'NA ESCUTA?'

Eu preciso escrever.

Durante a semana inteira eu quis escrever. Pôr para fora o que eu sentia; expurgar, liberar, libertar os demônios, a Escuridão que habita em mim. Durante a semana inteira, eu não consegui.

'Não vão ler', era o que ouvia...de mim mesma ou não. Não importa. Meu cérebro (ou seja lá o que for) 'entrou numa' de me subestimar, diminuir. Como se já não houvesse pessoas demais ao meu redor com a mesma função.

Não. Minto. A pior dentre todas sou eu. Eu mesma. Eu não preciso de inimigos, pois eu posso (e quero) acabar comigo a todo instante.

Viva com o inimigo. More com o inimigo. Habite o mesmo espaço que ele. Doe o seu corpo para ele e ele tomará conta de tudo. POUCO ME IMPORTA SE IRÃO LER. Grito para eles e eles não me ouvem. Alimentam meu ego conquanto massacram minha autoestima. Ele não me deixa ver o que quero ver. Quando me olho no espelho, só enxergo o pior, então me entristeço ou a raiva toma conta de mim.

Aos 50, julguei estar mais evoluída, mas a vida me deu um chute na bunda. E minha bunda, tadinha, tão longe da perfeição...

Aos 20, eu era uma idiota. Uma idiota feia que se achava o máximo! Um ser petulante que...

EU NÃO QUERO FALAR DISSO, PORRA!

Quero falar do que sinto. Da falta de ar, do desespero silencioso em buscar o ar por dias inteiros sem poder demonstrar o que sinto. Falar do que sinto com outro alguém porque...não há outro alguém com quem conversar. NÃO ME OUVEM. Poucos sabem ouvir e, quem o faz, está longe de mim, a quilômetros de distância e eu ainda não o conheço. Não me ouvem porque não falo. Cansa falar, expôr, mostrar, externar, implorar, suplicar por ajuda e não receber, então, calo.

Meus olhos mostram o desespero de buscar o ar. Meus olhos mostram a tristeza que me rasga por dentro, no entanto, mesmo que me olhem nos olhos, eles não me enxergam. É mais fácil me ignorar. Eu me ignoro. Por que fariam diferente?

Eu não me amo. Eu não gosto de mim. Eu não me admiro tampouco sinto orgulho do que sou...do que me tornei. Eu tenho compaixão por mim.

PIEDADE NUNCA! NÃO SE ATREVA A TER PIEDADE DE MIM! Sou forte como o sol.

Ainda procuro pelo ar. Estou aqui, em casa, no meu quarto. Ar condicionado ligado, um violoncelo ao fundo e minha cama macia e limpa, longe das trevas por onde transito onde trabalho. Longe deles que me espionam, me incitam a cometer erros. Longe deles que me conhecem e, por isso, me manipulam. Encontram brechas...

Não sei se vou sair disso viva ou sã. Não sei se quero continuar.

Não quero ser forte o tempo todo. Cansa ser forte. Quero me recostar num peito amigo. Quero permanecer em silêncio enquanto ouço o coração dele batendo por mim, para mim. Um coração batendo junto ao meu.

'NÃO PODE! VC NÃO MERECE!'

É o que ouço. Então, inspiro sem completar a respiração. É exaustivo, sufocante não completar a respiração, puxar o ar pela boca. O ar que entra com dificuldade, aos poucos...estou exausta. Houve uma época em que cheguei a pensar que a Felicidade me pertencia, até levar um pé na bunda e ficar sozinha.

Outra vez, a minha bunda...

Tomei 3 comprimidos de 2 mg. Não. Não tomei. Deixei dissolver embaixo da língua como o psiquiatra otário mandou. Um psiquiatra mais doente do que eu. BURRO! Eu não sou louca. Eu me faço de louca, baby. Como pode menosprezar a moça?

Isso é uma outra história.

Ah! Os 'tarja preta'!

Eles já não surtem mais efeito. Meu corpo pede por uma quantidade maior. Eu rio. Rio porque eles insinuam que devo tomar o quarto ou o quinto. "Deixe dissolver", eles me falam, aqui dentro. Eu sorrio e lhes digo que quem manda, aqui, ainda sou eu.

Essa batalha interior cansa, desgasta, adoece. Mata. Mas quem se importa?

Quero descansar. Minha alma diz que devo me controlar. Em meio a essa guerra, só quero dormir. Dormir, dormir, dormir, dormir, dormir e correr.

VOLTAREI A CORRER AMANHÃ. O ortopedista está enganado. IMBECIL! Voltarei a correr sim! Não aceito outra opção. Não aceito. Não aceito que me tirem um dos pouquíssimos prazeres ao qual ainda tenho o direito. Creio ser o único.

Prazer.

Prazer, sexo, homens. Longe de mim. Tão longe...

Perdão. O ortopedista não tem culpa. BABACA é aquele que me levou ao ortopedista. IMBECIL é o cara que pagou pela consulta ao ortopedista. Ainda espera que eu volte a falar com ele...

Depois de tudo? VÁ PRO INFERNO!

NUNCA MAIS VAI ME TOCAR, SEU MERDA!

Estou doente. Surtando e, quando surto (o que tem ocorrido com uma perigosa constância nos últimos meses), preciso ter o controle absoluto para não me matar ou ferir o meu semelhante ou a mim mesma, mas ninguém nota porque sou forte e me implodo a cada surto. Engulo a raiva, o ódio, a repulsa, as vozes, as visões, o medo, o pânico, a vontade em sair correndo sem olhar para trás. Correr, abrir o portão preto e respirar. Preciso respirar. A respiração não completa. Alguém se importa?

Não.

JOGAR UM COPO CONTRA A PAREDE...Uau! Seria fantástico!!!

Se eu fosse do tipo "descontrolada com alguém me amparando", certamente já não haveria copos aqui em casa. Mas, ainda que eu me descontrole, preciso me controlar, então eu quebro a colherinha de plástico enquanto a lavo. Eu a PARTO ao meio com um sorriso no canto da boca. Por pouco, quebrei a porta do armário da cozinha, mas é caro o conserto. Não há conserto. É uma armário velho, logo, terei de comprar outro e isso, eu não posso. Então, eu interrompo o surto porque sai mais em conta do que engolir o horror que sinto ao me ver sozinha, perturbada, angustiada durante tanto tempo do que pagar por estragos causados pelo ataque histérico de uma mulherzinha barata de 50 anos, sem homem, sem macho, sem amigos...

Sem abraços.

VC.NUNCA.MAIS.VAI.ME.ABRAÇAR.

ENTENDEU!? Nunca mais vai encostar seu dedo sujo em mim. Nunca. Nunca. Nunca. Nunca. Nunca. Nunca.

Quero vingança.

Eu sei. Isso é patético, dramático, brega, bizarro, tosco, ridículo...

Não me importo. Eu quero.

Talvez se vc tivesse me atendido, doutora. Se vc tivesse marcado aquela consulta, naquele dia em que te implorei, supliquei, pedi por socorro...talvez, eu não tivesse que engolir a massa negra formada por meus atos e pensamentos. Talvez, eu estivesse bem melhor. Talvez, não pensasse em dormir ou sair desse mundo com tanta frequência. Talvez...

Sabe, doutora! Se eu fosse do tipo 'Foda-se tudo porque eu vou pular', eu não estaria aqui, agora, escrevendo essa merda. Eu teria escutado o que eles dizem e tomado a cartela toda. "Dissolva embaixo da língua", eles sussurram enquanto me observo diante do espelho. Tento sorrir...mas não quero.

Eu, certamente, teria partido em outubro do ano passado, doutora. Foi quando eu te pedi, implorei por ajuda. Doutora...doutora. Nome bacana.

Dou.to.ra.

Gosto de vc, doutora. Então, não tenha medo. Durma em paz com seus segredos sujos, os segredos que não guardou.

Eu já tive raiva de vc. Hoje, não mais.

Tenho raiva. Raiva, raiva. Muita raiva.

Voltei a lutar e, na luta, eu quebro a cara dos que me machucaram. É tão relaxante acertar um jab na cara dos filhos-da-puta.

Nossa. Não tô legal.

Vou parar por aqui. Preciso respirar.

Estou longe do portal. Longe do Mal. Do Mal que me contaminou. Agora, ele está em mim.

"Ground control to Major Tom".

Essa frase pertence a uma música da trilha sonora de um filme muiiiiito legal. Acho que vou usar essa frase daqui por diante. É. Acho que sim.

Ground control to Major Tom!

Na escuta!?

Não? Não mesmo?

Ok...quem sabe um dia?

https://www.youtube.com/watch?v=a_uQQBubd3E

21-02-2020

Um horário qualquer

Morgana Milletto
Enviado por Morgana Milletto em 22/02/2020
Código do texto: T6871958
Classificação de conteúdo: seguro