Estava tudo vazio...

Estava tudo vazio. Nem deveria estar assim. Mas estava. Tinha toda aquela

sensação do nada presente em cada um daqueles cantos. Um mais vazio que o outro. Nem imagens possuia, para deixar esse vácuo ainda maior. Nem uma pequenina brisa ousava se movimentar, amargando ainda mais o lugar. Seco.

Muito seco. Tão seco que até doía quando se tentava lançar o mais humilde dos olhares. E triste. Daquela tristeza, que mesmo com vontade de chorar, nada saia, nada aparecia, tal era a secura. Se não bastasse vazio e seco, ainda era feio. Uma feiúra de matar qualquer um de susto.

Que coisa de louco. Nem dava para entender como podia ser tão horrível. Não se parecia com nada. Nada ainda tinha alguma coisa. Mas lá, não tinha absolutamente nada de nada. Mais tarde, soube-se de mais uma, que arrebentou de vez com a coisa. E era só o que faltava. Era também de uma pobreza de virar do avesso. Mas que angústia. Nunca se viu tantas desgraças juntas numa coisa só. Parecia que nem vida tinha. Afinal, vazio, seco, feio e pobre, não faltava mais nada, pois mais alguma coisa, o que podia se esperar mais? Só abrir um buraco ou explodir de vez. Mas continuava lá. Parada, largada, colada a quase tudo e todos. E aí de quem encostasse nela. Arrumava briga para o resto da vida. Com todos esses benefícios em suas costas. Era uma praga, daquelas que quando se pega, atropela toda sua existência. E na pura ignorância. O mais certo era passar bem longe, mas longe mesmo. Senão, podia se contagiar com esse poço de terríveis propriedades. Só de olhar já arrepiava até o último fio de cabelo e a alma. Qualquer mensura tragava o infeliz em suas teias e dissecava-o sem piedade. Alguns ousavam passar por perto, dizendo-se imunes e se afundavam como um martelo na água. Além de passar longe, era preciso também ignorar a sua

existência. Só assim diminuia sua força.

Só assim se execrava a traição.

Peixão89

Peixão
Enviado por Peixão em 29/03/2005
Reeditado em 29/03/2008
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