Como aprendemos a ler e a escrever?

Quando dizemos que algumas pessoas nasceram ou adquiriram o dom, a vocação, a identidade no ramo de ensino e aprendizagem, é porque suas habilidades são voltadas exata e exclusivamente para isto. Há, no entanto, aquelas que, mesmo não atuando como docentes, têm competência e aptidão em transformar o seu dito trabalho em uma área onde outros podem aprender um pouco do referido assunto. Temos, por exemplo, um químico passando a um aluno a matemática usada em cálculos estequiométricos, mesmo não sendo propriamente um professor da área; um jornalista ensinando regras básicas de inglês empresarial. Enfim, vemos inúmeros casos assim “ajustáveis” em nosso cotidiano. Contudo, não precisamos apenas saber o que fazer mas como fazer. Existe uma relevante diferença neste ponto.

Podemos ver esta importante diferença na própria análise do químico a ensinar matemática e de um pintor. Este passaria a um aluno o segredo de sua profissão, de forma absoluta e concreta, porque ambos vêem-se então dependentes por inteiro do que põem-se a realizar juntos, porque têm uma relação direta, real, legítima com tal trabalho; não há transtornos pois tudo diz respeito ao mesmo ofício. Já o químico não ensinaria o todo de forma que o aluno tirasse total proveito, pois o aluno teria de pré-conceituar a matemática em questão.

Isso não quer dizer que o químico mostrou-se um péssimo docente. O fato é: mesmo que ele saiba como age e se desenvolve o sistema de ensino a outra pessoa, só isto não seria suficiente para garantir o passar do conhecimento; o químico deveria ter uma visão geral do elemento em debate, um entender metalingüístico do assunto, algo de sua própria linguagem. Mas não é preciso termos apenas a percepção total do que vamos ensinar.

Para podermos repassar qualquer coisa para alguém, temos de ver o que as pessoas são capazes de reter e como elas melhor se adaptariam para aprender tudo isso, já que somos todos ímpares, cada qual com sua dificuldade ou facilidade no aprendizado.

Então, sabendo que pessoas variam em suas desenvolturas e destrezas, o que devemos ensinar e como devemos? Se todos, felizmente, não são iguais, qual a melhor maneira de atender todos? Como ensinamos a ler e a escrever?

Ao falarmos “ler” e “escrever” não estamos presos somente a letras e números, no superficial. Para podermos passar estes tipos de linguagens, necessitamos conhecer seu ínterim, sua natureza, seus enigmas, aquilo que as destacam dentre as outras.

É assim que atuam os nossos professores. Não todos, mas os mais aptos, dignos e conscientes de suas posições perante o disseminar das ciências aos que delas precisam. O verdadeiro mestre é aquele que entende o aluno mais que intimamente; sabe o seu desenvolvimento na hora do aprender e facilita ajudando-o. Os docentes se diferenciam pelo jeito como transformam a experiência em consciência e vice-versa. Somente esta combinação decide seu lugar em meio aos demais.