A                                       MANINHA

  Nilba:           Este texto pertence ao livro Ascensão e Queda de um vagal. O casal é dois de meus tipos inesquecíveis. 

                  
  

  Nilba:                        Esta é talvez, a figura mais polêmica da família. É a  caçula!  Talvez seja a razão.  Está  com 58 anos e meio. Estudou Contabilidade e depois fez um curso superior de musica.  
      Ela é polêmica por uma série de razões.  É do contra, de uma maneira geral.  Dá sempre a  impressão de querer saber mais que todos e principalmente porque adora mandar !  E manda. Mandava mais é verdade. Agora está havendo uma reação dos irmãos já coroas ultrapassando os sessenta anos. 

                                         Ela manda e para isso as vezes tem que fazer  uma " novelinha ". E ela sabe fazer um teatrinho como ninguém. Ela é de gêmeos.     Em dois dias ela sempre tem uma diferença  em relação ao dia anterior. Reclama de todas as coisas. No mínimo uma dor.  Vê tudo que não é politicamente correto. Passou a vida quando convivíamos,  me controlando na hora do almoço ou da janta que existia na época. Ela controlava quando eu ia limpar a boca com a toalha. Tenho a impressão que ela nem almoçava com tranqüilidade.  Ela tinha que me controlar.  Casou-se com um grande amigo. O Renato.

                                Ela nunca saia de casa  sozinha. Só com a mãe. A minha sogra. Olga, 90. Uma vez ela saiu sozinha. Foi fazer uma excursão ( viagem ) viagem destas de ônibus ate o Norte ou Nordeste do país. E foi bem feito pois as praias de lá são um paraíso. As nossas aqui parecem Toddy ou Nescau . E gelado ! E ela voltou casada. Ou seja namorando. E firme. O cara era o seu tipo. Alto. Como ela sempre desejou. Ela é baixinha. Um metro e meio mais ou menos.  Ele bem alto. Ele já tinha sido da Marinha de Guerra.
Aliás as filhas da Olga , sem exceção casaram com gente de quartel. A Nilza, outra irmã me segredou um dia destes que só não namorou com moço do exercito da salvação. Todas as armas foram conferidas e escolheu a Aeronáutica representada pelo Nelo.
Mas eu dizia ele, renato,  era alto, elegante ( ainda é ) e bem falante. Bem informado. Conquistou a todos e se casaram. Antes de se casarem ele chegou perto de mim depois de tomarmos uma garrafa de uísque e disse: - Mestre. Não vou dar furo ? Tu conhece o pessoal . Diz: - Casa,  que eu caso. E eu do alto da competência etílica disse: - Casa. Não vais te arrepender. E ele casou. E acho que não se arrependeu. Digo acho,  porque de uma certa forma nós não convivemos pois a maninha arrumou uma maneira da gente se separar. Cada dia arrumava uma desculpa.  Só nos encontrávamos no Natal e Ano Novo. Agora nem isto.  Lembro do Tancredo neves que dizia : - O Mineiro só é solidário no Câncer !      Recentemente o renato teve um treco e nos encontramos muitas vezes no hospital.

                      Uma pena mas este é outro capítulo.

               Agora vamos a outra parte.  
       A maninha ajuda a todos os que precisam!  É a pessoa mais incrível que existe quando se trata de ajudar a um parente que está com problemas de qualquer espécie. Ajudou a todos.   Quando minha  cunhada faleceu no Rio da Janeiro, eu estava dando aula no Pré do Mauá ( 1980 ) e fui avisado pelo porteiro que a Sara, primeira esposa de meu irmão tinha falecido!  Na saída da aula, no último período da manhã  a  maninha apareceu com as passagens !  E eu, na época não tinha dinheiro e nem crédito para comprá-las.  Pretendia falar com a direção  do Mauá, no fim da aula. Mas a Maninha já tinha resolvido o problema.   Ela tem a iniciativa!  É a rainha da iniciativa!  E as vezes até se aborrece por isso !  Quando alguém adoece a maninha adoece junto.  E parte para o atendimento !  È  ela comanda. Nós conversamos muito pouco. Recentemente adoeci e ela ligava praticamente todos os dias para saber como eu estava. Isto a Nilva é que disse pois ela nunca falou comigo. 
       A atenção é total, exatamente na hora em que se precisa! No quartel chamamos de sargenteante. É a burocrata da família.  Figura impar. Não há nada igual! Diante de um problema faz uma novela. Bota todo mundo na roda. É uma artista. Envolve a todos até que o problema se desfaça ou se transforme num baita dum rôlo.  
         A Vaneska fazia a Faculdade de Medicina ela mandava o Renato buscar a Vaneska para almoçar. Eram próximos ,a PUC e a casa dela. Se a Vaneska não pudesse ir, o Renato levava um lanche,  que a maninha fazia. Quando a Vaneska ficava muitas horas em aulas e plantões e precisava descansar, advinha quem mandava as chaves da casa para ela ir dormir ? 
        Resumindo :  ajudou nas horas mais necessárias e espontaneamente. E sem querer nada em troca.  Aí é que está o real valor da pessoa.   Ela realmente é inesquecível !    Temos algumas divergências,   mas todas controladas e administradas pela admiração profunda que temos um pelo outro.       Mas mesmo que eu tivesse problema crônico com ela ,  eles teriam que ser esquecidos porque os meus filhos tem adoração por esta moça. Sempre foi uma pessoa preocupada com eles. E eles a adoram. Sem exceção!  A Janaina, a Vaneska e o Gugu  adoram a tia Maninha que era uma "mala" quando ensaiava as festinhas de natal. E que não permitia que ninguém comesse nada antes da meia noite. .  Muita gente já se incomodou em fazer menção infeliz referente a Nilba ( seu nome )  na presença de meus filhos. Eu próprio já me incomodei.  Falar da maninha perto da Vaneska é comprar uma briga com uma inimigo feroz e grossa !   A Vaneska me disse um dia desse.  -A Maninha é a pessoa que eu mais gosto da família.   É a melhor porque é .      E ponto.  Sempre existe o lado cômico de todas as coisas. 
           No passado, nas festas de Natal e Ano Novo que eram todas na casa da Dona Olga,  a maninha ensaiava o teatrinho com os sobrinhos. Era um show que  existia antes da refeição. Aí é que era o problema. Ninguém podia pegar um palito na mesa cheia de iguarias.  Ela cuidava desse detalhe como um “buldog”  à beira da mesa. Era divertido. Estávamos todos morrendo de fome! Uma vez, o Seu João, hoje com 94 anos e admirador do Alzeimer,  “ afanou”  uma perna de peru e foi visto e fotografado comendo o bicho atrás de uma porta !  Ela era intolerante. E no Natal, depois dos abraços e aquelas coisas todas de cumprimentos ainda vinha a distribuição de pacotinhos para todas as pessoas. E depois sim. Podiam ir à mesa. Quase uma hora depois ! Era uma judiaria. E ela firme como um comandante da  Gestapo.  Outra característica. Chorava na meia noite de natal e ano novo. Talvez porque a data seja realmente envolvida por uma atmosfera de tristeza. As próprias músicas representam a melancolia da hora.  Outro detalhe. No Natal e no Ano novo ela se permite encher a cara de  champanhe.  Mas só no Natal e no Ano Novo.  Pode ?

                 Depois ela casou, e em seguida a Renata nasceu.     Há uns  sete  anos atrás,  às  11h da noite, no Natal,  ela serviu a refeição para a Renata sob os curiosos olhares de todos. E exatamente naquele dia  ,um dos últimos em que a família se reunia toda. Nestes encontros compareciam figuras fixas e variáveis. A minha mãe esteve algumas vezes. A dona Dina mãe do Nelo também. O pai do Renato também. O tio Bindo também.  Estes já estão no Oriente eterno.    

            Hoje a história é bem diferente.  Os encontros são eventuais. A Maninha sempre comandou os encontros. Há poucos dias, novembro de 2007,  a sua mãe fez aniversário e a comemoração foi na casa da Nilza. Todos compareceram menos a Maninha e família.        Ela decide e dá a desculpa.   No caso do aniversário dos velhos, eles sempre passaram com ela. Ela os levava para um restaurante e nós outros nem éramos convidados.  E quando excepcionalmente  eles passam com os outros filhos, ela não aparece. E as desculpas se sucedem. A cada ano uma. E isto tudo ao longo de trinta e cinco anos que eu sou testemunha.   Já ouvi todas as desculpas e não enumerá-las aqui por que seria enfadonho.

        Os tempos são outros.  Vou fazer um capítulo especial para o Renato um companheiro que a vida ( ? ) nos separou e sobre a filha da maninha a Renata que este ano , incrivelmente, não foi autorizada a estudar comigo. Recebi a informação que não era necessário. Ano passado ela estudou e das 25 questões de física e matemática acertou 21 e 20. Só se esqueceu a senhora sua mãe que cada vestibular é diferente do outro. Resumindo: a nossa afilhada não pode estudar no nosso curso este ano. Dá para entender ? Os concorrentes da menina  estudam em grupos como o nosso. O próprio pré vestibular que ela estuda tem um estudo separado em grupos, o Curso Gabarito que prepara os amigos do Rei. Mas a mãe não sabe disso e não procura informar-se com quem sabe só porque é cabeçuda. 

                    Amanhã  falo no meu querido amigo Renato esposo da maninha e na filha dela, que por incrível que pareça conheço mais pelo Orkut.      Nesta família as pessoas só se encontram em hospitais e em enterros. Fiquei conhecendo muitos parentes de meu sogro nos enterros. Tudo está se encaminhando para uma situação assim e geral.. 
Continúa