O que não precisa ser entendido

A palavra do poeta é o que o completa.

O verso ao avesso.

Os trocadilhos andarilhos.

A filosofia em rima, em baixo, em cima.

O desejoso existir.

Mãos mornas desenham em papéis suados, simbolos e formas, letras desformas e um grito surdo no ouvindo do mundo.

Esse espírito de poucas ambições já não quer mais nada além de Ser,

Poder viver sua verdade mísera e visceral, e deslizar pelos becos dos sete mundos. Desvendar novas espécimes, novas palavras, novos contos, lendas e canções.

Me afogo num abismo mórbido e infinito.

Mas sem as palavras de poeta eu não sei ser completa.

Faço brotar o incerto e o fugaz,

nada mais me transporta além da eterna desordem que transborda e espuma por de baixo desses pés ensolarados

Os caminhos são diferentes, mas o destino é sempre o mesmo.

Ou seriam os mesmos caminhos para destinos distintos?

Vê-se na religião, que se desligou da sua religação para acusar o irmão de seus pecados. Dedos podres apontados para o vizinho que mora ao lado.

Vê-se na religião, todos em busca do mesmo anseio. Caminhos diferentes para um mesmo lugar.

Linguagens variadas para uma mesma busca, um mesmo Deus.

E até os que se dizem ateus estão buscando silenciosos por algo que lhe preencha. Seja qual for o nome dado.

O pecado é inventado. O livre arbítrio mora ao lado.

A vida é circo. Eu palhaço, me equilibrando na corda bamba, vez em quando erra um passo do samba, pendurado aos avessos no trapézio e me jogando de cabeça no universo.

Mergulhando no fulgor das estrelas.

Pegando carona nas cadentes.

Explodindo em big bang e pintando novas galáxias,

Sejamos como 0 Louco.

E fazemo-nos de nossa Vontade consciente, nossa religião.

Essa Vontade que pulsa.

Que nos faz despertar.

Querer viver.

Abra las ventanas de tus ojos y deja el sol entrar

Lírio Gita
Enviado por Lírio Gita em 17/08/2018
Reeditado em 27/09/2021
Código do texto: T6422059
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