O retirante

A seca

A seca da agúa e da fome

do trabalho e ilusão

A seca que seca a vida do cidadão

A seca que condena João

Eurico João retirou-se, mas não da vida pobre e fútil

mas da terra seca e infértil

Ele saiu do berço nordestino, mas o sangue nordestino dele não saiu

Foi para o sul, o sul do frio e da vista beira á mar

Mas não amar, nem ser amado

Do sertão, João fugiu

Fugindo da mágoa

Não estava fugindo do sertão, do nordeste, da Bahia

A mesma mágoa que migrou para o sul

A mágoa que construiu uma ilha

Uma ilha de concreto e prédios, de carros e motos

de pessoas, de animais, de ilhas

A ilha paulistana

A ilha que chorava e ria

Marino Mouro
Enviado por Marino Mouro em 27/10/2018
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