Transição

Num fim de tarde, solitário numa praia deserta

Caminhando lento e descompromissado vou

Sem estar indo para algum lugar.

Vou, com os pés meio na água, meio na areia

Somente me deixando ir.

Não sei bem de onde estou vindo

Ou para onde devo ir, ou se é que eu deva ir!

Somente sei, que estou indo!

O Sol de fim de tarde ainda encontra forças

Para aquecer minha pele morena.

De repente olho para o mar, que belíssimo

Faz suas águas verdes tocarem meus pés indecisos!

Observo uma gaivota voando à procura... Buscando não sei bem o quê!

Comida, companhia, ou simplesmente ela se entrega

Ao deleite, ao prazer de voar!

Deixo então, me levar pelos desenhos que a gaivota reproduz com seu voo no ar

Na sua trajetória também descompromissada, no seu voo livre! Livre!

Toco ligeiramente meus cabelos, passo a mão no rosto

Solto um suspiro profundo, de minha alma!

Somente para me ouvir, para ter certeza que faço parte daquele cenário.

A brisa fresca com sabor de aventura me invade, me toma e me abraça!

É a Natureza interagindo comigo, me fazendo ter certeza de que estava vivo!

Que pertencia àquele lugar!

Continuo então o passo lento, embalado pela sinfonia das ondas

Pelo perfume do mar e pelo som das gaivotas que agora eram muitas!

Não estava sozinho. Mas estava!

Continuo então minha busca. Ou minha fuga.

Não sabia mais qual a diferença!

A noite começa a cair de mansinho

E a Lua mostrando todo seu esplendor

Começa a deitar seu manto negro sobre a bela paisagem.

E brilhava imponente no céu! Magnânima!

Acompanhada daquele manto cravejado de diamantes

Onde as estrelas tomavam o firmamento!

Chego então ao final da praia, daquela caminhada!

Eu sabia! Eu sentia que deveria escalar aquele morro à minha frente!

Algo me chamava para lá! Não sei bem o que.

A esta altura, definitivamente não tinha certeza de nada.

Mas sabia que tinha que ir, que tinha que subir.

Que tinha que escalar!

À medida que ia subindo, minha mente começou a projetar cenas

Como se cinema fosse!

Minha vida toda passava na minha frente. Como mágica!

Pessoas, fatos, ocasiões

Sentimentos, decepções!

Vitórias, derrotas, confusões!

Era estranho e bom ao mesmo tempo!

Sentia paz! Mesmo que revisse coisas aparentemente ruins

Sentia paz naquele momento!

Nada mais importava ou incomodava!

Cheguei ao topo daquela pequena montanha

Onde havia uma pedra enorme

Que eu sentia que ali deveria me postar!

A natureza tinha sido caprichosa

E moldado aquela rocha de uma forma

Que com segurança poderia ficar

E ver lá de cima o mar.

E podia observar a imensidão, a vastidão

Do horizonte, até minha pessoa!

Pois só eu era personagem naquele teatro!

Mais ninguém! Só eu! E a natureza!

E eu estava em paz!

Algo me dizia que fizera com sucesso um tipo de jornada!

Não sabia como, mas sabia! Sentia! Tinha certeza!

E me posicionei naquela pedra, como quem medita!

Coloquei-me numa posição física, mental e espiritual

De forma que ficasse receptivo!

Sabia que algo iria acontecer, na magia daquele momento.

E assim foi!

Do alto da pedra, do alto da montanha, de vista para o mar

Comecei a respirar lenta e profundamente

E isso me relaxava mais e mais.

Comecei a sentir então, que algo acontecia a minha volta

Era como se tudo começasse a vibrar!

Tudo à minha volta começava a vibrar, como se fosse uma transmutação energética

Parecia que eu estava entrando em outra dimensão não conhecida por mim!

Bem à minha frente apareceu um ponto de luz.

Uma luz forte e prateada, quase azulada!

Esse ponto foi aumentando, crescendo, crescendo...

Como se fosse um portal.

Eu sentia que ali deveria penetrar

Que ali encontraria o que estava buscando

Que enfim, obteria minhas respostas

O nexo, a razão de tudo!

De onde vinha e para onde viria!

O que estava fazendo ali e qual seria o próximo passo!

Sentia que TUDO estava ali, ao meu alcance! Ao meu dispor!

Somente aguardando minha decisão de por aquele caminho trilhar!

Me coloquei então frente ao portal

Não conseguia ver nada através dele.

Somente luz!

Luz branca, prateada e azulada!

Somente luz!

Algo dentro do meu peito me impulsionava a entrar ali.

E assim fiz! Adentrei! Essa era minha escolha!

Percebi que ao fazer a transição, ao passar o portal,

Passei por uma transmutação energética.

Eu olhava para trás e nada mais via!

Não conseguia mais ver o ambiente de onde viera

Somente onde agora estava.

Comecei a perceber coisas estranhas

Na realidade, novas para mim!

Eu estava com o mesmo corpo de antes, era eu mesmo

Mas era como se esse corpo fosse de um material diferente

Mais leve e mais sutil!

Quase que como uma leve fumaça!

Percebia que estava numa espécie de sala

Na realidade, uma antecâmara!

Isso se confirmou, pois logo à frente percebi outro portal.

De frente ao novo portal, ali me posicionei.

Na realidade, parecia um espelho, pois eu me via.

Mas olhando atentamente, era eu, mas não era!

Era como se fosse um “EU”, mais evoluído, do futuro!

Uma projeção futura de mim mesmo!

Decididamente, cruzei este portal!

A sensação que sentia não era mais estranha

Pois me acostumava rápido ao local!

Sentia plenitude!

Sentia força, alegria, coragem e muito, mas muito amor!

E paz!

Sentia uma conexão cósmica!

Sentia o tudo e o nada! Ao mesmo tempo!

E nesse êxtase, nessa magia

Foi-me entregue uma espécie de pergaminho

Por um amigo que ali aparecera.

Ao abrir para ver o texto

Comecei a sentir uma espécie de tontura leve

Um sono profundo começou a tomar conta de mim

E lá adormeci! E aqui acordei!

Meio sem saber onde estava, percebi que estava na minha cama!

Tudo fora um sonho!!!

Me perguntava, mas e a mensagem?

E o pergaminho?

Não me lembro, pois aqui acordei!

Na determinação de conhecer o teor da mensagem,

Decidi tentar adormecer novamente!

Sentia que a mensagem era importantíssima para mim

E para minha surpresa e satisfação, voltei ao local onde estivera!

Já te aconteceu de sonhar, acordar, voltar a dormir e continuar o sonho?

Eu reencontrei meu amigo que sorria gentilmente.

E ao me abraçar, me entregou a mensagem que eu deixara lá.

Ao abrir a mensagem, com alegria e surpresa pude ler:

“Conheça-te a ti mesmo!”

E novamente, lá dormi!

E aqui acordei!

Aqui e agora!

Mauricio "Veeresh Das" Franchi