O chapéu de Moro

Dessa vez começou cedo. Já foi aberta a temporada de políticos tentarem parecer “gente do povo”. Nos meses que antecedem as eleições, os candidatos saem mordendo gororobas em botecos pés-sujos, montando toda sorte de animais que representem a perseverança nordestina e oferecendo a cabeça para os bonés e chapéus que aparecerem. Isso rende uma porção de memes, situações constrangedoras e piadas. É ridículo, mas se o marqueteiro recomenda o esforço, deveria render alguns votos. Na prática, acredito que até espanta eleitores porque soa tão autêntico quanto uma cédula de 3 reais.

Sem jeito para morder um salgado num boteco, João Doria queimou a boca. Geraldo Alckmin já se fantasiou de “garoto estatal”, querendo enfrentar o estatista Lula. Mas nada superou o candidato Sérgio Moro usando um chapéu de couro nordestino. O visível desconforto mostra que a campanha será muito difícil e longa para ele. Visivelmente tímido, o ex-juiz sempre demonstrou não estar muito à vontade em aparições populares. Exemplos: quando Bolsonaro lhe enfiou uma camisa do Flamengo em pleno Maracanã e quando foi obrigado a bater palmas para si mesmo, numa festinha de aniversário. Será melhor Moro recusar essas roubadas. É gritante, para mim, a impressão que o ex-juiz da Lava Jato comprou um manual de autoajuda ensinando como fazer uma campanha eleitoral em 5 lições.

Outro fenômeno é a peregrinação de ateus e agnósticos a basílicas, catedrais, igrejas, capelas, templos, galpões, salas e pastores pregando em praças. Políticos que acham obscurantismo acreditar em Deus, entram nas igrejas, sentam na frente — chamando a atenção — e transformam-se em carolas. Lógico, enxergando em cada fiel um eleitor. Antes disso, além de estigmatizarem cristãos, perseguindo-os, repetem ad nauseam que o Estado é laico, como se a laicidade do Estado excluísse a fé individual.

A cara de pau é tanta que os candidatos fantasiam-se de povão, mesmo sabendo que passarão uma vergonha histórica. Pois é, foi iniciada a temporada de frequentar lugares populares, alimentar-se com iguarias gordurosas, quentes e apimentadas e rezar (orar) para um deus que não se acredita.

No quesito “gente como a gente”, Lula lança mão de uma carteirada eterna: ter vindo a São Paulo a bordo de um “pau de arara”. 2022 nem chegou, mas Sérgio Moro já estrelou uma cena clássica.

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RRRafael
Enviado por RRRafael em 10/12/2021
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