O DIA A DIA  NO EITO
Na madrugada o toque dos sinos acorda os negros.O feitor verifica se estão todos de pé.A ração é distribuida:mandioca,frutas,a doce garapa de cana.Todos para o eito;vão á pé,carregando seus instrumentos de trabalho,mais a ração do meio-dia:farinha seca e jabá(carne de sol).Antes param em frente á capela,para as orações coletivas.Depois de rezarem para um deus imposto e,que de nada lhes vale,seguem descalços para as plantações,vestidos de baeta,mesmo tecido que também lhes servia de cama.Trabalham sob os olhos atentos do feitor,geralmente um negro fôrro ou branco pobre,que os odeia.Qualquer deslize a chibata assobia no lombo desguarnecido.De volta,ao escurecer,a refeição da noite:restos do que sobrou da cozinha do senhor,pedaços de carne menos nobre,rabada,carnes secas,pés de porco,orelha,acém;daí,nasceu a nossa feijoada.Cansados da luta e alimentados,batia a saudade.Alguns pitavam seus cigarrinhos de palha;nesta altura chegava o preto-velho,uma especie de curador;cuidava das feridas do corpp e da alma.Eximio conhecedor de mézinhas e ervanario,era chamado até na Casa Grande,quando o cirurgião que lá residia-o barbeiro,mestre em sangrias-não dava conta do recado.
Como o número de escravos suplantava o dos senhores,pintava o medo.Daí a crueldade para evitar revoltas e medidas psicológicas e religiosas de convencimento á aceitação e obediencia,uma especie de "brain-washed"patrocinada pela igreja;-"é assim mesmo,seja obediente que ganha o céu,ame seu patrão etc.etc.etc...Quando essa arenga não resolvia,vinham os castigos.A gargalheira,que os sujegava pelo pescoço;o cepo,pesado tronco amarrado aos ombros;e o tronco,onde eram amarrados e chicoteados pelo feitor,armado com o "bacalhau",chicote de seis ou oito pontas,que terminavam em pontas de ferro.Ainda os conheci em algumas fazendas do recôncavo,onde abundavam engenhos de cana.Quando não havia revolta,vinha o banzo,uma especie de loucura mansa,alheiamento total da realidade.
A vida dura dos escravos garantiu o crescimento da economia ,no Império e o surgimento de grandes fortunas.Mas,havia revoltas,também...Amanhã,falaremos disso,ou seja,dos malês,uns negros danados de corajosos,
Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 14/05/2008
Código do texto: T988799
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