MAURÍCIO MARCHINI - PAPO CABEÇA

Pastor evangélico e cantor, Maurício Marchini comanda programa de entrevista na web, com bastante humor e irreverência

Criada nos anos 1970 pelos chamados bichos-grilos – aqueles malucões adeptos da sociedade alternativa oriunda do movimento hippie – em meio a toda efervescência cultural e liberalismo vivenciados pela juventude da época, em pouco tempo a expressão “papo cabeça” se tornou sinônimo de diálogo descontraído entre indivíduos tidos como inteligentes, capazes de discutir, mesmo que sem total conhecimento de causa, os mais variados assuntos e temas relacionados à natureza humana, ou seja, um papo informal, mas isento das banalidades e trivialidades inerentes à vida cotidiana. Incorporada ao linguajar popular, desde então a gíria nunca mais saiu de moda; pelo contrário, década após década continua sendo empregada, especialmente pela galera mais jovem, como um legado de gerações passadas. Moço ainda e com jeitão descontraído, o cantor Maurício Marchini nunca foi bicho-grilo, mas também é adepto a um bom batepapo. E apesar da “pouca” experiência midiática, com ele próprio confessa, desde o primeiro semestre o pastor da Minha Vila – Igreja do Evangelho Quadrangular Vila Esperança, em São Paulo, tem se saído bem como apresentador do Papo Cabeça, programa semanal de entrevistas cuja receita pode até ser considerada um tanto quanto antiga – uma miscelânea de informação, entretenimento e humor – mas o formato de transmissão é ainda inovador, levado ao ar exclusivamente pela Web TV, uma tendência que a cada dia tem ganhado mais espaço nas redes virtuais e conquistado uma nova legião de adeptos: os internautas. “Embora ainda estejamos engatinhando nesse aspecto, a conexão por banda larga irá se popularizar muito no país. Porém, as transmissões pela web nunca irão ameaçar ou tirar o público da TV aberta; pelo contrário, no futuro elas irão trabalhar juntas”, aposta o diretor Marcelo Theilicke, considerado um dos pioneiros nas transmissões realizadas ao vivo pela internet.

Diferente dos programas transmitidos pelas redes convencionais em que o telespectador, salvo raríssimas exceções, não passa de um mero receptor, no virtual Papo Cabeça a participação dos internautas é muito mais direta e instantânea. “Os jovens estão sempre ligados nos assuntos da atualidade, mas esperam poder falar a seu modo. Essa é a nossa proposta, e a internet tem sido o canal onde a moçada se encontra para a discussão de temas relevantes”, defende a produtora Elisandra Amâncio. Evangélica que congrega na Igreja Batista da Lagoinha em Belo Horizonte (MG), ela aponta o humor, uma das marcas registradas do programa, como um dos ingredientes que o fez cair nas graças de milhares de usuários – o índice de audiência é apurado com base na participação do público durante as transmissões ao vivo. “É possível falar de assuntos sérios com humor, sem que se tornem chatos ou desinteressantes”, emenda a jornalista.

Se a princípio, a intenção de Maurício Marchini era produzir algo explicitamente evangélico, a ideia foi por água abaixo logo nas primeiras reuniões realizadas com a equipe da ClicTV, emissora integrante do Portal UOL onde o Papo Cabeça é veiculado. Entretanto, embora desprovido de características eminentemente espirituais, o programa tem atraído a atenção de evangélicos, seja pela confissão religiosa do apresentador ou simplesmente para desmistificar um pouco aquela falsa ideia de que crente só abre a boca para falar de Deus. “Como todos os programas da emissora devem passar credibilidade ao público, tivemos o cuidado de orientar o apresentador para que ele não mencionasse no ar sua atividade pastoral. Isso não quer dizer que eu seja contra aquilo que se produz para os evangélicos; quero apenas que todos assistam ao nosso programa, independente de religião”, explica Theilicke, que também é idealizador e diretor da emissora virtual. “Tínhamos que formar um programa neutro e desprovido de credos; todavia, meus convidados poderiam ficar extremamente à vontade, e isso me cativou”, complementa Marchini durante entrevista abaixo:

JDM - Como você se tornou evangélico?

MAURÍCIO MARCHINI - Na verdade eu nasci em berço evangélico, mas minha decisão de reconhecer Jesus Cristo como o único e suficiente salvador aconteceu aos oito anos de idade. Fui tocado pelo amor de Deus presente em minha vida, e atendi ao convite por intermédio do reverendo Nelson Agnoletto – pastor da Igreja do Evangelho Quadrangular da Penha, São Paulo, desde a sua fundação. Essa foi a melhor decisão que tomei na vida.

Como surgiu o convite para apresentar o programa Papo Cabeça?

Logo após um culto realizado na minha igreja, um grande amigo e um dos bateristas do ministério de louvor local me perguntaram sobre a possibilidade de eu aceitar fazer um programa evangélico na TV. Prontamente me assustei, mas disse que poderíamos estudar a possibilidade. Então marcamos uma reunião com o diretor da emissora da ClicTV, e os idealizadores me apresentaram as propostas do programa. O engraçado é que nada do que havia sido tratado antes agradou os que me acompanharam na reunião, incluindo meu amigo. A ideia inicial era fazer um programa evangélico onde poderíamos cantar, orar e adorar a Deus explicitamente, mas a proposta era exatamente o avesso. Tínhamos que formar um programa neutro e desprovido de credos; todavia, meus convidados poderiam ficar extremamente à vontade, e isso me cativou. Senti estar diante de uma grande oportunidade de evangelizar o mundo, sendo oportuno nos assuntos e nos temas de cada programa. É importante destacar que o Papo Cabeça não é essencialmente para os evangélicos. Na realidade a proposta é para todos os públicos e credos; entretanto, por eu ser pastor e até mesmo pelos convidados que têm participado, pode causar essa impressão ao público.

E como você avalia a experiência como apresentador?

Antes de iniciar a carreira de como cantor, fui líder de louvor na igreja onde congrego e meu pensamento era todo voltado para o evangelismo e crescimento local. Nunca pensei em me relacionar com mídia alguma, e hoje vejo que esse formato deu muito certo e estou completamente sedento de conquistar cada dia mais espaço na vida das pessoas que me assistem ou que venham a me assistir. Sem que precisemos proferir tais palavras, nossa mensagem tem sido “Jesus Cristo é a solução”.

Justamente por você ser pastor, é possível avaliar a repercussão do programa junto aos evangélicos?

Sinceramente eu estou surpreso, pois não imaginava que atingiríamos tantas vidas e até mesmo a direção da nossa emissora em tão pouco tempo. Por mais que a primeira reunião tenha deixado a todos apreensivos e um pouco tristes por não poderem orar no ar, Deus me revestiu de paz para assinar o contrato. Vejo que o Senhor nunca me desampara nas decisões, e por isso intercedemos por cada minuto do programa.

Em sua opinião, esse formato descontraído e bem-humorado do programa pode se tornar alvo de críticas por parte dos cristãos mais conservadores? Como fazer para também atrair esse público?

Por não ser um programa de características gospel, não sofro nenhum tipo de critica dos evangélicos ou de adeptos de qualquer outro credo. Os convidados, temas e a propostas têm causado um grande impacto em todos os internautas que nos acompanham semanalmente. Mesmo que eu não fale com essas palavras, tenho o cuidado de expressar o amor de Deus a cada convidado que nos mostra uma mudança de vida, que canta uma música ou fala de um assunto qualquer. Não tem jeito de todos serem conquistados, mas o amor e a palavra cativam e a vida pode ser muito diferente quando se encontra Jesus Cristo pelo caminho.

Nesse tempo em que o programa está no ar, teve alguma passagem, entrevista ou momento que o marcou de maneira especial?

Sem dúvidas cada edição é um marco, uma história diferente. Posso citar o dia em que, entre tantos apresentadores renomados e programas de alta qualidade, o meu foi selecionado para entrevistar o diretor da emissora por ocasião do aniversário de três anos da ClicTV. Por eu ser praticamente um novato, essa passagem realmente marcou minha pequena trajetória de apresentador.

Fonte: Revista Eclésia - Edição 145

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José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 10/11/2010
Reeditado em 12/03/2012
Código do texto: T2608033
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