente, a prisão está.

"Mate-me com cuidado. Feche meus olhos com o seu afago. Eu não poderia rejeitar.

Eu não posso mais tentar escapar. Uma tentação e uma conexão para um mundo além. O mundo maligno do qual eu não quero mais fazer parte. Meu sangue, suor e lágrimas. Mente, corpo e alm. Eu te quero muito, muito..."

Dentro, o ser próprio está tão ausente que se apega a qualquer coisa a fim de se sentir seguro. No apego, no pertencimento e no estabelecer do aprisionamento se faz a fuga em direção ao outro, o qual jamais poderá suprir a sua própria ausência e o delegar de seu âmago. Quando há segurança no ser, quando se sabe quem se é, o que é esse ser dentro, é produzida a condição de não apego, entenda-se "não apego" como abordado no inicio e não desapego que remete apenas a uma máscara do pertencimento revestida de náusea existencial rasa. Portanto, a pergunta que nos ficaria, quiçá, seria: o amor na contemporaneidade será uma condição para a realização pessoal ou o aprisionamento de subjetividades?

Thais Paloma
Enviado por Thais Paloma em 14/04/2019
Reeditado em 07/07/2019
Código do texto: T6623504
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