Educação e sexualidade

O Grupo de Pesquisa e Extensão em Filosofia da Educação (GPEFE) apresenta uma Entrevista com Profa. Dra. Cláudia Bonfim. Ela fala sobre educação e sexualidade. Vale a pena conferir!

GPEFE: Como você vê a educação para a vivência da sexualidade nos ambientes da família e da escola na atualidade?

CB: Historicamente, a sexualidade sempre foi um tema velado, reduzido ao ato sexual e à reprodução. Esse é um dos motivos que ainda hoje deixam essa temática à margem de um debate nas instituições. Fala-se de sexo em todo lugar: na mídia, na sociedade, direta ou indiretamente, mas de maneira banal, mercantil, exacerbada, genitalista. Não se tem a dimensão de que a sexualidade é muito mais ampla do que isso.

GPEFE: Também na escola?

CB: Sim! Na escola, quando se fala, continua-se reforçando o caráter reprodutivo, biologista, genitalista e negativo da sexualidade, com palestras quase sempre ligadas à DST´s e Aids. Consolidando a visão reducionista e negativa da sexualidade.

GPEFE: Isso restringe a visão sobre a sexualidade...

CB: A sexualidade ainda é um tema restrito, porque as pessoas não foram educadas para conhecê-la. Aprendem que é feia, errada, suja, perigosa. Sentem-se envergonhadas ou tímidas. Desconhecem seu próprio corpo. Tratam-na de forma superficial. Não sabem como abordá-la.

GPEFE: Como abordar a temática da sexualidade?

CB: Queremos deixar claro que não estamos desconsiderando a importância do conteúdo biológico: as informações biológicas são fundamentais. Mas não são suficientes para a superação das problemáticas atuais. Temos que abordar a sexualidade com toda a seriedade e naturalidade que ela envolve.

GPEFE: Isso implica uma visão positiva sobre a sexualidade...

CB: Nossa abordagem tem que deixar de ser só do lado negativo da sexualidade, como tem sido feita quase sempre até hoje. Nós precisamos também disso. Mas só isso não educa ninguém. Aliás, os índices nos mostram isso. Não basta distribuir preservativo, nem colocar propaganda para o uso deles na televisão e fazer palestrar ensinando como usá-los, bem como falar de doenças e do lado negativo da sexualidade. Não basta PREVENÇÃO sem EDUCAÇÃO!

GPEFE: O enfoque na saúde é suficiente para uma educação emancipatória sobre o assunto?

CB: O foco na saúde é extremamente importante, mas insuficiente para promover a compreensão da sexualidade e levar as pessoas a se conscientizarem sobre sua importância para nossa qualidade de vida. Quanto mais silenciado um assunto, mais ele provoca a curiosidade. Portanto, abordem a sexualidade de maneira tranquila, natural, dizendo, sim, que ela é bonita, prazerosa. Que é a celebração da vida. Mas conscientizando os adolescente de que a sexualidade, como tudo na vida, exige maturidade física, psicológica, além do tempo certo para acontecer. Que não podemos queimar fases tão fundamentais em nossa vida. Que não podemos deixar de curtir e sentir prazer em ser criança, em ser adolescente, mostrando que todas as fases da vida tem seus encantos, seus prazeres e aprendizagens necessárias para nossa formação enquanto seres humanos.

GPEFE: Isso requer uma abordagem mais global da temática...

CB: Requer. Acreditamos que as vertentes anatômicas e fisiológicas não são suficientes para explicar a sexualidade, porque sexualidade não é uma questão apenas de corpo, como muitas pessoas pensam, nem se reduz ao ato sexual em si, ao sexo. A sexualidade é uma totalidade. Envolve nossa subjetividade: sentimentos, pensamentos, nossa realização como pessoa, nossa autoestima. A Sexualidade é um dos núcleos estruturantes e essenciais da personalidade humana, que não se reduz a alguns momentos e comportamentos. A sexualidade é muito mais que prazer momentâneo. É algo maior: é bem-estar.

GPEFE: Na prática, como escola e família podem mostrar isso?

CB: Penso que na escola e na família se dão as primeiras referências sobre as quais construímos a visão que temos de nós mesmos, corporal e subjetivamente, e, com base nelas, recursos para compreendermos e vivermos nossas relações afetivo-sexuais na idade adulta. Se essa educação sexual, ainda que informal, for carregada de pudores, limitações, dogmas, tabus, visões negativas e reducionistas, isso nos impedirá de viver nossa sexualidade de maneira saudável, qualitativa e plena. Portanto, a escola não pode mais continuar ignorando que é no espaço escolar que nascem os primeiros anseios sexuais, os primeiros desejos de encontro com o outro, os primeiros abraços, os primeiros beijos. É no espaço escolar que nascem, de fato, as primeiras interações sociais, a construção de identidades e subjetividade, o que significa que precisamos entender que a sexualidade está em cada um de nós, inerente ao nosso ser, desde que nascemos. Nosso corpo e nossa mente (psique) são o berço de todas as significações da vida.

GPEFE: Aí reside a importância da atuação da escola...

CB: Entendemos ser a escola uma das instituições mais importantes e privilegiadas de formação de masculinidades e feminilidades, de superação de dogmas, tabus e preconceitos arraigados na visão patriarcal da sexualidade segundo a qual fomos educados, visto que a família também se encontra enraizada numa educação repressiva e ainda não obteve os esclarecimentos necessários para a superação de sua visão sobre a sexualidade.

GPEFE: Nessa perspectiva, é preciso um trabalho familiar sobre valores a respeito da sexualidade...

CB: Eu disse anteriormente: acredito que os primeiros valores, sejam sexuais ou sociais, devem advir da orientação familiar. Porém, sabemos que a família, lamentavelmente, deixou para a escola mais essa demanda. Diante de uma sociedade sexualmente em crise, onde é cada dia maior número de gravidez não planejada, casos de pedofilia, violência sexual em todas as faixas etárias, doenças sexualmente transmissíveis, nossa ação deve ser educativa. Entendo que essa demanda da Educação Sexual deveria ser da família, mas muitos pais, por medo de perder o respeito e a autoridade perante os filhos, outros por não conseguirem compreender e viver de maneira plena suas próprias sexualidades, condicionados por dogmas religiosos, ou por desconhecimento, sentem-se constrangidos e deixam de abordar o tema.

GPEFE: Enquanto isso, a banalização segue a diante...

CB: De fato, temos que ter consciência de que vivemos numa sociedade em que a sexualidade foi banalizada e mercantilizada. Nós, educadores, vamos também fechar os olhos para uma problemática tão agravante? Diante de uma sociedade capitalista em que a mídia, especialmente a TV e Internet, induzem à erotização precoce, motivam novos padrões de relacionamentos e comportamentos sexuais, não podemos mais ignorar a problemática que se desenvolve em torno da sexualidade.

Portanto, se a família não tem proporcionado às crianças, adolescentes e jovens a formação e o discernimento sobre a sexualidade, consideramos que a escola não pode agir da mesma forma, ignorando tantos problemas sociais decorrentes da falta de uma Educação Sexual emancipatória e comprometida com o bem-estar do ser humano. A omissão apenas contribui para agravar o problema, gerar e aumentar preconceitos. A mídia é reflexo da sociedade, ressonância; ela não é causa. Portanto, a mídia, sim, incita e incentiva a vivência de uma sexualidade, mas a sociedade é que permite que isso ocorra.

GPEFE: É aí que volta a família...

CB: A família é a base na qual os sujeitos deveriam receber as primeiras informações referentes à sexualidade, sendo essa a primeira referência para que a criança construa sua identidade sexual e sua concepção primária de sexualidade e de cultura, identidade mais cultural do que inata. No entanto, a família condicionada pela visão histórica da sociedade não tem, em sua maioria, contribuído para a educação sexual. Muitas famílias silenciam, ignoram ou preferem ocultar a sexualidade dentro da educação de seus filhos. De um lado temos pais repressivos e, de outro, pais permissivos. E ambos acabam por educar de maneira negativa. Precisamos criar dentro do espaço social e escolar projetos que tragam a família para se reeducar, para debater sobre o tema e ampliar suas visões para que possam orientar seus filhos.

GPEFE: Além desse trabalho articulado entre família e escola, o que mais se pode fazer em nome de uma educação sexual saudável de todos nós?

CB: Nesse sentido, destaco a necessidade de projetos, palestras de Educação Sexual que envolvam a família, a qual não se vê preparada para dialogar sobre a sexualidade e, abordando-a, o faz de forma repressiva, incoerente e inadequada. A escola é subsidiária da família, portanto os pais devem ter consciência da importância e da necessidade de abrirem um espaço de diálogo com os filhos, fornecendo informações sobre a sexualidade, seja pelo diálogo, de livros de educação sexual, vídeos e/ou reflexões sobre filmes, programas televisivos, novelas, entre outros, tanto quanto conversas do dia-a-dia sobre valores e comportamentos que devem ser adotados sobre o que é, ou não, adequado e sobre o que deve ser rejeitado sobre esse assunto, desenvolvendo atitudes, valores, capacidade de discernimento e criticidade em relação ao próprio comportamento e de outros, para que possam viver uma sexualidade com liberdade, responsabilidade e naturalidade.

GPEFE: Redirecionando nossa conversa, como enfrentar a formação sexista de nossas crianças e jovens, essa que está na família e na escola?

CB: Primeiro, por meio de uma reeducação sexual de todos nós. Não se faz Educação Sexual de maneira dogmática ou doutrinária. Nem, todavia, pode-se sustentar um projeto de Educação Sexual sobre o voluntarismo espontaneísta, mesmo aquele carregado de boas intenções e altruísmo. A vontade deve ser o motor das práticas transformadoras, mas esta somente se completa com a consciência crítica que deve ser sistematicamente buscada pela Ciência e trabalho intelectual de pesquisa e aprofundamento, ou seja, pela formação.

GPEFE: Esse trabalho requer cuidado desde a graduação então...

CB: Sim... a inserção de uma disciplina na grade curricular da graduação dos cursos de formação de professores, Pedagogia e Licenciaturas, que supere a abordagem dos aspectos biológicos. Eis, aí, nossa defesa da inserção de uma disciplina na matriz curricular da graduação dos cursos formação de professores, Pedagogia e Licenciatura, que supere a abordagem dos aspectos biológicos. Embora saibamos que apenas isso não dará conta da problemática de gerações e gerações, mas pode ajudar a amenizar isso. Necessitamos de projetos e ações coletivas.

GPEFE: Além disso, que mais seria preciso?

CB: Precisamos de uma política pública para a sexualidade, que desenvolva um programa contínuo de educação sexual crítica, que forme consciência e valores éticos, que leve a compreensão da vivência da sexualidade em sua totalidade, que aborde a construção histórica, política, social e cultural da sexualidade humana, para que possamos compreendê-la e vivê-la de maneira qualitativa, saudável, prazerosa e emancipatória.

GPEFE: Concretamente....

CB: ... Precisamos, primeiro, esclarecer aos educadores e gestores o que é sexualidade, sua dimensão, sua importância na vida, nas relações, na formação do ser humano. Com base nesse entendimento, é possível começar a pensar na superação dos preconceitos e tabus relacionados à sexualidade. Já dizia Platão que a sexualidade não está separada da vida. Eros diz respeito mais à alma que ao corpo. Por isso, a mente é nosso maior órgão sexual. Nossa sexualidade não é pré-determinada. Vai sendo construída em nossas vivências afetivas e experiências, familiares, culturais e sociais. Ao falar de educação afetivo-sexual emancipatória, temos que pensar na pessoa em sua totalidade e falar de afetividade. É um aspecto central das nossas vidas, é desenvolvimento e relacionamento humano. E está presente desde que nascemos até morrermos. Está ligada a tudo o que nos dá prazer. À forma como nos relacionamos conosco mesmos, com o outro, com o mundo. A sexualidade envolve, além do nosso corpo, nossa história, costumes, relações afetivas, vivências, cultura, subjetividade. É um dos núcleos estruturantes e essenciais da personalidade humana, que não se reduz a alguns momentos e comportamentos, mas como um complexo que se integra no pleno e global desenvolvimento da pessoa.

GPEFE: O que a escola pode fazer para encaminhar uma educação sexual para a liberdade, a pluralidade, o respeito, o prazer nutritivo e a realização humana?

CB: Abordando também seu lado positivo, natural, significativo, belo, da sexualidade, como afloração da vida, perpetuação, humanização do próprio ser humano, como capacidade de encontro; não apenas de corpo, mas de alma, como capacidade de amar. A sexualidade envolve a magia do toque, troca de afetos, a união de corpos, o desnudar de almas. Alguns vão me dizer que essa educação afetivo-sexual crítica e emancipatória que defendo é uma utopia. Você acredita que essa educação sexual emancipatória é uma utopia? Pode ser. Mas como diria o poeta Eduardo Galeano, a utopia serve para caminhar.

GPEFE: Eu creio que a utopia alimenta o agir...

CB: Sim. O que não podemos é ficar assistindo estagnados à desumanização e à banalização de um dos aspectos mais belos da vida. Sexualidade, a palavra em si, traz uma espécie de encanto, afloração da vida, perpetuação, humanização do próprio ser humano. Ela sugere capacidade de amar. A sexualidade envolve a magia do toque, troca de afetos, a união de corpos, o desnudar de almas. Para a maioria da humanidade, porém, condicionada pelos dogmas religiosos e pelo falso moralismo social, arraigada num sistema patriarcal, falsamente moralista, numa sociedade hegemonicamente capitalista, em que o valor dos corpos é medido apenas pela força de trabalho e do potencial capital que esse corpo pode produzir, sexo e sexualidade ainda são assombrosos, pecaminosos, vergonhosos, ocultos, falados de forma velada, reprimida, secreta. Desejos são condenados, amores são limitados e restritos.

GPEFE: Isso leva a uma visão distorcida da sexualidade?

CB.: Leva! Quem dera a humanidade pudesse compreender a beleza e a potencialidade que a sexualidade nos traz, e o quanto mais humanos podemos ser, o quanto podemos viver plena, intensa e profundamente este aspecto tão essencial da vida. Então, como pessoa, mulher, mãe, docente e pesquisadora, os convido as pessoas para caminharmos rumo ao conhecimento e à superação dos embotamentos sociais, das vendas dogmáticas que trazemos nos olhos, dos tabus e dos preconceitos sociais, do embrutecimento capitalista dos corpos, da banalização dos afetos e da sexualidade. Convidamos todos a ler mais sobre Sexualidade, História, Filosofia, Epistemologia e a abrirmos nossas mentes e libertarmos nossos corpos, para que possamos entender que a vida por si só é o maior prazer de que podemos desfrutar; e que ela só se renova, se multiplica, se eterniza através dessa dimensão tão sublime, e, ao mesmo tempo, tão mal-compreendida pela nossa cultura e sociedade.

GPEFE: Essa educação cultual é importante à nossa realização...

CB: Claro! Para finalizar, vou parafrasear Riane Eisler: o dia que conseguirmos compreender de fato a nossa sexualidade, conseguiremos viver num mundo melhor e só então seremos capazes de perceber os mitos e os dogmas com assombro. Nos surpreenderemos com o fato de a história mais famosa da origem humana, a de Adão e Eva, no Gêneses, nada dizer de positivo em relação ao sexo, ao amor e ao prazer, de apresentar a busca humana de uma consciência superior como maldição, e não uma benção, e de sequer mencionar a admiração e reverência que experimentamos quando contemplamos e tocamos alguém que amamos.

GPEFE: O que você pensa sobre as abordagens sexistas da vida particular e social que, a pretexto de buscarem a igualdade de gênero, acabam por criar sectarismos, guetos e ódios de uns contra os outros?

CB: Se as pessoas se conscientizassem da importância da educação afetivo-sexual desde a infância, certamente o mundo seria melhor. Conseguiríamos diminuir esse quadro de violência sexual de todas ordens: pedofilia, violência contra a mulher, discriminação sexual, de preconceitos de gênero, de homofobia (e alerto: quanto mais se classifica as pessoas, quanto mais se formam grupos estanques, mais se segrega). Em vez de contribuirmos para a formação desses guetos e criarmos sectarismo, deveríamos nos unir todos em prol da humanização das pessoas. Mais do que pensar em diversidade sexual, TEMOS QUE DEFENDER A DIVERSIDADE HUMANA! Nossa luta deve ser por um mundo ONDE TODAS AS PESSOAS SEJAM RESPEITADAS, e não pela sua cor, sua religião, sua raça, sua etnia, sua orientação sexual, sua condição física, social ou cultural, mas, sim, pelo simples fato de serem HUMANAS, de possuírem vida e de necessitarem amar e serem amadas.

GPEFE: Sexo e felicidade: como ligar as pontas desses nós?

CB: Penso que as pessoas precisamos nos permitir vivenciar a sexualidade de maneira afetiva e plena. O mito do amor romântico ensina as pessoas a procurarem tudo fora de si, no outro. Projeta-se no outro todas as expectativas, projeta-se no outro a felicidade, que, na verdade, está dentro de cada um de nós. Essa coisa de “metade da laranja”, “encontrar a metade que lhe falta”, “a tampa da sua panela”, as pessoas precisam superar isso e entenderem que nós somos inteiros e não metades. E o outro vem para nos COMPLEMENTAR e que é bem diferente de COMPLETAR. Por isso, as pessoas vivem frustradas. E, em relação ao sexo, para se ligar esse nó falta cumplicidade, falta autoestima, falta entrega plena. Falta erotismo nas relações. E há que se dizer que erotismo é diferente de pornografia, e é que o alimenta o desejo sexual. Já dizia Platão "Depois de muito pensar, descobri que Eros, esse deus poderoso, diz mais respeito às dimensões da alma do que ao corpo!". Sexo se alimenta de erotismo, ou seja, da surpresa, do mistério, do inesperado. Assim como o amor, o tesão precisa ser alimentado.

GPEFE: É essa falta de visão mais global sobre a sexualidade o que permite a mecanização do ato sexual, desprovido de encanto?

CB: Tudo indica que sim. O ato sexual tem se mecanizado tanto que há pessoas que hoje em vez de fazer amor com um parceiro se habituaram a usar vibradores e bonecas infláveis (eu penso que isso é muito triste) e não caracteriza apenas carência sexual, porque, como eu disse, sexo de toda forma está à venda. É ainda pior: isso caracteriza a carência afetiva, as pessoas não tem alguém com se relacionar afetiva e sexualmente, eis a diferença. Precisamos superar os preconceitos e aquela ideia primeira, a de que fomos condicionados, moralmente, ou seja, precisamos entender o sexo como fonte de prazer e afeto (eventualmente como reprodução). O ato sexual é gerador de energia, de cumplicidade, de intimidade, de alegria, de prazer, de sentimentos necessários, prazerosos, bonitos e não o contrário, como alguns ainda teimam em acreditar.

GPEFE: São essas crenças que alimentam tabus e preconceitos em nossa sociedade?

CB: Os tabus e preconceitos arraigados em nossa educação sexual costumeira não nos permitem viver a plenitude de nossa sexualidade, nem nos descobrirmos por inteiros. Se nos permitirmos viver o erotismo com naturalidade e afetividade, certamente podemos ser mais felizes sexualmente. Não se culpe por amar-se sem medos. Culpe-se se não conseguir amar. Amar não é pecado, assim como cultivar o amor com doses de sensualidade, erotismo, sedução e prazer jamais será. Só quem vivencia ou vivenciou a experiência do sexo com afetividade pode entender sobre o que dizemos, pois já experimentaram o prazer em sua plenitude. Sexo por sexo é apenas sensação. Agora, sexo-com-afeto passa a ter sentido e significado. As fantasias eróticas são formas de potencializarmos nossa vivência sexual, contribuindo para que possamos transpor limites individuais e sociais morais, transcender os tabus e preconceitos, estimular-nos e estimular o outro a nos prepararmos para receber o outro. Assim como nos produzimos para uma festa, tornando-nos mais atraentes e se sentindo-nos mais seguros, devemos proceder quando o assunto é experiência sexual, pois, afinal, o ato sexual amoroso é a maior celebração de que podemos participar. É a festa de celebração do afeto e da vida.

GÉFE: A não vivência nessa perspectiva é responsável pela falta de comunicação entre as pessoas?

CB: Seguramente, sim. Quantos casais convivem, e não se conhecem, nem são, de fato, íntimos. Nada sabem sobre o outro. Lamentável, pois deixam de viver e saborear momentos que ambos desejaram, que poderiam ser comuns, mas que não foram realizados porque nunca foram declarados. Com isso, muitos casais se separam, e não é porque não existia amor, não existia era cumplicidade e compreensão da própria sexualidade. Essa falta de conhecimento é fator preponderante nos divórcios e causa da prostituição, a qual aumenta a cada dia.

GPEFE: Onde falta entrega humana aparecem os estranhamentos, incluindo o do exercício da sexualidade de maneira mecânica...

CB: É por aí... Quando alguns parceiros não entendem a sexualidade de maneira saudável, natural, e, sim, de maneira dogmática e moralista, o outro acaba, muitas vezes, indo buscar fora do relacionamento a realização das suas fantasias, tornando-se um dos fatores que alimentam a rede de prostituição. Reprimir as fantasias que são instintos naturais e saudáveis pode acarretar problemas emocionais e psicológicos. O autoconhecimento é fundamental. Precisamos nos conhecer enquanto homens ou mulheres, em todos os sentidos. Inclusive, a nossa sexualidade, nosso corpo. Não defendo uma sociedade banal, sou contra uma sexualidade mecanicista, muito menos de uma sexualidade mercantil e puramente hedonista. Mas penso que temos o direito de vivenciar a sexualidade de maneira prazerosa e em sua forma mais sublime, mediante a troca de carinho, a cumplicidade, a comunhão, no prazer, do ato que faz com que duas pessoas se sintam uma só. Mas, sem medos, culpas ou tabus, sufocando esse momento de celebração da vida. Afinal, como tudo na existência, como qualquer relação, o desejo sexual precisa ser cultivado.

GPEFE: Como o leitor pode entrar em contato com sua produção (blog, livro, trabalhos e assemelhados)?

CB: Em meu blog tenho centenas de textos e áudio-posts abordando todos os aspectos relacionados à educação e sexualidade. Sempre com o objetivo de provocar reflexões educativas que levem as pessoas a entenderem a necessidade e a importância da educação sexual de maneira crítica e emancipatória, vislumbrando a vivência da sexualidade maneira qualitativa, saudável, prazerosa, realizadora e afetiva. O endereço é o que segue: http://educacaoesexualidadeprofclaudiabonfim.blogspot.com/. No Youtube também tem um canal com todos os meus áudio-post sobre educação sexual. E meu email de contato é profdraclaudiabonfim@gmail.com. No blog, encontram-se as formas de aquisição do meu livro sobre a temática desta entrevista. Também temos nossa página no Facebook. É só chamar...

Fonte: http://gpefe.blogspot.com/