Dia das mães passou tão ligeiro e numa semana todos esqueceram... Fim!

 

O Carlinhos, por exemplo, acabou de mandar a mãe à merda. Como se fosse um destino a ser visitado.

 

A Luíza gritou que não vê a hora de ganhar seu dinheiro e sumir da casa de Mirtes, sua mãezinha. Eu conto ou vocês contam que mesmo com dinheiro e saindo de casa, o único lugar de retorno inviolável é aquele? Vai aprender na marra, a bichinha. A primeira casa é o ventre a segunda é a casa da mãe.

 

O Geneosvaldo, pediu pra entrar na casa, que dele é, em usufruto da mãe, que alugou provisoriamente. Só pra saber quanto espaço irá ter, quando à mãe morrer. Que Deus a tenha! Deve estar contando os dias, riscando na folhinha.

 

A Nélia, quer colocar Juliana numa casa de repouso, porque não tem paciência pra escutar a mesma história todos os dias, afinal Julieta tem Alzheimer. Tomara que em sua descendência alguém faça por ela diferente. Afinal, geneticamente, a bolha estoura! Queda certa, menina.

 

A Pietra quer uma cuidadora de dia e uma à noite para D. Nezinha, porque ela sequer consegue comer sem sujar a roupa e a cozinha. Sente nojo daquela porqueira. Ah, Pietra! A distância entre o nascer, crescer e envelhecer é tão curta, se tu soubesse...

 

Mas há uma verdade inviolável nesse contexto: o ventre de uma mulher é a máquina perfeita que, obedecendo a natureza, povoa o mundo e não extermina a espécie humana. A gestação é algo tão perfeito que parece ter sido desenhada por um arquieteto divino.

 

Sem choramingos, desde a pré-história, a fertilidade já era um atributo seletivo para aquelas que, segundo o Cristianismo, nasceram da costela de Adão. Fato é que, isto muito contribuiu para as formações estruturais das famílias, sendo inclusive, muitas destas (mulheres), excluídas e rejeitadas por serem consideradas limitadas em virtude da esterilidade. Como se fosse uma ofensa não dar ao marido um filho! Sem contar que a frase machista intensificava a ideia de que a mulher era apenas o instrumento de realização de um ofício, uma espécie de máquina parideira, em série.

 

Claro que, de certo modo, numa sociedade patriarcal, não podíamos esperar algo diferente, logo, foram necessários centenas de anos para que ocupassem espaços. 

 

No Brasil, ainda nas primeiras colônias formadas após a chegada dos portugueses, as mulheres de posses cuidavam da casa e dos filhos. Já aquelas consideradas pobres, exerciam tais atividades, cumuladas com artesanato, costura e feitura de doces para vendas. Sem contar que ao se casarem, mudavam para a casa do sogro, que era a figura paterna constituída como exemplo para a formação da família. 


“É mais claro que o sol, que Deus criou a mulher para domar o homem” dizia Voltaire, mas não será o contrário? Embora espaços se abram para a evidência e, consequente emancipação feminina, as mulheres são renegadas e, por vezes, excluídas por portarem em si o dom da maternidade.

 

E não é de hoje que o mercado de trabalho é manipulado por formadores e opinião, inclusive, detentores de cargos eletivos, que deformam a imagem feminina dizendo que a gravidez, e suas inevitáveis consequências, são um peso para a visão materialista e globalizada de desempenho profissional e ampliam a disparidade de gênero na contratação de serviços: "homens não engravidam, logo, não gozam de licença maternidade". Mulheres engravidam mais...

 

Não gosto de alimentar essa pseudo guerra difamatória de gêneros, e nem quero disseminar sentimentos que pacifiquem a diferença estrutural generalizada, mas convenhamos, as mulheres, de modo especial as mães, chamadas de guerreiras, carregam um peso incalculável em suas decisões: Se traabalham fora, não ligam para os filhos; Se ficam em casa, não são independentes e são submissas. As coitadas não tem nem um dia sequer de paz! Se morar no Brasil então! É violência, é estupro, é machismo, é preconceito, é discriminação, é hostilidade...

 

Por isso, colem na testa: 

 

Não deem parabéns apenas no segundo domingo de maio, mas nos 364 dias do ano que ainda restam.

 

Não deem parabéns pelo Dia das Mães por ser um ato de bravura, pois não é, é mais de gratuidade, grandeza.

 

Não deem parabéns por passar dias e noites em claro, seja para alimentar o bebê ou esperar a chegada de festa, mas sim, respeitem as suas falhas, são mães, não deusa, como a gerga da fertilidade, Isís.

 

Não deem parabéns pelo Dia das Mães, mas respeitem a escolha-dever de optar por cuidar sozinha da cria ou voltar a trabalhar mais cedo, dedicando-se à profissão sem remorsos, numa jornada dupla.

 

Não deem parabéns pelo Dia das Mães por ser guerreira e conseguir dar conta de tudo sozinha, antes porém, estenda a mão e divida a dor de embora amando, de ver seu corpo físico definhar e pedir socorro, por apenas umas horas de sono, um banho sem interrupções ou uma tarde no Cabeleireiro.

 

Não deem parabéns por ter feito do seu corpo um templo e ter guardado as marcas delicadas do estiramento ou estufamento por meio de estrias, gorduras e celulites, mas sim, não as obriguem a assumir um padrão de beleza que não contemple a natureza humana e nem as tornem escrava de um estereótipo de beleza americano.

 

Não deem parabéns por ter ganhado um presente que mistura todos os sentimentos numa caixa só e que ao sacudir explode, e sobra a gratidão porque pra Ser Mãe é preciso abrir mão de tudo, menos de si, dando vida ao mundo.

 

E por falar em parabéns, respeitem o amamentar na rua, o choro fora de hora, a sensibilidade exacerbada, a ansiedade, a preocupação, o desespero e o erro.

 

Mas, sobretudo, a opção de querer amar além da vida!

 

Um dia é muito pouco para agradecer quem nos deu a vida! Se as mães fossem eternas... Deusa da fertilidade?

 

Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 15/05/2022
Reeditado em 15/05/2022
Código do texto: T7516807
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