A PROSA POÉTICA & O POEMA EM PROSA

“Acredito nos poemas em prosa, Amigo velho. Sempre cito o início da obra IRACEMA, de José de Alencar. Fraterno abraço.”.

– Interlocução de Paulo Monteiro, acadêmico titular na Academia Passo-Fundense de Letras, RS. Diálogo através do Facebook, em 08Jun2020.

Sim, também a Prosa Poética me agrada aos olhos e ouvidos, e cujos elementos formadores não exigem do autor maiores dificuldades para o devido aportar no ancoradouro sensório-estético da peça verbal. Esta modalidade literária ainda não consagrada pelos cânones acadêmicos é um conjunto verbal híbrido composto pela junção da poética com a expressão prosaica, o que equivale a dizer: uma peça formada por cruzamento genético de qualidade em imagens, leveza de conteúdo e algum apuro estético. Nesta se pode constatar a utilização de metáforas monovalentes, rasas ou superficiais, as quais são mais fáceis de serem entendidas pelo leitor não iniciado na arte do sentir poético. Em regra, inexiste alta codificação de linguagem nem preciosas exigências de estética, como sói acontecer com o exemplar em poesia vertido em linguagem universal culta e/ou rebuscada, mormente quando presentes metáforas polivalentes, profundas ou verticais, que naturalmente conduzem a uma codificação mais complexa à recepção pelo poeta-leitor quanto ao entendimento e compreensão do conteúdo e sua implícita mensagem, devido à utilização de palavras que elevam o nível de codificação do conjunto textual levando-o ao sentido conotativo da linguagem. A maioria dos poemas de Mario Quintana e de Manuel Bandeira (que são belíssimos, e vários traduzem ricos elementos pontuais de sabedora popular) são formosos exemplares lavrados no formato de poema em prosa. Eu os prefiro identificar como organismos lavrados em prosa com pitadas de poética, porque é "poesia pra comer" assim, bem ao gosto popular. Contudo, o que almoça ou janta os meus mais sensíveis neurônios são aqueles poemas com pronunciada codificação verbal e andamento rítmico capazes de embevecer e/ou entontecer os meus sentires atilados e sempre exigida percepção do Novo em Poesia. Porque, se poesia é para comer e deglutir – como afirma Maria Bethânia, agente cultural e musical estudiosa da obra de Fernando Pessoa e seus heterônimos – o exercício do pensar é uma ação psíquica difícil e muito dolorida para alguns poetas-leitores ainda em iniciação na poética. Em oportunidades várias já abordei esta temática e dei ênfase sobre isso aos meus alter egos, possivelmente com o subliminar objetivo de saudar a pandemia literária permanente do meu antigo e veraz romance diuturno com a Poética. E, mais uma vez, dói-me o calo de viver para produzir o vocábulo certo, a palavra exata no conteúdo, o ritmo convidativo, enfim, jungir signos que logrem traduzir sugestões, propostas ou atos em que o humano ser sinta-se mais confortável frente à vida de relação, abrindo a sua caverna platônica ao amor ou à aversão que o eventual poeta-leitor possa vir a ter em relação aos seus arroubos intimistas de conceber e fazer a garatuja poética reveladora de sua concepção do sentir-se bem e tentar construir um mundo de mais fácil entendimento e compreensão dos fetiches do Outro aos ventos do Mistério.

MONCKS, Joaquim. OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 02. Obra inédita, 2015/20.

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