Breve ensaio (ou das incompreensões de cada um)

Quem me dera saber suas vontades. Não sabê-las, não me faz insensível, nem egoísta. Assim, me parece ser, a essência do respeito ao outro. Não defino as pessoas seguindo meus paradigmas. Posso errar. E ciente dessa certeza, me abstenho dessas avaliações. Seguir seu caminho; é tudo que posso dizer. O meu, traço a cada passo que dou. Às vezes, obstáculos aparecem, porém, para superá-los, preciso entender que passo devo dar. Se isso é vacilo, indecisão, não sei. Só não posso andar com os passos que não são meus. Disso se segue, e se conclui, que entender a individualidade de cada qual (assim, como a liberdade) - um valor, em si, razão do ser humano - não exclui do Outro a possibilidade de suas contribuições. Somos seres sociais e, por isso mesmo - ainda que, seja a individualidade, como disse, um valor em si fundante do ser humano - nossas "trocas" contribuem para nossa formação/personalidade. Todavia, essas contribuições/compartilhações, deixam de sê-las, quando um - ainda que tomado das mais nobres intenções - esquece que não é sua prerrogativa de que o Outro siga suas crenças, suas "novas" descobertas, convicções ou mesmo avaliações. Querer isso, faz deste, um autoritário; um déspota. Essa atitude per si, desconstrói a convicção de que, se vivemos em sociedade e assim nos relacionamos, há de se reconhecer a interação ( e as diferenças que disso denota) como a pedra fundamental desse convívio. Isso exige que o outro entenda que cada qual vista a roupa segundo seu tamanho. Seguir seu caminho. É legítimo. É justo. É necessário. E por reconhecer que a vida é esse emaranhado de interações sujeitas às mais variadas interpretações, não reputo opiniões alheias às minhas, como uma postura deliberada, nem intencional, de indisposição cognitiva. Recebo-as como um contributo, um adendo às possibilidades de novas perspectivas e, quem sabe, um devir, um porto onde possa ancorar. Todavia, um porto só é um porto, porque nele chegam barcos que trazem sonhos e frustrações. Sendo o porto um lugar de partida e de chegada, não resta outra possibilidade, senão preparar o leme e seguir viagem mar a dentro.