Guerra (Paz)

Guerra (Paz)

Guerra...

PAZ...

Guerra...

Paz...

Vivemos em época de guerra. Porém, sempre em busca da Paz. Não estamos conseguindo fugir das guerras, mas queremos sim viver em paz.

Atualmente, estou morando em Israel, país que a mídia costuma relacionar com guerras. No entanto, ao andar pelas ruas de Jerusalém ou de Tel Aviv, encontra-se muita alegria, tranquilidade, e consequentemente, Paz. Já no Brasil, em muitos momentos, quando se caminha pelas ruas de grandes cidades, como Rio de Janeiro ou São Paulo, não se encontra paz, e sim, guerra. Infelizmente, várias guerras.

Israel é um país belíssimo, com um povo em grande parte hospitaleiro e educado, que almeja a Paz. No entanto, geograficamente, o país é sitiado, cercado por nações historicamente inimigas, por questões territoriais e religiosas. Ou seja, querendo ou não, aqui se respira a palavra guerra.

Atualmente, aqui se vive um momento de Paz. Mas nunca se sabe se no dia de amanhã pode explodir alguma guerra.

As Forças Armadas são uma verdadeira instituição aqui em Israel. Para se prevenir de eventuais invasões e conflitos, a nação israelense tem no exército um de seus maiores orgulhos. No caso de alguma possível guerra, os soldados sempre estão em treinamento e em alerta. Mas a grande maioria dos combatentes de plantão, e principalmente, as suas respectivas famílias são amplamente favoráveis à Paz.

A segurança pública é uma verdade em terras israelenses. Polícia, exército, guardas municipais, todos efetivamente cumprem suas funções por aqui. Além disso, a população local ajuda, e muito. Um alto índice de educação e civilidade são encontrados na Terra Santa.

Os índices de criminalidade são baixos, e existe enorme tranquilidade para sair e andar até altas horas da noite, e poder voltar a pé para casa sozinho sem maiores preocupações, o que garante uma total atmosfera de Paz. Já no Brasil, voltar de madrugada sozinho para casa num final de semana, especialmente nas grandes cidades, não é seguro, definitivamente. Você nunca sabe se vai voltar vivo para casa, denotando, infelizmente, um caráter de guerra, e não de paz.

Por outro lado, o Brasil não possui um histórico marcado por guerras. Além disso, a pátria brasileira não possui maiores problemas com seus respectivos vizinhos. Em Israel, no entanto, as fronteiras são vigiadas, e desde a criação do Estado israelense, em 1948, o país, após várias invasões, viu-se obrigado a entrar em várias guerras. Neste aspecto, o Brasil conhece melhor o significado da palavra "Paz".

A guerra civil não declarada que enfrenta o Brasil e a verdadeira paz encontrada nas ruas e comunidades de Israel fazem parte de uma complexidade que os dias atuais nos apresentam. Conceitos como "Guerra" e "Paz" parecem estar sendo colocados em xeque, num mundo onde definitivamente não se sabe o dia de amanhã.

Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Gaza são os países que fazem fronteira com o território israelense. Destes, apenas Jordânia e Egito possuem relações diplomáticas com Israel. Gaza, que recentemente encontrou sua "independência", vive sérios problemas humanitários, e é controlado pelo "Hamas", grupo terrorista que bombardeia as fronteiras com Israel, e que tem entrado em conflitos, que, infelizmente, atingem inocentes vítimas dos dois lados. A corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Na fronteira entre os dois países, há um quadro instalado de guerra, e não Paz.

O Iraque não fica muito longe daqui. Apenas a Jordânia separa geograficamente Israel do país do ex-ditador Saddam Hussein, e que foi covardemente invadido pelos Estados Unidos. Partindo de um marco horrível da história da Humanidade, que foi o 11 de setembro de 2001, os governantes norte-americanos - leia-se George W. Bush e seus comandados, além de toda a indústria bélica e petrolífera que patrocinam a injustificada e desumana ocupação no Iraque - resolvem, numa tentativa de retaliação e sob o pretexto de "manterem a ordem e a segurança do mundo", invadir o Afeganistão e Iraque, dois países pobres e submetidos a opressores regimes de governo, marcados pela intolerância religiosa.

Esta invasão acabou gerando ainda mais violência, e tragédias diariamente ocorrem ali, dizimando parte significativa das populações locais, mais uma vez vitimando inocentes, além de causar destruição, caos, insegurança e fome. A fome é uma das mais tristes e cruéis consequências de uma guerra. Ao invadir as terras iraquianas, as Forças Armadas norte-americanas, através de seu presidente George W. Bush, infelizmente não trouxeram paz, muito pelo contrário. Os confrontos com as mílicias locais instalaram um panorama de guerra sem precedentes. Soldados americanos e suas respectivas famílias também são vítimas, e pedem o fim desta injustificada ocupação, como atestam vários movimentos de ex-combatentes americanos no Iraque, tais como o "IVAW" - Veteranos do Iraque contra a Guerra.

Parte da população iraquiana viu-se obrigada a se mudar às pressas para os países vizinhos, no caso Jordânia e Síria. Em condições precárias e tendo que recomeçar do zero, várias famílias buscam a sobrevivência fora de seu país. Decorrente de toda essa situação, um verdadeiro "vácuo" educacional ocorreu com a juventude iraquiana, onde quase 100% das crianças daquele país se viram fora da escola. Felizmente, organizações não-governamentais ligadas à ONU vem atuando nesse sentido, possibilitando o sagrado acesso à educação, que as crianças do Iraque perderam, devido ao caos estabelecido por essa brutal guerra. Espera-se que essas crianças e toda a população também reencontrem a Paz.

"Iom HaShoá" é o dia de lembrança aos mortos e a resistência ao Holocausto, celebrado este ano no dia Primeiro de Maio aqui em Israel. Ao mesmo tempo em que manifestações trabalhistas proliferavam mundo afora, reinvidicando melhores condições de trabalho, Israel relembrava uma das mais tristes páginas da história da Humanidade: o Holocausto contra os judeus na Segunda Guerra Mundial, onde mais de seis milhões de pessoas foram brutalmente assassinadas pelas forças nazistas.

Em especial, esta data marca o aniversário do Levante do Gueto de Varsóvia, um foco de resistência organizado por judeus da Polônia naquele período. Acima de tudo, foi uma luta pela Vida, pela dignidade e pela liberdade de um povo, que estava sendo cruelmente perseguido e assassinado. Relembrar da guerra para reconstruir a Paz, e permitir que o Amor e a Compaixão reapareçam, para enfim se exterminar a injustiça e a intolerância.

"Iom Hatsmaut" é a data de independência do Estado de Israel, comemorada quinta-feira dessa semana, dia 8 de maio. Na ocasião, Israel comemora exatamente 60 anos de emancipação política. Várias festividades estão sendo planejadas, e claro, espera-se que a Paz reine nesta comemoração, e que não precisemos falar sobre guerra.

Permitam-me agora abrir um parênteses, para enfim poder falar sobre alegria, festa, música, cinema, artes, esportes, natureza, solidariedade e amor. Permitam-me agora abrir o parênteses que dá título a este texto, para que enfim a Paz se liberte, e para que eu enfim possa escrever a palavra PAZ com letras grandes. Talvez esta tarefa esteja nas mãos de todos nós. Guerra não, PAZ sim!!

(Jackson Sardá, 30 anos, jornalista, brasileiro, residente em Jerusalém, Israel).