Eu entrevistando eu - VII

R _ Bom dia pra você que veio aqui me ver entrevistando eu. Bom, então vamos à entrevista, o Enzo já chegou e ta doido pra falar algumas coisas. Ô Enzo, o que você quer falar véi?

E _ Cara, eu queria mesmo, mas tem algo (uém) aqui que me desconcentrou pra valer.

R _ O que é?

E _ Ah véi, não é legal falar o que é, já que não é comigo, é que o sentimento alheio exposto me incomoda se não estiver num livro ou numa tela.

R _ Porque te incomoda?

E _ Acho que fui criado assim, não pela minha mãe ou família, mas pela sociedade em geral. Repara como várias pessoas se escondem atrás dos óculos escuros num velório, se alguém chora na rua, as pessoas passam e olham desconfiadas, com um certo receio de saber o que é, se riem às gargalhadas, ainda pode parecer legal, mas acaba por ser taxado de descontrolado. Mas o choro é realmente o que a sociedade quer banir da realidade e deixar somente na ficção. Repara como quando uma pessoa chora na rua num sábado a noite, ao ver o amor se despedaçar nos braços de outro, o mico que é, mas isso numa novela que lindo seria...

R _ É... Mas porque a formação desse costume, desses conceitos, dessas atitudes?

E _ Eu poderia tentar explicar historicamente, mas a poesia me

trás angulos ainda muito conturbados pra uma explicação concisa, acho que devido vivermos numa sociedade onde a estabilidade é a maior virtude, banimos as emoções fortes. O choro ou pulo de alegria, ou o abraço extremamente forte e apertado ou um grito de raiva ou felicidade são considerados extremos das emoções, no "emociômetro" eles atingiriam alturas que indicariam instabilidade emocional. Rir demais é desespero, chorar demais é depressão, portanto não faça um ou outro...

R _ Você não concorda com isso?

E _ Lógico que não cara, repara como a estabilidade tira a emoção da vida, lágrimas mudas, sorrisos medidos, tudo isso só vai nos levar a sermos bem vistos pelos outros, mas acaba por parecermos mortos, sem altos e baixos, sem estripulias a vida não corre, é quando dói que agente sente o coração, é quando rimos à gargalhadas, que sentimos o pulmão buscando ar, a cérebro latejar...

R _ Então você quer que todos sejamos loucamente líricos?

E _ Loucamente não sei, porque não sei o que é loucura. Mas lírico, sentimental, sim. É lógico que a estabilidade vez ou outra faz bem, mas não nos devemos preocupar em saber se estamos estáveis ou não, devemos viver as emoções, deixá-las transparecer e não ficar escondido num banheiro, limitando o próprio choro dentro dos azulejos e do peito. Se quer chorar ou rir, faça! Não espere um personagem de livro, música ou TV fazer por você. Se esa muito tempo equilibrado na corda, faça-a balançar e se arrisque a cair, faça o coração bater mais rápido, mais forte.

_ Cara, gostei muito da nossa conversa hoje, queria depois, continuar falando disso com você.

_ Uai, mas não podemos falar agora?!

_ Pode não sô, você num ouviu mãe chamando agente? Ela ta precisando que agente vá no supermercado...

_ Então vamos falando disso.

_ Podemos, só que a galera que quer continuar lendo isso aqui não vai poder ler se não estivermos digitando a conversa...

_ Ah! É bom que eles vão viver a vida, se balançar na corda ou refletir sobre o que já tá aí, sei lá cara, depois agente vem e passa a entrevista aqui de novo.

_ Então tá!... Essa foi mais uma entrevista com eu! Tenham todos um dia cheio de emoções afloradas! Obrigado!

_ Obrigado!

_ Corta!

Enzo Pinho
Enviado por Enzo Pinho em 13/12/2008
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