Chorar em todas as manhãs
É preciso chorar em todas as manhãs. Não um choro de dor ou angustia... um choro de vida. Que não é nossa, que a nós não pertence. É preciso deixar correr a lágrima solitária, sendo também um solitário caminhante. O choro silencioso é manifestação da alma. A alma em si, é o próprio choro pela vida. É preciso deixar cair a lágrima que sai do olhar, que corre a face por sulcos da existência, que desagua num peito desnudo de dor.
É preciso chorar em todas as manhãs. Nas do verão com sua brisa morna, nas do outono de folhas secas bailando ao vento sueste. As que nascem sem sol no inverno e naquelas que florescem na primavera. É preciso chorar sempre o choro da vida que se vive. Chorar hoje, agora, em qualquer momento. Chorar ontem, no dia que se foi, no momento que passou, chorar no amanhã quando amanhã for o hoje.
Chorar pela vida, que se vive, que se viveu e pela qual se viverá. É preciso chorar o choro da vida sem qualquer culpa do viver. Mesmo que a vida lhe cause dor. Mesmo que quem viva lhe cause dor. Mesmo que a dor lhe faça chorar pela vida.
É preciso chorar em todas as manhãs por toda a vida.
(Marcus Ottoni)