Curso de Filosofia da Vida Prática - Parte 9

A ilusão joga o homem para dentro do sofrimento porque rouba dele a visão correta da vida. Ao pensar e acreditar que a felicidade reside no gozo exclusivo das coisas materiais, da satisfação dos sentidos, ele descarta a busca e se perde na corrida desenfreada pelo bem estar pessoal e não consegue perceber que há falhas nesse modo ilusório de buscar a felicidade. Contudo, há homens felizes, realizados com o que têm e com o que são.

A filosofia de vida não parece unificada dentro de uma tipologia básica; ela é versátil e individual. Contudo, remete ao espírito em cem por cento dos casos. É esta predominância de valores, esta tipicidade, que distingue a filosofia. Daí nasce a noção de espírito como sendo o elemento básico da vida. Acreditamos que o homem é espírito acima de tudo. A felicidade deve forçosamente advir de sua evolução. Os homens considerados santos levaram ao auge essa busca e sentiram-se realizados. Buda afirmou ter encontrado o caminho do meio e, por isto, tornou-se iluminado. Podemos concluir que a iluminação advém do equilíbrio entre espírito e matéria. A dificuldade então está em encontrar o equilíbrio dentro do desequilíbrio que é o estado atual do mundo.

Pode-se entender como felicidade um estado de completa adaptação aos rigores da vida; à condição do mundo tal como ele se apresenta. O mundo não pode se transformar por si só; existem ciclos que se alternam, resultantes de uma força ou de um poder que foge à compreensão ou mesmo ao domínio do homem comum. Por isso a busca se faz necessária. Ao colocarmos o homem como centro desse universo, estamos lhe atribuindo um papel fundamental. Tudo que está centralizado age diretamente no todo e recebe depois sua influência. Mas, por mais que se altere o todo não se pode alterar a lei que o rege, donde vem o conceito de divindade.

Têm-se reafirmado, através dos séculos, que há uma força invisível e poderosa por trás das ocorrências da vida no que tange principalmente á evolução do homem. O argumento de que o criador não deixaria a sua criatura sofrer perde para outro argumento mais forte: o homem é um ser livre e pode traçar o seu próprio destino. Sendo assim, originariamente, não existe o que se dá o nome de sofrimento. Podemos chamar de Deus ou de Pai a sabedoria que colocou o homem no mundo. Deu-lhe um lar com todo o conforto, implantou em seu cérebro uma inteligência única e superior a tudo. Se desde o princípio ele a tivesse utilizado diversamente do modo com que a utilizou a situação do planeta seria bem outra.

O homem realmente plantou o seu destino e o tem colhido até os dias de hoje. A guerra, a fome, as grandes catástrofes mundiais que dizimaram populações têm origem no uso indiscriminado do livre arbítrio e no abuso do seu poder como ser superior. Na verdade, ele transformou em desvantagem a grande vantagem outorgada, o que pode ser a causa final da sua extinção. Todas as coisas materiais são transitórias; o que nasce está fadado a desaparecer um dia. Mas, será a morte o fim de tudo? O que existiria além da matéria?

O argumento mais forte e convincente para descartar a possibilidade de alguma espécie de vida após a morte é o de que nunca houve quem dela retornasse para nos dar a exata explicação do que ocorre então. O que dá ao homem a crença de que ele seja eterno não é o testemunho de outro homem, mas a sua própria intuição. Fisicamente falando é óbvio que sofre a matéria diferentes transformações que a levam a diferentes estados.

Da mesma forma que passa a água pelo estado líquido e, dependendo do agente transformador, torna-se gelo ou vapor, volta ao seu estado líquido e assim num ciclo perpétuo e contínuo, nós, ao morrermos, daremos origem a outras formas de matéria por abrigarmos, em nossa constituição física, todos os elementos químicos formadores da vida. Daremos vida a outros seres. Nosso carbono enriquecerá o solo que vai nutrir a planta indispensável à proliferação do oxigênio, sem o qual nada seria possível.

Contudo, a ânsia e a incerteza permanecem no coração do homem. Esta ânsia pode ser aplacada pela conscientização da sua real natureza. A filosofia surgiu a partir da inquietação quanto aos mistérios da existência. Tudo o que se escreveu ao longo dos milênios da história humana e o que ainda se escreverá, tem por base essa busca. Quem achar que poderá encontrar na filosofia uma resposta definitiva as suas indagações terá tudo para sentir-se perdido e ludibriado. Não há respostas na filosofia; buscar o sentido da vida já é o caminho do homem.

A filosofia é um conjunto de ideias nascidas nas mentes dos homens que aprenderam a pensar sobre a vida. Mais do que uma doutrina ela é um guia para o estudioso. Ela não esclarece, ela ilumina o caminho dos que buscam o esclarecimento. O que pode sugerir a filosofia quando à existência ou não de uma vida inteligente apos o aniquilamento do corpo físico é que transcendamos a ideia desse corpo físico como sendo o homem real. Apenas a conscientização de que o homem não é corpo físico pode sustentar e superar o fenômeno morte. Este diferencial de atitude põe por terra toda e qualquer limitação; já deixa de ser uma atitude de acreditar ou concordar para uma atitude de conscientização.

95% de tudo que se passa no nosso interior dizem respeito ao subconsciente que é a mente controladora de todas as ações que empreendemos. Explicando melhor, é o mundo invisível que move o mundo visível. Embora, na maioria das vezes não deixemos transparecer, é certo que projetamos no mundo externo o conceito que fazemos de nós mesmos. Desde a escolha da família, dos amigos, passando pela profissão e culminando com o destino, tudo é projeção de nossa mente.

A ciência vem buscando provar que a morte não afeta a mente; que esta continua sua jornada depois de desintegrada a matéria chamada corpo carnal. Partindo desse princípio, caso isto seja verdade, temos aí a sequência da individualidade. Esta é uma área vasta, praticamente inesgotável onde pululam muito mais conjeturas do que realmente verdades. O que é fácil é concluir que é o homem ainda uma criatura atrasada quando o assunto é o conhecimento de si mesmo.

O que é inegável é a superioridade humana na hierarquia das raças. Esta é uma característica fundamentalmente significativa na qual podemos nos apoiar enquanto buscamos resposta ao nosso inquietante anseio existencial. Seria tudo muito mais fácil se simplesmente pudéssemos nos lembrar de cada vivência passada, mas creio que, se não nos foi dada essa capacidade é que alguma razão deve existir. Se houvesse um meio infalível de cada um conhecer o que foi sua existência no passado, o que fez, onde andou, quais foram as ações que praticou, se foram para o bem ou para o mal isto mudaria todo um comportamento. Mas a sabedoria do criador atuou muito bem nesse particular ao não permitir um conhecimento automático de vidas passadas.

Não pretendo entrar na seara religiosa, mas o que a religião vê como oportunidade de elevação espiritual, redenção dos pecados e vida eterna, a ciência analisa sob a ótica da lógica. Partindo do princípio de só acreditarmos naquilo que só podemos comprovar através dos órgãos sensoriais, fica muito difícil aceitar qualquer argumento que tem por base a fé. Creio que seja esta a palavra chave: fé. Vive-se o agora impregnado de esperanças, mas esperanças que dizem respeito exclusivamente ao imediato. Quando falamos de imediato queremos dizer o período de uma existência material, em que se considera ter passado a existir no momento em que se deixou o ventre materno e desaparecido ao descer para uma cova escura e fria.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 16/11/2019
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