A OFICINAÇÃO POÉTICA E OS SEUS BENEFÍCIOS

Parece-me que a Poesia exsurge no seu autor como um dom, talento com propensão e/ou inclinação específica para com o indizível mistério que o Absoluto propõe como cadinho da Criação. "Poeta nascitur" (o poeta nasce), o que equivale a dizer: não é como o orador (ou o escritor) que pode ser "feito" ou construído (orator fit) como nos legaram os romanos à esteira dos gregos, no campo da teoria literária, quando da temática em voga. No primeiro, vige o caos emocional, já no escritor prepondera a razão, através da atuação do intelecto. No entanto, a "transpiração" sobre o primeiro momento de "inspiração" sempre burila a peça de modo a conseguir melhorar esteticamente o poema com Poesia. É a ação do “poeta artífice”. Sim, porque há poemas sem o comparecimento do gênero poético na construção textual, especialmente no lirismo amoroso, ressaltando a doçura da linguagem, a qual, em regra, apresenta-se como um recado ou bilhetinho amoroso, nada mais além. Octavio Paz Lozano (Cidade do México, 31 de março de 1914 — Cidade do México, 19 de abril de 1998), poeta, ensaísta, tradutor e diplomata mexicano, assim se expressa: "(...) há poesia sem poemas; paisagens, pessoas e acontecimentos podem ser poéticos: são poesia sem ser poemas." Acredito que o estudo, o acréscimo de conhecimentos sobre a arte da palavra em Poesia, incorporam-se ao patrimônio cultural e ao talento preexistente (e latente) no poeta-autor. As oficinas de Poesia, tão ao gosto e talante da contemporaneidade, não conseguem transformar um indivíduo sem o dom ou pendores para a Poética num razoável poeta. No entanto, a experimentação sobre o fazer poético original e as ações de "oficinação" sobre o pretenso texto poético, no meu modesto modo de ver, conseguem melhorar o conjunto e fixar a proposta imagética, podendo chegar à Poesia como peça bafejada pela estética. Creio que a grande chave para a Poesia é a descoberta da metáfora e a sua utilização no conjunto verbal, porque esta figura de linguagem ou de estilo é da essência do poético. Sem ela, não há como chegar ao poema com Poesia, porque é esta subversão do sentido original da palavra que congemina e configura o sentido conotativo da linguagem. E o poema (com Poesia) é, fundamentalmente, um contexto codificado que possa vir a entronizar o poeta-leitor nos domínios da imagética ou imagística, recriando o mundo daí refletido. E o poeta-autor, com a sua criação inventada, assente na farsa, na fantasia e no inquietante sonho de felicidade plena, entende que salva a si mesmo e recria o mundo em que está inserido. Poucos criadores artísticos, em Poética, conseguem ver que no dia seguinte tudo está no seu lugar, como dantes. Em verdade, a Poesia como proposta de amor, serenidade e paz é uma via de mão dupla que se completa na cabeça do poeta-leitor, e, possivelmente, através de ações (suas ou não) daí decorrentes. Destarte, a fala autoral é vital desencadeadora da reflexão temática do hoje para o amanhã.

– Do livro inédito OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 02; 2015/20.

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