A IDADE DA RAZÃO - QUAL RAZÃO? (REPRISE)

Com 16 anos de idade, queremos logo chegar aos 18. Os homens pra poder entrar em filmes de sacanagem, ir pra zona sem medo da policia e pra estufar o peito e dizer pra todo mundo que somos "maiores de idade". As mulheres pra não ter hora de voltar ou pra sair de casa e ser independente... os peitos já estão estufados. E esta maioridade vem com as cobranças familiares e sociais de "o que você vai ser quando crescer" ... e tome escolas e faculdades, primeiro emprego, primeiro casamento, primeiro filho. Primeiras dívidas. Primeiro tudo do crescimento. Os pais e a sociedade sorriem satisfeitos ... "eu não disse que ele/ela iria conseguir?" Ou o início da cobrança - "valeu todo nosso esforço". Com 30 anos, estamos tão envolvidos com o trabalho e com as conquistas, os desafios e os planos de crescimento (da Empresa dos outros), que não vemos o tempo passar ... passamos com o tempo. Aos 40 anos - puxa, quarenta anos já? - sentimos o quanto falta e o quanto foi feito. Mas como ainda somos fortes e "jovens" de cabeça, dá pra levar esta loucura que é a vida por mais tempo ... e descobrir que esquecemos o que queriamos construir, conquistar, curtir. Ainda devemos parte da casa que compramos, o carro não é lá essas coisas, mas ainda atende, a poupança vai embora em janeiro e fevereiro de cada ano pagando material escolar, novas anuidades e taxas das escolas dos filhos, prestação da casa, imposto sobre a casa que compramos com nosso dinheirinho suado, imposto sobre o carro que compramos com nosso suado dinheirinho, juros que pagamos as financeiras e bancos, imposto e mais a conta do telefone que mesmo não gostando do serviço vou ter que ficar por um ano e pagando impulsos medidos pela empresa de um modo que só ela sabe, imposto para andar com o carro nas ruas esburacadas, mal sinalizadas, inseguras, invadidas e com nome de parentes de políticos que nunca ouvimos falar, imposto sobre o arroz e o feijão, imposto da energia elétrica junto com a conta de consumo que nunca ficamos sabendo como é medida, taxa de iluminação pública daquele único poste com a lâmpada queimada, multa do atraso do pagamento da conta de energia elétrica, mas nenhuma compensação quando ela falta, imposto sobre a conta de água mais a água que consumimos quando tem água e ainda taxa do esgoto que não existe, multa sobre o atraso da conta não paga no dia do vencimento, como se necessidades básicas de sobrevivência fosse supérfluo, desconto de Imposto Provisório Sobre Movimentação Financeira, pra pagar a saúde dos políticos e afiliados e afilhados e de seus "dependentes", impostos sobre o pagamento do meu salário para pagar a saúde dos políticos e afiliados e afilhados e de seus "dependentes", imposto sobre meus subterfúgios - meu cigarro e minha cerveja, meu tira-gosto e minha cachaça - imposto sobre o presente de minha mulher e de minhas filhas e netas. E é claro que estou esquecendo um outro tanto de impostos que pagamos para sobreviver e que nunca fazemos uma relação completa por que de nada vai adiantar. Afinal, a Receita Federal está sempre certa, mesmo errada. Podemos tentar no máximo, mudar de imposto pra suposto. Ou encôsto. E a gente só pensava em viver , principalmente, não em sobreviver. Com 50 anos, jovem para aposentar - segundo os sábios Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inacio da Silva ( que aposentaram cedo) , e velho para o mercado - segundo as jovens e belas psicólogas de recutamento das empresas, não temos como ousar em partir para novas aventuras de mudança ou crescimento profissional. Ou continuamos na mesma empresa por mais 15 (quinze) anos ou estaremos irremediavelmente desempregados - ou sub empregados - há muitas vagas para fiscal de loja, empacotadores, recepcionistas e outras profissões que não exigem tanta experiência ou cultura organizacional, cursos técnicos, formação superior ou inferior. Aos 60 anos descobrimos o quanto somos inteligentes, sábios, perspicazes, e arrependidos. E ficamos nos cobrando não ter feito mais e melhor. Aos 70 anos não sabemos como chegamos até aos 70 anos. E descobrimos que deveríamos ter começado a viver quando nascemos. É a única idade da razão que faz sentido. Qual razão eu não sei ...