QUANDO O RIO ENCONTRA O MAR

O mês de junho é dedicado às ações e reflexões acerca da preservação do meio ambiente, seja nos espaços formais ou não-formais de educação diante da avassaladora crise humanitária e ambiental que assola o século XXI. De fato, um panorama global que transcende as fronteiras físicas e imaginárias. Por isso, um compromisso com a formação holística de cidadãos planetários permeiam o labor docente, para além dos conteúdos programáticos e curriculares de uma instituição de ensino, um horizonte que perpassa a educação básica aos corredores universitários.

O conhecimento transita como a água, se infiltra, contorna, inunda e de uma pequena nascente límpida e singela, torna-se um rio caudaloso e forte que em algum momento se perde ao encontrar-se com o horizonte marinho. Assim, aprendemos a interpretar o mundo e seus dilemas antes de mergulhar nas páginas de um livro. Pensando nisso, temos a capacidade de enxergar os horizontes transpondo as barreiras de nosso território, de nossa região? Conseguimos conceber a interdependência do ciclo da vida? Atitudes edificam mudanças significativas, um ideal materializado pelo exemplo tem o poder de educar. Dessa forma, partindo de reflexões filosóficas para atitudes reais o Projeto Praia Limpa Torres, idealizado e coordenado por Alexis Sanson ( inclusive o parabenizo pelas 50 primaveras celebradas em 23-06) provoca nas pessoas o senso coletivo de zelo e cuidado com o meio ambiente marinho e todo seu ecossistema. A organização de limpezas voluntárias da orla, transformou-se no desafiador processo de educação ambiental. Mas, o que um projeto que prioriza os cuidados com as praias e oceanos pode contribuir com uma escola do campo situada na comunidade da Pirataba?

Nesta perspectiva reflexiva e desafiadora, a E.E.E.F Nossa Senhora da Glória foi contemplada com a palestra e atividades pedagógicas com o objetivo de sensibilização dos estudantes para as questões ambientais. A comunidade da Glória, um dos distritos históricos de Torres é conhecida pelo seu nome indígena de origem Tupi, Pirataba ( Pira= peixe e Taba= morada, aldeia), contornada pelas suas estradas e rotas imemoriais banhadas pelo rio Mampituba. Uma comunidade acolhedora que resguarda um rico patrimônio histórico e cultural, na imponência das chaminés das antigas olarias (meados do século XX) ou do Casarão dos Muller (1881), retratando a época do tropeirismo. A escola N. S. da Glória é a segunda mais antiga da região em funcionamento, desde 1943. A predominância do trabalho agrícola movimenta a economia da região e dita o cotidiano, o transpassar do tempo.

No dia 06 de junho, ocorreu o bate papo com o Alexis que trouxe muitos elementos que aproximaram as praias das corredeiras dos rios, a comunidade rural com a comunidade litorânea, demonstrando que estamos mais conectados do que imaginávamos. Os detritos que poluem os mananciais hídricos, rios e lagoas também atingem os oceanos e praias. As mudanças climáticas e a preocupação com a segurança alimentar, dos agrotóxicos nas lavouras até as bitucas de cigarros e garrafas pets de origens estrangeiras que chegam as areias pelo mar, revelam um cenário que nos impele a transformações no modo de vida moderno. Uma das falas que Alexis proferiu e chamou a atenção dos alunos foi que “ atualmente conhecemos mais sobre os astros e a Lua do que das profundezas dos oceanos”. Trocas de saberes imprescindíveis, em que os estudantes trouxeram os resíduos sólidos produzidos no final de semana e foram colocados no centro da sala, momento que chocou a todos pela quantidade de resíduos que são produzidos diariamente e que passam despercebidos. As turmas elaboraram cartas de agradecimento, apresentaram cartazes e leituras sobre a temática. Nosso convidado conheceu as dependências da escola, o projeto Horta Escolar e o arborizado pátio e quadra poliesportiva. Uma manhã chuvosa, com cheiro de terra molhada e muito agradável, a confluência do rio com o mar, da zona rural com a cultura marisqueira nasceu um novo chamado que ecoou a plenos pulmões: PIRALIMPAAAAA!!!! Neste momento, o amigo Alexis com uma sacolinha de produtos da horta e limão bergamota, entre um nó na garganta e um sorriso, percebe que tudo vale a pena quando ainda existir o brilho no olhar de uma criança.

Publicado no Jornal A Folha/ Torres