Não desperte os cães negros de minha alma

Deixai meus cães negros adormecidos em minha alma onde os coloquei em silêncio e quietos. Não despertai a ira que os move e que me domina quando estão alertas e enfurecidos. Temei a metamorfose do ser se meus cães negros despertarem do sono a que os confinei. Nada será bom, nem para mim, cuja demência incontrolável me fará vomitar revoltas contidas em anos e anos de decepções, nem para aquele que por ventura me queira bem e deseje me amar cuja essência se desperdiçará pela fúria dos cães negros despertos desnecessária, irresponsável e incontrolavelmente.

Deixai-os quietos, dormindo, aprisionados em sonhos de guerras internas e inacabáveis. Não os atormente com o despertar e não me acorrente ao que virá quando meus cães negros se soltarem das trevas onde habitam em sono eterno. São senhores da discórdia, são mestres do pecado, são donos da insensatez, são a alma em pedaços, a carne em sangramento, o ser mutilado de consciência. É a dor que mortal jamais sentiu, o infortúnio da solidão, a insanidade do querer, o inferno que queima a alma e destrói o ser.

Deixai meus cães negros adormecidos. Não os acordes com seu amor por mim.