ENTREVISTA COM O RECANTISTA- IOLANDINHA PINHEIRO: A MESTRA

Com o intuito de divulgar excelentes recantistas, criei uma simples entrevista que aborda apenas temas relacionados à escrita. Enviei para meus recantistas favoritos. Todos leio por amor e muito gosto. Após ler a entrevista, sugiro que procure pelo trabalho dos autores entrevistados, pois além de amar seus textos, novos vínculos de leitores poderão nascer a partir desse contato.

Não sei nem o que dizer dela. É uma das recantistas mais conhecidas e bem faladas do site. Contista por excelência, poetisa, cronista, microcontista, novelista, advogada e um verdadeiro amor de pessoa. Sem palavras para definir ela... uma das minhas professoras na arte do conto. E agora tive o privilégio de entrevista-la. Oh maravilha!

CONHEÇA MAIS SOBRE IOLANDINHA PINHEIRO: A MESTRA

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*QUANDO VOCÊ COMEÇOU A ESCREVER?*

Sempre quis escrever, e até escrevia uma coisinha e outra, mas não gostava do resultado. Nos anos 90 me meti a rabiscar poesias, tempos depois, inventei de escrever contos. A ideia inicial era escrever romances, mas não passava do primeiro capítulo. Foi assim que saíram os primeiros contos, muitos nunca publicados. Aí uma colega de trabalho me incentivou a entrar no Recanto das Letras... Esse momento é o que eu considero meu "marco inicial" na literatura.

*POR QUE VOCÊ ESCREVE?*

Escrevo porque preciso. Dentro de mim vivem histórias e seus personagens e eles precisam sair e ganhar vida própria a partir do momento que eu os apresento ao mundo através da publicação.

*O QUE VOCÊ ESCREVE?*

De tudo um pouco. Tem crônicas, contos, poesias... Mas me identifico muito mais com contos. Histórias de suspense, terror, e realismo fantástico sempre me impressionaram. Então eu acabo escrevendo mais nestes três gêneros, mas tudo é possível.

*COMO VOCÊ ESCREVE?*

Eu tenho uma condição neurológica chamada Transtorno de Déficit de Atenção - Hiperatividade (TDA-H). Essa condição faz com que eu tenha muito mais trânsito de pensamentos que uma pessoa normal. Tem o lado bom da criatividade e o lado ruim da dificuldade de concentração. Por isso eu demoro tanto a terminar de escrever. Ideias, tenho muitas, organizar e transformar num texto é o problema.

Então eu começo com uma ideia que me parece interessante e vou escrevendo. Geralmente eu acho que está ficando uma desgraça, aí é que entra aquele momento de inspiração. Nem sempre acontece, mas quando ele vem, eu escrevo contos que gosto muito mais. Sempre espero que esta inspiração venha em algum momento.

Mais um motivo para demorar a concluir.

*POR QUE VOCÊ ESCREVE O QUE ESCREVE?*

Acho que escrevo o que escrevo por um conjunto de fatores. Mas vou destacar alguns livros que li na infância/ adolescência que me instigaram a escrever nos gêneros que escrevo. Escritores como Edgar Allan Poe, Henry James, Herman Melville, Robert Louis Stevenson e Gabriel García Márquez foram a principal influência. Gabo é meu escritor favorito desde que li Cem Anos de Solidão, mas foi Henry James que me impressionou de tal forma, que eu senti que ser escritora de terror era um inevitável destino.

*O QUE VOCÊ PRETENDE ESCREVENDO?*

Percebi muito rápido que viver de literatura é quase impossível. O mercado editorial vive em crise, e é raro encontrar uma editora que queira investir em autores desconhecidos. A maior parte das empresas que publicam novos escritores, apenas quer encontrar pessoas quem banquem o próprio livro. São gráficas que não investem em divulgação e que não têm interesse na venda dos volumes pagos pelo autor, na verdade esperam que o próprio escritor venda seus livros.

Então eu escrevo com a pretensão de dar vida às minhas histórias, se algum dia eu vou ganhar dinheiro com isso? Acho difícil. Sou advogada e vivo deste trabalho. O resto são sonhos.

*SE INSPIRA EM ALGUM(A) AUTOR(A)?*

Eu me inspiro muito mais na observação da vida. Uma cena que vejo na rua, um filme que assisto, um pensamento... Mas tenho que dizer que os autores vitorianos sempre me encantaram.

*QUAL SEU PIOR TEXTO E POR QUÊ?*

Vixe! Nem sei qual é o pior ou o melhor. Textos são como filhos, uns são mais bonitos mas amo todos por igual.

*PODERIA DIZER DE CABEÇA QUAL O SEU TOP 5 TEXTOS AUTORAIS?*

Vou dizer os que o povo gosta mais, certo?

- UMA PRECE PARA MARIA

- O GATO MERWELL

- ELVIS NÃO MORREU

- A VIDA SEM DORA

- COVA DE LAMA

(acréscimo do entrevistador: o meu favorito é PRESSÁGIO he he)

*NA SUA OPINIÃO, QUAL O SEU MELHOR TEXTO E POR QUÊ?*

O mais lido até hoje é um chamado OS QUATRO TERRÍVEIS. Mas o que eu acho que ficou mais bem escrito é um texto curto chamado AUSÊNCIA. Ele tem uma profundidade lírica que eu gostaria que todos tivessem. Ele é único.

*SE VOCÊ PUDESSE OPTAR EM VIVER SÓ DO QUE ESCREVE, VOCÊ OPTARIA? POR QUE?*

Seria um sonho, não é? Mas eu precisaria ser uma escritora muito mais proativa e prolífica do que sou hoje. Se eu conseguisse ser apenas escritora, acho que me mudaria para uma praia, mas sempre estaria caminhando entre pessoas pois elas são a minha maior fonte de ideias. Pessoas são muito interessantes.

*TEM ALGUMA PERGUNTA QUE NÃO FOI FEITA E VOCÊ GOSTARIA QUE ELA FOSSE FEITA SOBRE ESSE TEMA?*

Não sei como seria a pergunta, mas a resposta seria a seguinte: não sou uma escritora, mas uma contadora de histórias. O amor à escrita começou a partir da oralidade. Antes mesmo de aprender a ler, eu ouvia histórias em uma coleção de disquinhos coloridos e outras contadas por uma senhora chamada Geralda. Ela contava as melhores histórias. Nunca fiz nenhum curso para aprender a escrever, mas tento sempre manter o meu leitor tão atento quanto eu mesma ficava ao ouvir as histórias da Geralda e dos meus discos. Este é o objetivo, encantar. Um dia eu chego lá.

*SE VOCÊ PUDESSE DIZER ALGO PARA QUEM QUER ESCREVER, O QUE DIRIA?*

Diria que lesse muito, assistisse muitos filmes e que não abandonasse nunca os seus projetos. Não desista, continue escrevendo. Termine a história e depois trabalhe nos detalhes para que ela fique como você quer. Lembre-se que toda linda escultura um dia foi uma pedra.

LINK PARA TEXTOS DA AUTORA:

https://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=172303

Leandro Severo da Silva
Enviado por Leandro Severo da Silva em 18/12/2020
Reeditado em 18/12/2020
Código do texto: T7138561
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