Entrevista com a autora Rute Paulo

Entrevista

ICE- O que é para si a poesia? E o que é para si um poeta?

Rute Paulo – Poesia, intensa ou subtil, de palavras apaixonadas ou de raiva, retrata sentimentos seus, meus e os do poeta; simboliza o que muitos não conseguem dizer, reproduzem a beleza ou tristeza do momento e pintam as cores de empatia. Ser poeta é ter a capacidade de se expor sem filtros, de expressar a complexidade da essência do seu Ser, os sentimentos mais íntimos da sua alma, de desmascarar e silenciar a sua mente inquieta.

ICE-Como foi o seu primeiro contacto com a poesia?

Rute Paulo - Os meus pais sempre me incentivaram a ler, mas poesia propriamente dita, penso que terá sido no ensino secundário, em que os grandes autores nacionais seriam parte do programa escolar.

ICE-Escreve apenas poesia ou também tem interesse por outro género literário?

Rute Paulo – Gosto de escrever o que me vai na alma, o que não tem forma nem género. As palavras deverão fluir de forma natural para que possam representar sentimento, traduzir a emoção ou refletir um pensamento.

ICE-Prefere escrever quando está sozinho ou a vida que o/a rodeia é também a sua inspiração?

Rute Paulo – Questões existenciais/espirituais, a relação alma e espírito, os mundos visível e invisível, as leis da natureza e o universo como um todo, são temas a que me dedico há já algum tempo e embora possa aprender e muito na interacção com os outros e com o mundo exterior, prefiro os meus momentos de solitude, reflexão e contemplação, ainda que, não tenha necessariamente de estar sozinha para escrever.

ICE-A que autor(es) escreveria um poema em agradecimento ou homenagem pela inspiração que lhe transmitiu?

Rute Paulo – Difícil, esta questão. Se me permitem, terei de escolher dois autores: Camões e Rumi. Camões, pela forma artística como escreveu “Os Lusíadas”, em estrófes de 8 versos, 10 cantos de histórias e de história, memórias, poesia pura e um tanto de magia. E Rumi, pela sua espiritualidade e ensinamentos traduzidos em poesia.

ICE-Alguma vez quis ou sentiu a necessidade de frequentar um curso de escrita criativa?

Rute Paulo – Não. Esses cursos serão, decerto, muito úteis, especialmente em termos “técnicos”, como a gramática, por exemplo e eventualmente poderá até ser uma fonte de inspiração, na medida que nos motiva a escrever. Umas vezes, com a desculpa de falta de tempo e outras talvez pelo receio de nos “roubar” a liberdade do simples prazer de escrever, confesso que nunca me interessei. Embora, reconheça que poderei estar redondamente enganada.

ICE- Gosta mais de livros físicos ou os livros digitais (e-books)?

Rute Paulo – Livros físicos; gosto do seu cheiro, de lhes tocar, de abrir numa qualquer página (de certos livros) e acreditar que existe ali uma mensagem só para mim. Gosto de livros velhos e de imaginar por quantas mãos terão passado e as emoções sentidas. Gosto dos livros antigos que me fazem viajar no tempo. Contudo, nada tenho contra os e-books, talvez esta seja uma forma de proteger a natureza.

ICE-Quando começa a escrever, já sabe como vai terminar o seu poema? Ou vai criando à medida que escreve?

Rute Paulo – O poema vai-se formando à medida que escrevo; muitas vezes a ideia inicial transporta-me para outra direção, revelando outros caminhos, outra mensagem.

ICE-Quais são os seus autores preferidos (nacionais ou estrangeiros)?

Rute Paulo - A lista seria extensa, mas se tivesse de escolher, estes seriam os selecionados: Autores nacionais - Luís Vaz de Camões, Fernando Pessoa, Florbela Espanca e da actualidade - José Rodrigues dos Santos. Autores internacionais – Rumi, Antoine Saint-Exupéry, Richard Bach e Elif Shafak.

ICE- Tem alguma obra publicada ou que gostasse de vir a publicar? Quer falar-nos desses projetos?

Rute Paulo – Em Setembro de 2018 foi publicado o meu primeiro trabalho, “Not Just Another Spiritual Book...”, pela editora britânica, Austin Macauley Publishers. Este é manuscrito simples e de linguagem acessível; talvez um grito da minha alma, um desabafo ou quiçá uma terapia. É um livro que brinda a discussão sobre o paradigma da espiritualidade moderna, padrões de pensamentos e ilusão relativos à Meditação e ao conceito do Ser Iluminado; ao problema de muitos dos ensinamentos/filosofias, que são, muitas vezes, apenas um analgésico; sobre a ligação intrínseca das dificuldades da vida e a espiritualidade. Sendo que todos nós temos caminhos diferentes e estamos neste mundo para crescer o ser espiritual dentro de nós, independentemente da forma como escolhemos fazê-lo – um Ser Espiritual é aquele que se encontra nas vicissitudes da vida. “Sem dificuldades, não há crescimento e sem crescimento não há espiritualidade.” Espero um dia poder publicar a sua tradução em Português.

O meu segundo trabalho, intitula-se “Poemas Pueris” publicado em Fevereiro de 2020 por Edições Vieira da Silva. Poemas Pueris, tal como o nome indica são poemas talvez um tanto imaturos, poemas de gaveta de uma jovem diferente da Rute de hoje.

Aos projetos individuais juntam-se a participação em coletâneas/antologias, desafios colectivos como os apresentados por ICE, o que para mim é um privilégio poder fazer parte e pelo quais sou imensamente grata.