Do Espírito

Capítulo VI

Do Espírito

O Espírito é a correção que traz a novidade. O Espírito não tem idade. No fundo ele é sempre uma criança brincando de videogame. E eu não tenho mais jogos de terror... O Espírito não permite recortes ele é a amalgama que une corpo e alma. O Espírito é bondoso, é um velho de respeitoso rosto. Não pensem que não conheço meu Heihachi Mishima, meu velho, meu Avôhai. Não pensem que não sei por qual caminho leva Metatron a El Shaddai. O mundo é do Espírito e não dos boçais. O Reino não é só da Terra. O Reino é de todo Universo. Há vida pulsando sempre de Deus por todo o espaço e por todo Credo e é a poesia quem leva a Criação para além tempo, isso é um fato que cega, é um toque especial, é o toque espiritual. Já que o mantra que o Espírito mais gosta de entoar é: “Eu te amo!”... Sempre e sempre, essa é sua política afirmativa, essa é a tradição poética de seu cânone, o Espírito é um poeta de perfeita incorreção. Além da alma ele sabe do por que deixa-la pecar. Ele além do corpo sabe dizê-lo: “és mortal...” Elefante Branco... O Espírito é um Elefante Branco nadando em mar aberto. Ele não tem medo. Não é um presente, mas é grego. O Espírito é a soma daquilo que nos ensina a conjugar. O crime contra ele é o crime da reificação. Quando se ama um casal, esse mesmo casal distorce a sintaxe e subverte a ordem, agora já não é mais o bastante seus nomes próprios, é preciso um dengo, um apelido de carinho, e isso é bom, podem até dividir o mesmo apelo. Nisso não há mal... a questão agora é a da adulteração... um casal em seu contexto diário não precisa dos pronomes pessoais, os verbos são conjugados só na raiz mutável desse vírus mortal, dessa panspermia cósmica de vida, gratuita e grata chamada: verbo. Isso é o que podemos chamar de fidelidade conjuncional. Quando um traí, traz-se o outro, um terceiro elemento, para o que antes era o amparo de “dois”, este crime, chama-se: Pecado Contra o Espírito Santo, que tem sim perdão, mas só quando o se paga. Não queira saber como se paga, só tente e lute para não pecar contra ele, pois o que restará é apenas a identidade reificada e abandonada pelo jaz do que sobrou do seu coração. Tente outras formas de sublimar, tente ver qual papel realmente estás tu prestes a desempenhar. Tente ver que o Espírito não tem algoz, mas ele precisa ser nomeado perante os homens e a olho nu... O Ser é o Espírito bem comportado, certa vez já aprendi com minha psicóloga.

O Amor é filho e pai do Espírito por isso dele ser menino, por isso dele ser avô. O Espírito para mim muitas vezes foi covarde...

Mas me enganei, ele bateu tão forte na realidade que criou novas gemas gentis de vida, haverá de chegar o tempo no qual a força da moral e veneno sexualizado, não mais coexistirão, assim – finda o pacto taciturno débil e leviano que levou Leviatã a me chamar novamente para o fundo do mar. No futuro que já começou crianças vão brincar sem medo de se amarem, e haverá um parque para namorados, namorarem. Esse parque se chama Terra. E as crianças seremos todos nós. E meu Espírito refez a gramática, agora ele conjuga seus próprios verbos ao lado dos meus. É assim que pinguins vêm parar no litoral. E o Espírito dela, minha alma gêmea, também tá por aí, fazendo seus shows, compondo suas canções e quase roubando meu coração. Já que não tenho mais medo de nos religar.

Leonardo Daniel

04/10/2012