Mãe

Mãe, um dia fui sua bebê,

Como era bom.

Sentir seu seio quente, sugando seu leite morno.

Ás vezes com fome, ás vezes para suprir minha necessidade de vida. Mas muitas vezes, por birra, por querer você só para mim.

Eu chorava, chorava com todas as minhas forças, só para estar com você.

Alguém me tomava nos braços, conversava comigo, me balançava...

Mas não era você, não era o seu colo,

Não era o seu balanço, eu sabia, ninguém entendia como.

Mas eu sabia, então, mesmo que estivesse bom, mesmo que estivesse conforto, por um instante eu me aquietava, tentava dormir.

Mas não conseguia.

Então abria aquela minha boquinha pequena, e emitia um som.

O mais estridente que eu conseguisse, porque eu sabia, eu sentia que você viria me afagar, você viria me acalmar...

E assim o tempo foi passando, e eu fui me afastando de você, não porque eu assim desejasse, mas o tempo, as circunstâncias, as pessoas, me fizeram se afastar de você.

No início, foi tudo bem, eu aceitei, queria ficar com outras pessoas, brincar com outros objetos...

Mas um dia, você não me deu mais o seu peito.

Me deram uma coisa parecida com o seu peito. Tinha um líquido branco, muito parecido com o líquido que tinha em você...

Era morno também, um pouco mais doce que o seu...

Eu tomei, pois tinha necessidade dele.

Mas não se comparava ao seu.

No outro dia eu pensei em não tomar aquele líquido, naquela coisa.

Chorei, chorei muito, mas você não me deu seu peito.

Você até me encostou no seu peito.

Mas alguém disse que não, que era perigoso.

Não sei porque era perigoso, pois eu queria, e você também queria.

Mas não, não e não, você não me deu o seu peito...

Nunca mais....

Eu tomava naquela coisa, aquele líquido, mas eu nunca esqueci do seu peito, eu nunca esqueci do seu líquido...

O tempo foi passando, e eu fui esquecendo do gosto do seu peito...

Mas adiante, eu tive que me afastar mais um pouco de ti.

Eu fui pra um lugar que só ficava as crianças, e apenas uma mãe,

Mas não era você, e nem era como você, que só cuidava de mim.

Ela, aquela outra mãe, conversava com todas as crianças, e cuidava de todas as crianças...mas ela não pegava ninguém no colo, não me punha pra dormir como você.

E eu, tinha que ficar lá, por várias horas, mas depois de um tempo, eu voltava pra você...

E assim eu fui me acostumando a ficar longe de você por um tempo...mas eu sabia, que depois, eu voltava pra você.

Muito, muito tempo depois, eu acostumei mesmo a ficar mais tempo sem você.

Alguns anos se passaram, e eu, agora já conseguia conviver vários dias sem você...

E aí, passei a conhecer outra pessoa, que me fazia feliz, não como você, mas eu sentia por essa pessoa, algo muito parecido com o que eu sentia por você, gostava de estar com ela, aprendi a beijar também essa pessoa, e era bom. Mas não tão bom quanto eu senti um dia por você. E eu pensei...deve ser assim mesmo...a gente deve trocar de pessoa para sentir bem querer. E eu gostei tanto de querer estar com essa pessoa, que eu me afastei de você, mais uma vez. Agora eu ficava muitos dias sem te ver, mas eu estava feliz, eu vivia sempre perto dessa outra pessoa que eu também queria bem.

Mas eu jamais esquecia de você. Mas fui acostumando também. E confesso que quase esqueci de você. Mas um dia, eu senti algo dentro de mim, essa coisa se mexia, eu pensava, será que eu também vou ter uma coisinha só minha...

Te contei...você ficou feliz também, disse que era assim mesmo, que eu teria sim, uma coisinha só minha, que ia amar muito também, que eu saberia fazer isso, Não precisava ter medo, porque você estaria sempre ao meu lado, e me ensinaria tudo que você sabia sobre amar essas coisinhas que a gente tem.

E foi assim mesmo. Minha coisinha saiu de dentro de mim, era linda, assim como você me disse que seria, e você me ensinou a cuidar da minha coisinha.

Você gostou muito da minha coisinha também, mas você sabia, que era minha, mais minha do que sua, e agora, era a minha vez de dar o meu liquido, o líquido do meu peito, pra minha coisinha. E eu estava muito feliz com minha coisinha. Não tinha muito tempo pra você. Passava o dia todo cuidando dessa coisinha. Eu olhava pra minha coisinha e via um pedaço de você, e um pedaço de mim, e um pedaço do outro meu bem querer, e um pedaço daquele que foi o seu bem querer. Os dias foram passando, a minha coisinha estava um pouco maior do que quando saiu de dentro de mim...e um dia...o pior dia da minha vida...me disseram que você se foi...para bem longe, e que eu demoraria muito, muito tempo mesmo pra te ver. Mas eu nunca te esqueci. Hoje, a minha coisinha cresceu, a minha coisinha tem duas coisinhas dela, e eu, eu tive mais outras duas coisinhas depois da primeira, e eu... e eu ainda não te encontrei. Mas eu nunca perdi a esperança de te ver outra vez.

Marili Teixeira

13/05/2022

21:38

Marili Teixeira
Enviado por Marili Teixeira em 15/05/2022
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