O Perdão

O pedido de perdão é frágil e escasso.

Flácido. Altamente desgastável.

Devemos sacar essa arma com cautela.

Porque o seu uso em excesso acaba por tirar o fio dessa faca.

Que corta os erros, separando-os da linha dos recomeços.

Das novas chances.

Do seguir adiante.

Quando usamos em excesso, esquecemos o seu real valor.

É como o limite entre o certo e o errado.

Se cruzarmos demais essa linha, ela simplesmente desaparece.

Assim é o pedido do perdão.

Que de tanto usarmos, perde o seu sentido. Não reflete.

Tenho utilizado as munições dos meus pedidos em uma metralhadora.

Acertando o meu moinho de erros, que não para de girar.

Mesmos erros. Mesmos pedidos. Mesmos recomeços. Mesmos finais.

Ciclo giratório que entra em um espiral. Até deixar de girar.

O perdão perde o efeito. O recomeço não é permitido.

Os mesmos erros são tolhidos. E os finais, impedidos.

E quando a roda deixa de prosseguir?

Construo um novo moinho. Para continuar atirando.

As balas viciadas do meu perdão desvalorizado.

De tanto construir moinho e disparar, fica apenas a nostalgia.

E a vontade e alegria de sentir, de novo, o seu significado de novo.