Airo Zamoner

Biografia em: http://www.protexto.com.br/autor.php?cod_autor=1

Em sua opinião, o que é cultura?

É um conceito de várias acepções, sendo a mais corrente, especialmente na antropologia, a definição genérica formulada por Edward B. Tylor, segundo a qual, cultura inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade".

Existem centenas, quiçá milhares de definições que rolam por aí. É fácil escolher qualquer uma. As mais numerosas fazem esforço hercúleo para ficar de bem com o “politicamente correto” da Revolução Cultural. E isso é uma armadilha para incautos... Essa estratégia é a que impede vergonhosamente que se possa retornar à normalidade do conhecimento.

Você se considera um difusor cultural?

Levo em alta consideração a definição de Tylor. Todos nós, seres vivos e dotados de inteligência, somos difusores “de” cultura em, pelo menos, um dos componentes citados no conceito acima.

Qual é o seu papel neste vasto campo da transformação mental, intelectual e filosófica?

Como afirma Antoine D'Olivet em sua "História filosófica do Gênero Humano, o homem tem naturalmente uma natureza que inclui, uma vida instintiva, anímica e intelectual.

O que interessa aqui é a vida intelectual. Não quero entrar nas profundezas da pergunta, pois, nos recônditos da “vida intelectual” de cada um, encontra-se um espaço de propriedade privada.

A tal “transformação”, citada na pergunta como sendo uma ação óbvia e induzida por terceiros é “indevida” e pode até ser irresponsável. A quem e com que “qualificação” se pode atribuir o direito (e a pergunta até sugere “dever”) de promover no outro, transformação mental, intelectual e filosófica?

Meu papel, portanto não é de transformar, mas quando muito de difundir, como se usa na pergunta anterior. E apenas difundido, respeito a intelectualidade do outro e sua capacidade de decisão.

Como você descreve o processo de aculturação, ao longo da formação da sociedade brasileira?

Poderia dizer, grosso modo, que foi incompleto. Se o objetivo era forjar uma “nova e única cultura”, como, por exemplo, foi o caso da aculturação entre gregos e romanos, formando a civilização greco-romana, certamente, logrou-se.

Tínhamos aqui: descobridores, índios de diversas culturas, negros africanos e posteriormente europeus de diversas origens europeias. Parece que o Brasil continua teimando de agir contra o fenômeno de aculturação que deveria ser normal. Todas as ações de governos de qualquer época, e, da sociedade brasileira como um todo, indica isso. Depois de tantas centenas de anos, continuamos do mesmo jeito, ou seja, temos os índios, os negros, os europeus… Ah, e temos as regiões, mas isto é outro assunto.

Que problemática você destaca na prática da difusão cultural?

Aqui temos um problema conceitual que é um divisor de águas. Depois que a cultura foi apropriada pela má política e por ideologias de todos os naipes, perdeu-se o norte. Escolas e Universidades, deixaram, umas de ensinar e outras de dar o caráter universal de ensino.

Então, primeiro temos que “arrumar” essas nefandas distorções, para só então, sabermos o que devemos (ou seria, podemos) difundir em termos de cultura.

Comente sobre o espaço digital, destacando sua importância no cenário cultural.

O mundo da tecnologia, principalmente depois da invenção e implementação da grande rede de computadores, ou seja, depois que se permitiu que cada computador e, recentemente que cada telefone celular (também dotado de computação) pudesse entrar em comunicação com os demais, de forma intensa e independente, tudo mudou, atingindo também a cultura no seu conceito mais genérico.

Para citar um exemplo, o idioma nacional, ou nossa culta e bela linguagem, símbolo maior de um povo passou, a ser utilizada em desrespeito total, às regras consagradas. O resultado está sendo um empobrecimento triste da linguagem, escrita e falada, seja no vocabulário, seja na gramática e ortografia. Por outro lado não há como negar que a tecnologia trouxe uma carga de democratização nunca vista, o que tem gerado uma participação irrestrita de todas as culturas e de todas as pessoas, independentemente do nível de preparo, formação ou “cultura”. O resultado final, sem dúvida, será benéfico e promissor para o conhecimento e por tabela para a cultura em geral.

Qual mensagem você deixa para todos os fazedores culturais?

Que, um difusor cultural siga a semântica desses termos e seja somente um difusor, e nunca um transformador. Que a transformação ocorra livremente, naturalmente, sem a deletéria imposição.

Ao entrevistador, pela deferência a mim concedida, deixo meu agradecimento e meus votos de sucesso na difusão cultural.

Dhiogo J Caetano
Enviado por Dhiogo J Caetano em 05/10/2018
Reeditado em 05/10/2018
Código do texto: T6468400
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.