'NÃO SEI O QUE É"

Mas, seja o que for, tem me dado forças para continuar. Em meio ao caos em que se transformara a Terra, o meu mundo ganha cores, ainda que muito sutis.

Não sei o que é, mas, seja lá o que for, tem me feito pensar em usar apelidos fofinhos aos quais eu tinha aversão. "Meu amor", "Querido" são palavras que jamais usara no trato com homens. Para falar a verdade, eu não lido com eles há muito e não tenho vontade algum de voltar a lidar, exceto com ele. Com ele...

Ele que me estendera a mão amiga. Ele que demonstra afeto por mim, além do desejo. Ele que se inquieta quando me ouve chorar do outro lado da linha (Celular tem linha?).

Ele que tem feito de tudo por me manter equilibrada na beirada de um poço profundo onde, lá no fundo, a miséria me aguarda.

Sua mão é forte. Sua palavra é cheia de certezas. Seus olhos são doces...e o seu sorriso é tímido. Como eu fui cair nessa?

Eu, sempre muito fria, reservada, trancada em meu quarto escuro fora tocada por um sentimento que ainda desconheço. Nunca amei antes. Não faço ideia de como se amar.

Em Tempos de Pandemia, a proximidade física me impede de chegar até ele que faz de tudo por mim, à distância.

"Fique tranquila. Vc não está só.", murmura ele.

Deus! Era tudo o que eu queria ouvir da boca de um homem por quem espero há anos. Não. Não sei se é ele ou se este homem, de fato, existe. Aah, mas eu quero tanto tanto tanto tanto acreditar que seja ele.

Eu sei. Há empecilhos. Empecilhos que me fazem quebrar meus próprios códigos de conduta. Códigos que criara dentro de meu mundinho cinza, antes de perceber o que todos viam.

Ele me observara e tentara, por muitas vezes, chegar até mim. Parva como sou, não o notei. Essa sou eu: insegura, baixa autoestima e falta de amor próprio. Três quesitos fantásticos que me cegam diante do óbvio: ele me quer para si. E, à medida que o vejo lutando por me tranquilizar em momentos de total desespero, eu o quero mais ainda.

Não sei o que sinto, mas seja lá o que for, está se fortalecendo e isso me assusta. Não quero sofrer, mas, quero viver. Não quero que sofram por mim, mas quero VIVER!

Há uma vozinha aqui dentro que me sussurra: 'Ele vai te largar', então eu me volto contra ele e o afasto porque é mais fácil, para mim, lidar com a Dor do que com o Amor. A dor já me acompanha há tanto tempo. É tão mais fácil de lidar.

O Amor cria grandes expectativas e, grandes expectativas te fazem subir, subir, subir com um balão de Hélio transparente cravado de estrelinhas brancas. Uau! Este, certamente, é um mundo mega diferente do meu onde não há balões que voam, pois as tempestades são constantes e os raios incidem sobre elas que se rasgam no ar.

Estou em meio a uma tempestade, mas, desta vez, o mundo inteiro está comigo. Desta vez, todos estamos no mesmo barco. Todos estão conhecendo os 'quartos escuros' e os surtos de pânico. Todos os habitantes da Terra foram apresentados às trevas que somente alguns conheciam: os degredados, os transtornados.

Agora, eu estou conhecendo o que muitos já conhecem: um frio na boca do estômago, um farfalhar das asas de borboleta na altura do peito e um irritante sorriso besta grudado em meu rosto quando falo com ele. Ele que faz tudo por mim.

Eu subo na bike, ponho meus headphones e ouço essa música aí!

https://www.youtube.com/watch?v=wCI5E7Vu4_E

Eu sei. Eu sei. Estamos vivendo momentos terríveis, mas, por favor, deixem-me, por segundos, minutos, dias ou meses sentir a Felicidade pedalando ao meu lado, estendendo sua mão até a minha.

Eu preciso acreditar...

Hey, Chefe! (é assim que eu o chamo.). Não me deixa cair novamente. Não solte a minha mão. Não me machuca porque...

eu

não

vou

me

erguer

novamente.

02-04-2020

UMA HORA QUALQUER

Morgana Milletto
Enviado por Morgana Milletto em 02/04/2020
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