O FRUTO ERRADO

Quando doeu, só doeu em mim. Só eu senti. Sequer notaram minha presença machucada. Remoí por muito tempo e doía ainda mais. Parou de sangrar quando parei de me importar, quando percebi que no meu mundo só cabia eu e os meus sonhos e decidi seguir só comigo, só por mim e só para mim.

Eu aprendi de forma dolorosa a não me importar com mais nada e mais ninguém. Ninguém nunca se importou comigo. Eu me fechei e, mesmo padecendo, eu cresci e superei.

Cresci na base do choro e da porrada que enfeitavam meu caminho. Sangrou até não haver mais gotas de alma em mim. Meu coração só pertence a mim e, se não lhe convém, meu bem, eu dou-lhe um doce aviso: suma da minha vida e trilhe por outro caminho.

Não me cobres bondade e gentileza se tu fostes imbecil comigo, a ti não devo nada, nem mesmo bem querer.

Eu vou sozinho como um moribundo e indigente até o lugar em que eu jurei para mim mesmo ser digno de estar e, quando lá eu estiver, nem o teu aplauso ou o teu reconhecimento de que eu sou forte eu quero ouvir.

Sou o fruto errado, todas as sementes de desprezo e desimportância que semearam em mim brotaram. Não fiz o meu próprio plantio. Colham de mim o resultado de suas semeaduras.