OS SEGREDOS E RAZÕES DO CORAÇÃO

Pascal, o grande cientista e também filósofo francês, já dizia que o coração tem razões que a própria razão desconhece. Às vezes, o nosso coração, com suas razões não tão bem conhecidas, guarda segredos que se mantêm inacessíveis até para nós mesmos...tão inacessíveis, que às vezes chegamos a esquecer de nossas potencialidades, de nossas reais necessidades, de nossa missão e dos sentidos que podem definitivamente orientar a nossa existência.

E o que dizer sobre as relações que buscamos manter com outros seres humanos? Será que é possível entendê-los e compreendê-los, mesmo quando dificilmente conseguimos obter um entendimento a respeito de nós mesmos? Até onde estamos dispostos a revelar as verdades de nosso ser e mostrar realmente quem somos para aqueles com os quais estabelecemos vínculos afetivos e emocionais?

É interessante ressaltar que o poeta é aquele que melhor sabe resgatar as grandes verdades do seu ser (e porque não dizer também de seus semelhantes?), revelando com profundidade, espontaneidade e maestria um amalgama de estados, vivências e sentimentos que só podem brotar de alguém que está sempre disposto a ter um coração sincero e enamorado.

Certamente é o poeta o mais versado para compreender com mais propriedade os dramas humanos e a vida trágica de todo ser existente que habita a terra. Não só faz disso a matéria-prima de suas composições, como também manifesta nas suas poesias todas as inquietações, bem como todos os conflitos de sua e de todas as épocas existentes, pois é ele quem mais se permite ir além de suas preocupações cotidianas para descer nos submundos mais dantescos da condição humana atingida pelos cataclismos da culpa, da angústia, da morte e do sofrimento.

Além do mais, só um coração sensível, ou melhor, só um coração de poeta, para conseguir ordenar, no caos de tantas ideias e obsessões, os seus conteúdos internos numa obra-prima na qual está presente e condensada as dores, conflitos e realidades comuns a toda humanidade. Pelo esplendor da poesia e pela riqueza interior do poeta, podemos ver, para usar algumas palavras do filósofo Cioran, o particular se alçar ao plano do universal, onde o que está presente é a verdadeira face de um ser humano em toda a sua nudez.

Na realidade, desvendar, averiguar, descortinar com clareza os nossos segredos, seja para nós mesmos (e assim obtermos uma autocompreensão), seja para uma outra pessoa, não é obviamente uma tarefa fácil, ainda mais sabendo que as razões de um coração podem ser as mais variadas e também as mais confusas para serem ordenadas e expressadas na linguagem humana. São essas razões internas- as razões profundas do coração humano temperadas pelas nossos anseios-, as que melhor sabem desafiar a lógica da razão científica ou qualquer outra razão na sua obsessão de tudo explicar com clareza e objetividade. Além do mais, são elas as que nos tornam mais suscetíveis ao ímpeto das grandes paixões; mas, por outro lado, nos tornam mais fortes para nos entregarmos ao caminho da transcendência do amor universal, como aquele de natureza mais etérea e elevada.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 01/07/2019
Reeditado em 16/07/2019
Código do texto: T6686036
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