A rejeição ao esforço e o apego ao ressentimento

A recente onda de interesses “importantíssimos da vida” veio à tona com a propaganda já esquecida da consultoria de investimentos Empiricus Research por meio da jovem rica Bettina Rudolph. Isso porque, com apenas 22 anos, esta afirma ter acumulado um patrimônio de “1 milhão e 42 mil reais ”, Bettina explica como isso foi possível: “Eu comprei ações na bolsa de valores", depois, complementa dizendo sua trajetória no mundo das finanças, que começou com R$ 1.520 e chegou ao patrimônio atual após apenas três anos ”. Não é de espantar o porque da repercussão de tudo isso, realmente soa como algo muito fantasioso e mentiroso (como de fato fora comprovado posteriormente pela própria Bettina, e por vários especialistas em finanças) que alguém consiga ganhar muito dinheiro em pouquíssimo tempo, investindo um valor que por mais que seja pouco, não é acessível a muitos brasileiros.

Porém, o meu interesse no texto não é falar da desigualdade (que não deixa de ser um tema importantíssimo, e por sê-lo merece uma dedicação exclusiva), mas falar de uma nova onda de jovens ressentidos e imediatistas que impera no mundo moderno. A onda de ofensas que a Bettina recebera pela infeliz propaganda reforça a triste percepção do ressentimento que impera na sociedade. Alguns chegaram a alegar que o repentino aumento do patrimônio da moça fora devido a sua “beleza”, argumento bastante chulo e simplório por se tratar de ações, já que em ações a aparência não ajuda em nada, tudo se resume a números e gráficos.

A onda de ofensas a Bettina nos traz uma clara identidade destes jovens “conectados”, e tal identidade é o “ressentimento”. Percebe-se que a indignação dos internautas não fora com a “mentira” da propaganda, mas com a verdade “cruel” de que uma moça tão jovem tenha tanto dinheiro acumulado. Isso gera ódio, alguns a chamam de “filhinha de papai”, como se nenhum deles o fossem, afinal, é fato que pais ruins existam, mas numa família minimamente estruturada, todos os filhos são “filhinhos”, mas desculpe-me a redução da ideia, sei que a ofensa não é por afeto, mas por dinheiro.

Como diz o filósofo Olavo de Carvalho “Brasileiro é dinheirista” e nada mais atormentador para um jovem do que alguém com mais grana do que ele. Basta ver o ódio que há nas redes sociais, e o moralismo que há nas ideias, onde os mais desgraçados adoram ironizar o rico dizendo que estes amam o dinheiro, enquanto aqueles dizem valorizar o que realmente importa, ou seja, o dinheiro que não tem, tirando a ironia, dizem amar aquilo que o dinheiro não compra.

Sem generalizar, sabemos que todo mundo é muita gente, então é preferível dizer que há sim uma onda de jovens ressentidos, que apesar das desigualdades factuais do país, a inércia dos desgraçados é de fato sim assustadora. Tirando a balela ideológica da luta de classes, é perceptível nos jovens a recusa a tudo aquilo que implica esforço e o apego moral ao ressentimento. A propaganda da Empiricus repercutiu tanto, porque a ânsia para que tal coisa fosse verdade está intrínseco na repulsão a jovem Bettina, o ódio dos internautas é porque deveria ser verdade que é possível por meio de um pequeno esforço poder alcançar números expressivos, e que o ódio oriundo de um falso moralismo é um alerta para pensarmos em que tipo de sociedade estamos vivendo.

O ressentimento impera no mundo moderno porque as redes sociais escancararam aos nossos tristes olhos que a revolução do proletariado é utópica porque os proletariados anseiam o mesmo que os seus patrões, serem donos dos meios de produção? Não. Querem apenas conseguir muito dinheiro para poder causar inveja aos que não tem, talvez, o menos errado nessa história seja o Paulo Freire, o oprimido anseia estar no lugar do opressor, porém o que nenhum destes intelectuais pensaram fora que a revolução jamais será possível porque os oprimidos jamais almejaram estar no lugar do opressor, estes não querem mais nem o posto de proletariado (basta ver a onda de jovens que não almejam trabalho algum lutando pela previdência social, quem irá contribuir? Ué. As grandes empresas. Isso é direito.), ou mesmo, o lugar do opressor, querem apenas o “dinheiro”, e como não o tem, querem apenas um motivo para se julgar oprimido e, com isso, choramingar porque não é possível vencer sem lutar.

Sêneca certamente continua mais moderno do que estes, “enquanto se espera viver a vida passa ”, para este uma vida longa não está atrelado à quantidade de tempo vivido, mas a qualidade de vida, um velho poderá ter uma vida curta, quanto um jovem pode ter uma vida longa, não há regras, porém a “liberdade financeira” escravizou tanto os opressores quanto os oprimidos, já que a quantidade suprime qualquer qualidade almejada, sem contar que qualidade de vida soa aos nossos ouvidos como “dinheiro”.

O foco não é mais a revolução, mas a ofensa e o ódio a qualquer tipo de esforço.

Bettina nunca mais minta para nós! Da próxima vez, não desminta os “fatos”.

Talvez seja por isso, que o sonho de muitos brasileiros seja ganhar na mega sena, e o ressentimento é pelo motivo de que para ganhar na mega sena é necessário muito mais que sorte, é necessário apostar.

As pessoas deixaram de buscar o protagonismo da própria história para choramingar nas redes sociais uma propaganda mal feita, um filme mal produzido, um político mal articulado ou mesmo uma roupa cafona de algum artista, tudo isso para entreterem seus próprios fracassos.

O ódio dos ressentidos vem da impossibilidade de colherem aquilo que jamais plantaram. Os partidários políticos adoram abraçar essas “criaturinhas”.

Luciano Cavalcante
Enviado por Luciano Cavalcante em 17/05/2019
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