As Mulheres e a Maternidade

Neste primeiro quartel do século XXI, a questão da Maternidade ainda continua a servir de argumento a favor da vinculação da Mulher aos limites da vida doméstica.

Argumenta-se que a função maternal deve ser exercida pela Mãe, e que a função maternal das Mulheres não é contabilizável.

Assim, argumenta-se que é deplorável que se pense em atribuir uma remuneração à Mulher se for apenas doméstica... Pois que se estará a mercantilizar a sagrada função da Maternidade.

1-

Claro que o Amor e o empenho na educação dos filhos não são coisas contabilizáveis.

Mas esse Amor e empenho são tanto da responsabilidade materna como paterna.

Claro que é comovente admirar o quadro idílico da mãe que vive exclusivamente para o marido e para os filhos.

Mas a realidade não é assim tão idílica: A mulher que não tem profissão remunerada fica na dependência do marido. Se o marido for boa pessoa, a vida decorrerá com normalidade...

...Mas. E se não for?

Argumentar-se-á que as desilusões que surgem após o casamento, tanto podem afectar o marido como a esposa...

...Mas. Ter dinheiro próprio, garante, em última análise, o sentimento de autonomia psicológica. Se a mulher não tiver a sua garantia de independência, ficará para sempre numa posição subalterna: terá que se rebaixar a qualquer manifestação de supremacia, despotismo, ou maus tratos. Igualmente mau – quando a Mulher se revolta e sai de casa, ou quando se queixa a pedir ajuda, muitas vozes se levantarão contra ela, que “não soube perdoar”, que “não soube compreender e aceitar o seu marido que vem esgotado do trabalho”, e outros mimos conhecidos...

2-

Sempre as classes mais favorecidas tiveram criadagem.

O facto de se entregar a educação dos filhos a terceiros goza de longínqua tradição na Europa. A própria palavra PEDAGOGO deriva do nome dado ao escravo que, na Grécia da Antiguidade, era o educador do rapazinho. Depreende-se daqui que só pessoas abastadas tinham o seu PEDAGOPGO para educar os seus jovens.

Na Roma da Antiguidade, por seu lado, era um luxo e um requinte ter um PEDAGOGO grego para educar o jovem patrício.

Não vale a pena percorrermos a história da aristocracia europeia para constatarmos que os rapazinhos de sangue real tinham os seus AIOS, frequentemente, fidalgos de elevada estirpe. Que por via dessa função educativa ainda mais ascendiam na escala social. O primeiro exemplo mais conhecido deste facto, na História de Portugal, será o de Egas Moniz, aio do nosso primeiro Rei.

No quadro do Iluminismo português, tivemos o Real Colégio dos Nobres, fundado em 1761. Onde só era admitida a frequência masculina. Foi extinto depois da reforma liberal, em 1837, tendo dado lugar à Escola Politécnica de Lisboa.

Ainda no século XIX, as Mulheres das classes favorecidas não iriam à Universidade... Aprendiam a ler em casa, para lerem romances. As meninas tinham as suas preceptoras, e aprendiam Francês, e tocavam piano. Aprendiam também a bordar, a fazer rendas artísticas, aprendiam a pintar... Mas os trabalhos femininos não eram dignos de serem considerados como Arte. Eram classificados como “Artes Menores”, “Artes Aplicadas”...

Quando, finalmente, em meados do século XX, se consentiu que as Mulheres tivessem emprego, não se lhes reconheceu a finalidade de se realizarem profissionalmente. Mesmo nas classes médias, não se assumiria que era consentido às Mulheres saírem de casa para irem para o mundo exterior às quatro paredes domésticas. O facto de disporem de dinheiro seu, punha em causa a autoridade dos seus homens, e o seu sentido de posse. Assumia-se o trabalho feminino como um entretém, apenas “para que tivessem o seu peculiozinho”, para que “ganhassem para os seus alfinetes, para não ficarem pesadas aos maridos”...

Ainda numa primeira metade do século XX, em casas abastadas, também as mulheres não tomariam conta da educação dos filhos, pois além da cozinheira e da criada de fora (para as limpezas), haveria também a criada dos meninos... Para esta função de “tomar conta dos meninos” acontecia, até, tomarem-se os trabalhos de meninas ou adolescentes “pobres”, para entreterem as crianças “ricas”...

Actualmente, com os pais e mães empregados, recorre-se aos infantários, equipamento social que muito se disseminou a seguir à Revolução dos Cravos. Anteriormente, essa função dos infantários era desempenhada pelas AMAS, mulheres domésticas que se encarregavam de cuidar dos bebés de mães empregadas.

3-

A propósito da inferiorização das mulheres até muito recentemente, só exemplificarei com o facto de que em França, as Mulheres só tiveram direito de voto a seguir à Segunda Guerra Mundial.

4-

Actualmente, fala-se de que em caso de divórcio, a à mulher que foi doméstica toda a sua vida, deverá ser atribuído umX (no fundo, um "dote") para que possa recomeçar uma nova vida.

É a esse propósito que se contra-argumenta com o conceito de “mercantilização” da função feminina...

Na realidade, perante os factos enunciados, nem sequer percebo o que isso quererá dizer... Pois quem pôs a sua vida ao serviço de outrem, quem dedicou o seu tempo a trabalhar para "os outros" - mesmo que estes "outros" sejam a sua família, tem obviamente direito a uma compensação! Pois o dinheiro aqui não representa um "pagamento", sendo apenas um "símbolo".

No entanto, a componente afectiva e emocional que o trabalho exclusivamente doméstico, ou de cuidadora de crianças – e já agora, de idosos –, implica, com o requerido carinho e dedicação, não são elementos mensuráveis em dinheiro. Apenas o reconhecimento e a gratidão poderão de alguma forma compensá-lo.

5- Para concluir:

A posição da Mulher tem sido vista com arrogante perversidade ao longo da História.

A prepotência da Sociedade sobre a Mulher tem sido tão forte, que no início do século XXI da era de Cristo, ainda é preciso perder-se tempo a argumentar sobre o tema...

A situação da Mulher foi de dependência ao longo da História do patriarcado. Tanto nas classes aristocráticas como na burguesia poderosa, a mulher era mantida tanto quanto possível numa relativa ignorância, para mais facilmente ser dominável, manipulável, submissa. Além de que era peça negociável para arranjos de casamento que favorecessem os interesses económicos e de poder das famílias. eram casamentos forçados, com o consolador argumento de que "o Amor vem depois, vem do hábito"...

E foi , também, com o fundamento idílico, da mulher como “fada do lar”, que se perpetuaram os argumentos que a mantiveram nessa situação de ignorância e dependência económica ao longo dos séculos.

Terminamos com o enunciado já clássico:

Educação igual para todos

Trabalho igual - Salário igual

Igualdade de Direitos

Claro e eficaz direito à Defesa, em caso de ser vítima de

supremacia ou de agressão.

Myriam Jubilot de Carvalho

Dia da Mãe, 2 de Maio de 2021

Myriam Jubilot de Carvalho
Enviado por Myriam Jubilot de Carvalho em 06/05/2021
Reeditado em 06/05/2021
Código do texto: T7249347
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.