Relato comovente de um paciente borderline

Tenho 32 anos, recebi o diagnóstico há uns 7 anos.

Meus sentimentos sempre foram muito intensos. O pior deles, o mais dilacerante e nocivo, era o medo do abandono, a rejeição.

Essa possibilidade de ser abandonada me faz protagonizar as piores baixezas, fantasiar diálogos, fatos, pensamentos, na minha mente é tudo muito real e muito intenso.

O medo de ser magoada me põe na defensiva, e me faz magoar antecipadamente. Costumo ser cruel com as palavras.

Não sei se por causa do transtorno, mas desenvolvi uma habilidade pouco comum, encontro facilmente o ponto fraco das pessoas com que convivo, em geral é onde reside o seu medo de falhar, e na hora da raiva aponto de forma cruel, manipulo as pessoas através de suas culpas e falhas.

Isto me dá uma vantagem, de alguma forma eu as neutralizo.

Saio da condição de algoz. Quando não funciona, ou não produz o impacto que meu ego esperava, sou capaz de grandes agressões verbais, e físicas também.

Articulo vinganças. Coloco minhas vítimas em situações constrangedoras, expondo aos outros tudo que sei sobre elas. Depois sinto culpa.

Costumava tentar suicídio. Mas, na verdade, nunca desejei me matar. Era a única forma que eu via de expressar para os outros que eu sentia culpa, arrependimento pelo mal que causei.

Queria novamente, sair da condição de algoz, parecendo vítima.

Hoje em dia consigo conviver um pouco melhor com o transtorno.

O primeiro passo, decisivo pra mim, foi aceitá-lo.

Agora eu sei, que o que eu sou, não é de todo culpa minha. Quando era bebê, quase fui assassinada, em condições que não quero citar, pra não expor ninguém.

Situações assim, de grande stress, destróem importantes áreas do cérebro. E isto aconteceu comigo. Alivia um pouco a culpa por eu ser quem sou.

Eu também sofro por ser assim. Também sofro quando alguém me rotula de desequilibrada e louca.

Dentro de mim há um perfil de serenidade, a pessoa que eu gostaria de ter sido, mas eu sei que esse transtorno infeliz não me deixará ser assim.

Quem não me conhece, na intimidade, acredita que sou assim, mansa e serena. Mas é só o reflexo, do grande esforço que faço, para me manter lúcida, a maior parte do tempo. Na maioria das vezes funciona, mas quando estou diante da possibilidade de ser rejeitada, ou diante da possibilidade de falhar e ser rejeitada porque falhei, esse controle vai por água abaixo.

Percebo que minhas limitações são muito mais físicas e não dependem da minha vontade. Parece que me faltam estruturas mentais que me dêem essse senso de limite.

Optei pela solidão. E vivendo só, tenho encontrado um pouco mais de paz. Depois de dois casamentos fracassados, perecebo que sozinha encontro um equilíbrio maior.

A dor de não poder amar é forte, mas a dor de amar e não saber lidar com esse amor e vê-lo correr por entre os dedos, é pior ainda.

Também minhas amizades são superficiais. Não quero mais manipular ninguém. Sempre manipulo aqueles que querem, apenas, ser meus amigos.

A pluralidade de parceiros com que me relaciono, é o único aspecto da doença que me ajuda rsrsrs, distancio sexo de qualquer relação afetiva.

O fato de ser um pouco hipocondríaca e não desenvolver confiança em ninguém, me ajudou a não correr grandes riscos.

Com os anos e com a aceitação do meu transtorno, já não sinto vontade de me matar. A ideação suicida acabou.

Não ter mais família e ser responsável pelo meu sustento também me faz não correr mais os riscos do passado.

Tinha esperanças de um dia me transformar na pessoa que eu sempre quis ser. Hoje sei que é impossível. O máximo que consigo é reduzir os danos que esse transtorno possa trazer à minha vida.

Vivo de forma superficial. Sem explorar o que está submerso em mim, porque causa sofrimento a mim e a todo mundo que se aproxima.

Ser apenas o que está na superfície dói, dói muito.

Mas ser Borderline, dói muito mais...

UM VIKING DE ÓCULOS
Enviado por UM VIKING DE ÓCULOS em 06/11/2016
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