Visões particulares do mundo

Esta foi uma entrevista com três autores do Recanto, Fábio Brandão, Miguel Carqueija e Richard Foxe. Cada um dos três apresentou sua visão do mundo, gostos pessoais e pensamentos acerca de religião, livros e política.

1) Gosta de ler? Quais são as suas leituras preferidas?

FÁBIO – Gosto bastante! Mas infelizmente tenho diminuído um pouco a frequência de leituras. Gosto de biografias. Gosto de ler autores novos que surgem e autores consagrados. Os livros que li recentemente foram “O Caçador de Pipas” de Khaled Hosseini, “ O Homem Mais Inteligente da História” de Augusto Cury, “Morri Para Viver” que é o testemunho da modelo Andressa Urach, o livro biográfico da garota Malala que foi baleado por radicais islâmicos por defender o direito das meninas do seu país (Paquistão) estudarem. Li também livros dos colegas de Recanto das Letras Jacó Filho, J Estanislau Filho e Diógenes Pereira de Araújo.E para encerrar tem também um livro que fala sobre a trajetória espiritual da banda irlandesa U2,que gostei demais.

MIGUEL - Óbvio, sou leitor compulsivo. Eu me inclino para – na parte de ficção – a ficção científica e a policial, e um pouco a fantasia. Também estimo boas leituras de doutrina católica e obras de divulgação científica, inclusive arqueologia.

RICHARD -- Não tendo uma TV (por opção), então dedico muito tempo à leitura. As minhas preferidas incluem História romana, Ciência, Filosofia e Religião. A narrativa e as biografias não me apetecem.

2) E o cinema? Que tipo de filme mais gosta? Qual o filme que mais lhe agradou e já assistiu muitas vezes?

FÁBIO- Gosto de boas histórias, não me prendo ao estilo do filme. O filme que mais assisti foi o drama “Um Sonho de Liberdade” com Tim Robbins e Morgan Freeman, que é um roteiro bem interessante. Gosto de comédias rasgadas também, aquelas que nos fazem rir até doer o maxilar...rsrs...Tipo “Família Buscapé”...Gosto de bons filmes nacionais, quando tem vou ver. Gostei muito do filme “A Que Horas Ela Volta”? Com a Regina Casé e dirigido por Anna Muylaert, que recebeu prêmios por esta obra e um deles dedicou aos governos Lula e Dilma.

MIGUEL- Aprecio em geral filmes de arte, no sentido que aplico a esta expressão ou seja, filmes feitos com arte. Podem ser documentário, ficção científica, comédias, dramas, policiais e de suspense, terror ou obras de fundo religioso. Não posso definir um único filme que tenha me agradado mais que todos. Entre os que já assisti várias vezes e estão entre os meus favoritos menciono “Hard candy” (libelo contra a pedofilia), “Filha da Luz” (terror com fundo católico), “Whiteout” (suspense passado no Pólo Sul) e muitas obras de Walt Disney, como “A bela adormecida”, “Mary Poppins” e “As três vidas de Thomasina”.

RICHARD -- Assisto muitos filmes que baixo na Internet ou vejo diretamente no Youtube. Prefiro aqueles altamente dramáticos, inclusive os de guerra, baseados em fatos realmente acontecidos. Um dos que mais assisti foi “Argo” com Ben Affleck que narra a história verídica de seis diplomatas americanos fugindo do Irã controlado por militantes islâmicos seguidores do aiatolá Khomeini.

3) Do ponto de vista político como se considera? Qual seria, a seu ver, a maior ameaça à democracia?

FÁBIO- De qualquer ponto de vista me considero do lado do que é justo e respeitável. Ameaça a democracia é um judiciário corrupto se unir aos meios de comunicação e aplicar um golpe no país desrespeitando o voto de 54 milhões de brasileiros afastando uma presidente e condenando um líder que não nada de realmente concreto que comprovasse irregularidade de sua conduta. Por exemplo, várias fotos na internet provam que o famigerado e tão mencionado tríplex nada tem de luxuoso. Mas, os opositores de Lula, claro, ignoram. Sem mais.

MIGUEL - Sou um conservador. Para mim a maior ameaça à democracia é sem dúvida o comunismo, como aliás a gente está assistindo agora na Nicarágua, onde acabaram de matar uma estudante brasileira, dentro do quadro de repressão violenta ao povo do governo Daniel Ortega (quase 400 mortos em alguns meses de repressão). Outra grande ameaça é o chamado neoliberalismo.

RICHARD -- Considero-me um liberal pragmático, laico e libertário. A maior ameaça à democracia vem da polarização maniqueísta das posições políticas opostas onde prevalece o embate ideológico entre uma direita cada vez mais extrema e uma esquerda cada dia mais agressiva. O centro está desaparecendo. Parece que no mundo inteiro o diálogo e a dialética construtiva tenham sido substituídas pela retórica e pela intolerância: o pragmatismo e o diálogo estão indo por água abaixo.

4) Aceitaria sacrificar parte da sua liberdade política em troca de maior segurança?

FÁBIO- De certa forma, a gente acaba sacrificando porque tem uma galera que vem pesado. Tem gente que não sabe discordar com inteligência e democracia. Já fui muito ofendido por aqui. Acho importante que as pessoas que concordem ou não comigo se manifeste, é importante e é democrático. Os que não se comportam bem são aqueles que usam comentários não autenticados. Mas, quem assim agir é fácil localizar e se preciso processar.

MIGUEL- ) Não sei bem o que seria isso. Só sei que a falta de segurança é que nos tira a liberdade não só política mas até a de andar nas ruas.

RICHARD -- Depende da situação. A Itália –onde os assassinatos ficam abaixo de 500 por ano- se encontra numa situação totalmente diferente do Brasil, onde o número de mortes é típico duma verdadeira guerra civil. Portanto, aqui não faria sentido aceitar esse tipo de limitação, mas no caso do Brasil torna-se uma necessidade inderrogável.

5) Armar a população iria melhorar ou piorar a situaçao?

FÁBIO- A meu ver, acho que iria piorar. Aumentaria ainda mais os crimes domésticos

MIGUEL- Penso que não se pode simplesmente armar a população aleatoriamente, até porque as pessoas em geral nem sabem usar armas. O que não se poderia fazer é o que o PT fez, ou seja, promover o desarme das pessoas de bem, enquanto os bandidos continuam armados até os dentes. Segundo A.E. Van Vogt, e eu concordo, “o direito de possuir uma arma é o direito de ser livre”.

RICHARD -- Na Itália a população já vive desarmada e crescemos numa cultura de respeito pela vida humana. No Brasil só vejo viável permitir o armamento dos cidadãos que vivem fora dos centros urbanos, onde a Polícia não chega rápido devido à distância. Nas cidades não iria resolver e representaria um risco ulterior para as pessoas de bem. O problema da bandidagem se resolve com mais polícia nas ruas, bem treinada e motivada, além de penas mais severas para os infratores.

6) E a pena de morte? Favorável ou contrário?

FÁBIO- Contrário. As pessoas defende esta tese se baseando em leis de outros países. Cada lugar é uma realidade diferente.

MIGUEL- Sou a favor, dentro de severas limitações: apenas para crimes hediondos e suficientemente provados. É uma forma de legítima defesa da sociedade. O que não posso é ser a favor da pena de morte para inocentes, ou seja, a legalização do aborto, defendida da maneira mais demagógica nos tempos atuais.

RICHARD -- Absolutamente contrário pois, como comprovado, a Justiça pode falhar e sempre se corre o risco de tirar a vida dum inocente. Para os meliantes, dependendo do tipo de crime, proponho trabalho forçado em estruturas afastadas das cidades, e sem mordomias.

7) Com a morte termina tudo?

FÁBIO- Acredito na eternidade e que um dia Cristo voltará para resgatar aqueles que creem em sua volta e sua promessa de cruz

MIGUEL-Mas é óbvio que não. Você sabe que eu sou católico. Se tudo terminasse com a morte nós todos seríamos apenas lixo. Mesmo que os ateus não tenham em geral coragem para assumir essa conclusão, ela é perfeitamente lógica. Mas eu creio na imortalidade da alma.

RICHARD -- Ah, se eu soubesse, hein? Por outro lado vamos considerar a evolução do nosso Universo que, partindo do caos inicial, desenvolveu-se oportunamente até alcançar a vida inteligente. Ai surge uma pergunta: por qual motivo, entre as infintas escolhas possíveis, o Universo optou por aquelas Leis que levam a matéria a se organizar de forma tão complexa? Faria sentido todo esse esforço se um dia tudo terminasse com a morte? Ou não será que tanta perfeição contempla também a existência de uma outra dimensão até agora desconhecida? Só se a vida continuasse nessa nova dimensão a existência teria um sentido lógico.

8) Deus existe? Em caso de resposta afirmativa, como imagina que ele é?

FÁBIO- Sim! Para mim é algo impossível de descrever de tão extraordinário que é.

MIGUEL-– Tenho plena certeza da existência de Deus, até porque o universo não teria nenhuma razão para existir se não existisse um Ser Supremo para criá-lo e mantê-lo. Quanto à natureza de Deus, devemos entender que Ele não é feito de partes e por conseguinte não pode morrer e nem envelhecer. É puro espírito, uma Inteligência Suprema. Conforme a tradicional definição, onipotente, onisciente e onipresente, além de perfeito e eterno. Deus vive na Eternidade, e a eternidade não é uma linha infinita de tempo, antes é como um ponto, por isso não faz sentido a pergunta de alguns materialistas, sobre “em que Deus se ocupava antes de criar o universo” porque antes dessa Criação não havia tempo e por conseguinte não havia antes, como eu disse, é na Eternidade e não no Tempo que está a essência divina. O tempo é uma criação e como tal teve início e terá fim.

RICHARD -- Ninguém pode responder a essa pergunta, ninguém pode provar a existência de Deus e nem a não-existência; portanto, tanto os crentes como os ateus mentem. Se com a palavra Deus estamos falando do Javé da Bíblia ou da Providência, então não acredito. Entretanto, se Deus significa algo de primordial que existia antes do tempo e além do espaço então faz sentido admitir a sua existência. Afinal tudo se rege sobre um conjunto de leis exprimidas por meio de equações matemáticas e isso sugere que “alguém” deva ter imaginado, em sua mente, essas equações. Atenção, esse meu raciocínio não é uma prova, apenas um indício. Mesmo assim, a natureza desse Ser é inconhecível por definição e é loucura imaginar de poder interpretar a “vontade de Deus”, do qual nada sabemos, para impor aquela que, na verdade, é apenas a vontade de uns.

9) O Cristianismo é superior às demais religiões?

FÁBIO- O que sei “é que Cristo é o “Caminho”, a “Verdade” e a” Vida”, isto é o suficiente para mim...

MIGUEL-Sim, porque é a última forma da Religião Revelada, que começa com Adão e Eva, prossegue com diversos patriarcas, chega à Revelação Mosaica e por fim em Jesus Cristo, que é o Verbo Divino encarnado. Sabemos que não haverá nova revelação pública antes da Segunda Vinda de Cristo. Mas, respeitamos as demais crenças.

RICHARD -- O Cristianismo se coloca no mesmo plano das outras religiões abraâmicas. É uma religião construída a partir de um evento histórico real: a pregação de Cristo. Um líder político/religioso nacionalista e ortodoxo foi rapidamente transformado numa figura divinizada e até em Deus. Mas o estudo objetivo e científico das fontes mostra a verdadeira natureza humana de Jesus. O que temos hoje é o resultado de inúmeros dogmas impostos pela Igreja e defendidos com o poder da Inquisição.

10) Por qual motivo publica seus textos no Recanto das Letras?

FÁBIO- Descobri este espaço através de minha irmã Marli Caldeira Melris, gostei desse lugar e fui ficando. Cheguei em 2007.

MIGUEL- É uma plataforma bem simpática e que nos dá bastante liberdade, inclusive de publicar e-livros.

RICHARD -- Durante a vida toda, bem antes que Internet fosse inventada, sempre publiquei alguma coisa, seja a nível profissional que por lazer. Publicar é uma forma positiva de dialogar com pessoas distantes.

11) Você tem medo de algo em especial, como altura?

FÁBIO- Tenho medos normais de qualquer cidadão que vive nos dias atuas. Medo de violência, instabilidade econômica, medo de magoar pessoas queridas, e tantos outros. Aqui no “Recanto das Letras”, por exemplo, tem muitos escritores de idade mais avançada. Sou cuidadoso nos comentários até quando não concordo com algo que eles escrevem. Seria mentira dizer que sou autossuficiente e não temo nada.

MIGUEL- Não, eu não tenho fobias que eu saiba. Mas temo essa violência que hoje domina a sociedade.

RICHARD -- Tenho medo daqueles sofrimentos que, muitas vezes, antecedem a morte. Já vi pessoas sofrerem inutilmente com dores físicas alucinantes, sem falar na perda da dignidade, mantidas em vida artificialmente pela vontade dos parentes e/ou de certos médicos católicos. Ainda bem que aqui foi recentemente aprovada uma lei denominada “Testamento biológico”que permite ao paciente de estabelecer um limite às terapias e até optar pela sedação profunda até o fim. Ainda não chega a ser eutanásia, mas é um compromisso aceitável.

12) Como você iria reagir se uma equipe médica lhe dissesse que lhe resta apenas uma semana de vida?

FÁBIO- Ficaria arrasado por saber que por estar na faixa dos 40 teria mais a metade de expectativa de vida. A única solução é deixar nas mãos de Deus...

***Espero ter correspondido as expectativas, fui o mais sincero que eu puder

MIGUEL- Provavelmente procuraria a opinião de outra equipe médica... de qualquer forma se a gente sabe que vai morrer, quem professa a Fé Católica deve confessar, comungar, pedir a unção dos enfermos e procurar encaminhar com as pessoas mais próximas tudo o que irá ficar pendente.

Grato pela oportunidade.

RICHARD -- Mesmo não tendo medo da morte, seria uma péssima notícia que me deixaria muito triste, pois tenho que cuidar de minha mãe idosa e inválida e orientar meu filho que ainda continua se beneficiando dos meus conselhos e do meu apoio.