9º Seminário Internacional da Comunicação

Estudantes de Comunicação Social da UNISUL viajaram em busca de conhecimento

O 9º Seminário Internacional da Comunicação – Simulacros e (dis) simulações na sociedade hiper-espetacular, que aconteceu nos dias sete e oito deste mês, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande de Sul (PUC-RS), em Porto Alegre, foi o destino da viagem de 21 alunos e professores do Curso de Comunicação Social - Jornalismo e Publicidade e Propaganda da UNISUL de Tubarão.

O evento, cujo idioma oficial foi o francês, (motivo de orgulho anunciado na abertura pelo organizador Juremir Machado da Silva) ofereceu palestras bilíngües e grupos de trabalho nos quais profissionais especializados ou em processo de especialização apresentaram seus estudos. Os espectadores tiveram a oportunidade de interagir com pessoas de outros estados e países, além de esclarecer dúvidas, argumentar e expor suas próprias idéias em discussões. As palestras aconteciam pela manhã e à noite e os grupos de trabalho à tarde.

O homenageado principal do seminário foi Jean Baudrillard, filósofo que impactou o campo da comunicação em 1968, quando publicou o livro intitulado "O Sistema dos Objetos" e falecido este ano. Mas o foco das discussões foi a reflexão de Guy Debord, teórico e crítico da sociedade, morto em 1994, sobre “A Sociedade do Espetáculo”, também título de seu livro publicado há 40 anos.

Segundo a organização, os homenageados “foram contestadores e contestados, brilhantes e radicais, severos e generosos, polêmicos e polemistas. O debate precisa, sem dúvida alguma, continuar’. Assim, os objetivos foram a fomentação do debate sobre as contribuições de Baudrillard e Debord para a reflexão sobre a presença da mídia na sociedade contemporânea, a possibilidade do intercâmbio de idéias entre pesquisadores de universos culturais e disciplinares diferentes e o aperfeiçoamento de pesquisadores, professores e estudantes, dando-lhes oportunidade de expor resultados de suas próprias investigações.

Patrick Tacussel, da Universidade Paul Valéry, apresentou o tema “Guy Debord e Jean Baudrillard: espetáculo e simulacro, os estilos da radicalidade” dizendo que “não há mais espaço político, o espaço público se tornou o espaço das paixões privadas” e exemplificou com a espetacularização da separação do presidente francês Nicola Sarkozy: “O homem de Estado da modernidade se torna espetacularizado”.

Francisco Rüdiger, doutor em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo, falou sobre “Guy Debord e a teoria crítica: a atualidade de A Sociedade do Espetáculo”. Alertou que “às vezes o simulacro parece mais real do que é” e lembrou que “as pequenas revelações também fazem parte da história”. Disse que o “espetáculo é uma visão de mundo que se concretizou. [...] Os espectadores são sombras que perderam toda e qualquer relação com a sociedade.” E ainda questionou “como num mundo tão espetacular surge o pensamento crítico?”.

Michel Moitti, intelectual francês que falou sobre “Encenações coletivas e o espetáculo de si na Internet”, orientou os jornalistas a não aceitar influência dos anunciantes. Denunciou que nas eleições francesas faltou jornalismo investigativo e que os jornalistas que elucidam desapareceram. Afirmou que o combate político se transformou em um combate de histórias, no qual os principais políticos têm profissionais de comunicação para defendê-los. Disse que o jornalismo tem funções além da informação, que ele deve “buscar no escondido, e não na espuma das coisas, o jornalista transcende o conhecimento, investiga sob as crostas, aparências, dissimulações”. Explicou que comunicação é fazer crer e informação é apenas o fato, o acontecimento, que deve revelar algo, “a informação é a ciência do oculto”.

A coordenadora do Curso de Comunicação Social da UNISUL de Tubarão, Darlete Cardoso, participou da mesa temática sobre estudos em jornalismo questionando quem é o autor, baseada em seu trabalho “Entre dois discursos: mediação e autoria no jornalismo”. Ela expôs que “a mediação e a autoria se (con)fundem na produção jornalística”. Explicou que “no exercício profissional, o jornalista defronta-se com outros discursos, tomando-os para construir as notícias. Convive com a complexidade ao operar vários discursos para construir o seu. [...] Inscreve-se num campo de subjetividades, mas vive uma situação complexa entre dois discursos: o institucional e o social”.

No dia nove os universitários e professores apreciaram as obras de arte expostas na sexta Bienal do Mercosul, experimentaram a gastronomia local no mercado público, visitaram a exposição do espaço Santander Cultural, a Feira do Livro e a exposição de 50 anos da RBS.

Alguns acadêmicos de Jornalismo falaram sobre a viagem de estudos. Vanessa Buss, do segundo semestre, considera “muito importante que nós acadêmicos, tenhamos uma visão de como são as outras universidades” para “tentar de uma certa maneira transferir algo de bom delas para a nossa”. Disse que o encontro foi bom, pois “vimos a importância do contato com outros países”. E sobre Debord, ressaltou que a discussão “é de importância substancial ao nosso meio e para toda a sociedade, porque ele [...] quer fazer com que as pessoas despertem o seu senso crítico, para reagir contra a alienação do homem”.

Lucas Borges, do sétimo semestre, destacou que “no seminário o nível de debate foi muito alto” e tem certeza “que o conhecimento adquirido lá será útil em toda carreira dos futuros profissionais”. Quanto a visita às exposições, “o jornalista tem que entender de tudo, e a arte [...], torna a pessoa mais culta. [...] A pessoa que tem um nível cultural maior provavelmente vai escrever melhor e conseqüentemente ser um profissional melhor.”

Fabrício Espíndola, do terceiro semestre, acredita que “todo evento fora da Universidade, que possa trazer conhecimentos diferentes, é bom para o estudante de comunicação. [...] É um complemento ao que aprendemos na universidade, mas com uma visão diferente por ser de outros lugares, mas que acaba mostrando que os defeitos e as qualidades da mídia acontecem ao nosso lado e longe de nós da mesma forma”. Ele também conheceu e aprendeu um pouco mais sobre a arte num “dia inteiro de muita cultura”, referindo-se ao último dia da viagem.

“ Quantas vezes na eras, almas sublimes serão interpretadas,

em línguas desconhecidas, por povos que ainda não existem? ” Guy Debord

Emanuelle Querino

Tubarão, 21 de novembro de 2007

UNISUL - Universidade do Sul de Santa Catarina

Disciplina: Técnicas de Reportagem, Entrevista e Pesquisa Jornalística I

Professor: Ronaldo Santa'Anna