O frio e as sombras.

Vou até a janela e deixo que a luz do Sol me toque as costas e os ombros

Tudo que sinto é frio

Frio e impessoal e mecânico

Agora as mãos

Minhas mãos um pouco maltratadas aos poucos condicionam-se a perder o tato, à esfriar

Não há o que tocar, nem a quem tocar.

Só um fiapo de luz, pela fresta. Lá fora edifícios, pequenos universos de mentiras repetidas à exaustão, transmutadas em grandes verdades

Imensos cifrões

O grande caça-níqueis, banco imobiliário live-action

Todos jogando dados

Viciados

Os Dados

E os jogadores, e as freiras e os velhos. Tudo isso é o Inferno que criamos, e o mais próximo do céu que consigo é o 13º andar desse prédio.

Esqueça o Shakyamunyi, o Nirvana é opiáceo, pura ilusão, e Jesus tornou-se o narcótico mais vendido do mercado. Agora o Sol...alcança meu rosto frio, e transpassa meus olhos com seus raios, como se me pedisse pra esquecer.

Eu pisco e esfregos os olhos, tudo está no mesmo lugar, menos as sombras.