Depoimento de mais uma garota borderline

Também sou uma garota, hoje com quase 22 anos. Tenho crises desde os 13. No início acontecia geralmente uma vez por mês, próximo da tpm. Chegavam esses dias e minhas unhas quebravam. Eu me sentia feia e, desde então, comecei a desenvolver o hábito de pensar coisas negativas sobre mim. Passava a menstruação, eu pintava o cabelo. Naquele primeiro ano pintei inúmeras vezes o cabelo. Era muito impulsiva. Comecei a me relacionar amorosamente sem nem saber direito o que queria. O cara era um pouco mais velho que eu e me levava sair com a galera dele, onde rolava bebida e até drogas. Me pergunto às vezes, como ninguém daquele grupo notou que eu era uma pré-adolescente ainda sem personalidade? Comecei a desistir da escola e das pessoas normais, passava o dia dormindo.

A auto-mutilação começou nessa época, não lembro direito quando exatamente. Mas era no banheiro de casa e quem acabava por assistir isso eram as pessoas mais próximas de mim, ou seja, minha família. Eles tentaram me levar numa psicóloga, mas eu estava revoltada e achei a médica uma arrogante. Fui sobrevivendo até notar que tinha feito minha mãe sofrer um monte, ela estava com olheiras enormes já. No segundo ano, decidi que seria uma boa aluna para orgulhar minha mãe. Decidi que melhoraria. Procurei me relacionar com pessoas boas e até fiz uma grande amiga nessa época. Mas os dias ruins ainda aconteciam, talvez com menos frequência.

Promiscuidade também marcou um pouco essa fase. Mas, bem, até aí parece normal por se tratar de uma adolescente, não é? Bem que eu queria que tivesse ficado para trás. Consegui virar uma boa aluna sim, terminei a escola com a vaga dentro de uma faculdade federal já garantida. Nesse meio tempo, pelo menos três relacionamentos amorosos bastante conturbados. Cicatrizes no pulso. Antes de ir para a faculdade eu já estava bem mais amadurecida e resolvi tatuar por cima das cicatrizes. Tinha tampado boa parte das marcas. Mas meu pior corte foi no segundo ano da faculdade, já num quarto relacionamento sério, onde tive que fazer pontos e por isso hoje minha tatuagem está falhada... feia.

Mas enfim, nesse texto não consigo contar tudo pelo que passei. Algumas crises marcaram mais, outras deletei. Nesse segundo ano de faculdade, 2012, aceitei a terapia. Antes disso, em 2010 tinha visitado um psiquiatra e um neurologista, indicações de amigos e conhecidos da minha família. A saga da minha mãe pela minha cura continuava, acho que continua até hoje. Então, em 2012 aceitei terapia, psiquiatra e medicação. Foi essa médica quem me diagnosticou como border. Foi ela que me internou durante as crises mais fortes. Foi ela quem me falou em investir num tratamento apoiado pela minha família. Eu tentei por um tempo, mas sempre me cobrei muito pelo valor gasto nesse tratamento. Foi com essa supervisão toda que me afastei da faculdade, trancando o curso. Fiquei alguns meses na casa dos meus pais dando continuidade a minha recuperação (o que causou tudo isso na verdade foi um término de relacionamento, segundo cara que me abandonou e eu não consegui aceitar tendo dificuldades até agora, no presente, de aceitar).

Mas eu precisava fazer algo da minha vida e foi assim que planejei vir pra uma cidade diferente, longe de todo mundo, na busca de um emprego e uma estabilidade nova. Em agosto do ano passado fiz essa mudança. Tomei os medicamentos em agosto e passei esse mês procurando emprego. Em setembro comecei a trabalhar e, me sentindo bem, parei com a medicação. A médica e a terapia ficaram na outra cidade. Consequência: fiquei um mês naquele emprego e quando começaram as pressões, desisti. Já estou em um novo relacionamento e ainda consigo conturbar as coisas com a minha infelicidade geral com a vida. Assim contando, só me desmotivo mais... parece tudo tão feio, tão errado. Já me desmotivei a continuar escrevendo... te contato em outro momento quando conseguir falar sobre como me sinto agora.

UM VIKING DE ÓCULOS
Enviado por UM VIKING DE ÓCULOS em 09/02/2017
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