Entrevista com o autor Luiz Cesar Saraiva Feijó

Entrevista

ICE – O que é para si a poesia? E o que é para si um poeta?

Luiz Feijó- Poesia para mim é um jogo de palavras que transfigura a realidade, incutindo no outro (o recetor) a plena sensação de beleza, numa experiência mágica de quem se depara com o belo, deixando-se extasiar pela imaginação.

O poeta é quem pode proporcionar ao outro tudo isso. E como disse Fernando Pessoa:

“O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente”.

ICE – Como foi o seu primeiro contacto com a poesia?

Luiz Feijó- Foi há muito tempo! Eu era um adolescente de 12 anos, quando li as redondilhas, em heptassílabos, de Gonçalves Dias, o poeta da Natureza, do Romantismo Brasileiro…

Interesso-me também por outros gêneros: romance e teatro (drama). Escrevo algumas crônicas. (Crônicas de viagem).

ICE – Prefere escrever quando está sozinho ou a vida que o/a rodeia é também a sua inspiração?

Luiz Feijó- Escrevo na solidão e no aconchego de meu escritório, mas quando chega a inspiração, anoto rapidamente tudo que parece vir em turbilhão ou em forma de poema quase pronto ou, ainda, em forma de uma ideia longínqua, mais sofisticada, para desenvolvê-la e aprimorá-la depois. Procuro lapidar o texto, o mais demoradamente possível.

ICE – A que autor(es) escreveria um poema em agradecimento ou homenagem pela inspiração que lhe transmitiu?

Luiz Feijó- A Camões. A Augusto dos Anjos. A Rui Ribeiro Couto. A Fernando Pessoa. A José de Anchieta. A Machado de Assis. A Eça de Queirós. A Manoel Bandeira.

ICE – Alguma vez quis ou sentiu a necessidade de frequentar um curso de escrita criativa?

Luiz Feijó- Certa ocasião, fui tentado a escrever uma Biografia. Não me sentindo seguro, mesmo depois de aposentado, inscrevi-me num curso específico, oferecido pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (São Paulo), e fui sentar-me novamente, sem nenhum preconceito, agora com jovens também ávidos a esmiuçar as intrincadas veredas desse estilo peculiar e tão inquietante…

ICE – Gosta mais de livros físicos ou os livros digitais (e-books)?

Luiz Feijó- Sou da era analógica. Prefiro os livros de papel, com sua gramatura e cheiro peculiares, a livros digitais, com seu brilho também precioso, mas que incomoda a vetusta visão desse leitor contumaz…

ICE – Quando começa a escrever, já sabe como vai terminar o seu poema? Ou vai criando à medida que escreve?

Luiz Feijó- Normalmente já sei como vou terminar, mas o fazer poético não tem receita como os bolos de minha avó! Muitas vezes surpreendo-me…

ICE – Quais são os seus autores preferidos (nacionais ou estrangeiros)?

Luiz Feijó- Muito difícil responder, pois são muitos e muitos me influenciaram. Mas vou responder de memória, elencando os mais significativos, para mim: Luís de Camões, Fernando Pessoa, Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, Ferreira de Castro, Almeida Garret, Antero de Quental, Florbela Espanca (os meus preferidos autores portugueses). Machado de Assis, Castro Alves, Gonçalves Dias, Aluísio Azevedo, Manoel Bandeira, Rui Ribeiro Couto, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Augusto dos Anjos, Cecília Meireles, Tasso da Silveira, Cruz e Sousa, Alphonsus de Guimaraens (os meus preferidos autores brasileiros). Na literatura clássica latina, Vergílio e Ovídio. Os românticos franceses: Vitor Hugo, Gustave Flaubert, Stendhal, Alexandre Dumas, pai. Há muitos outros…

ICE – Tem alguma obra publicada ou que gostasse de vir a publicar? Quer falar-nos desses projetos?

Luiz Feijó- Especializei-me nas linguagens especiais de grupos sociais. Assim, publiquei: 1) Futebol Falado, a dramática linguagem figurada do futebol (Ensaio); 2) A linguagem dos esportes de massa e a gíria no futebol (Ensaio); 3) Brasil X Portugal, um derby linguístico (Ensaio); 4) Balançando o véu da noiva (Ensaio); 5) A Rádio Relógio Federal, um meio quente de comunicação de massa (Ensaio); 6) Uma Flor Amarela (Crônicas de viagem); 7) Crônicas catarinenses e muitos absurdos (Crônicas de viagem); 8) Lições de Latim (Didático); 9) Teoria da Comunicação (Didático); 10) Português no 2º Grau (Didático); 11) Morro que Morre (Poesia); 12) Remorro (Poesia); 13) Poemas de Cor e Amor (Poesia); 14) Re-Canto Lírico (Poesia). O Primeiro, editado em 1961, Lições de Latim e o último publicado em 2019 (Re-Canto Lírico), sendo que Poemas de Cor e Amor, foi lançado na cidade do Porto, Portugal, em 2019, pelo Grupo Cultural O PROGRESSO DA FOZ, onde estive com muitos amigos diletos.