A quadra de uma vida

Hoje percebi que não sou

Assim tão velha...

Estou mais pra recém-nascido.

Desconheço até o que me interessa.

Não sou roseira, nem cidreira,

Pau-brasil ou capim santo.

Sou é qualquer mato;

Comum em qualquer canto.

Não sou bem uma favela,

Um morro ou condomínio.

Sou é praça pública e

Invasão sem domínio.

Não sou dicionário

Ou enciclopédia...

Não sou livro de história,

Nem classificado de festa.

Eu sou uma agenda

De quem não faz nada;

Limpa, nua, empoeirada e

Com o ano passado na capa.

Do amor? Eu sou a paixão.

Da paixão? Eu sou o tesão.

Do tesão? Sou a primeira vista.

E da primeira vista? Sou a pré-conclusão.

Das brigas, da violência...

Não sou a incompreensão.

E do esquecimento,

Não sou o perdão.

Sou mesmo o esquecer,

Mesmo que não esqueça.

Talvez eu seja o tempo,

Outras brigas, outra cabeça...

Sou homem da caverna

E só procuro sobrevivência.

Minha faixa etária é humana,

É incerta, é indigência.

Eu sou um pseudônimo

Defeituoso, medroso e tosco.

Sou o tudo sem rumo ou prumo.

Sou eu, você e todo mundo.

É que sou a chuva

De uma tarde de domingo,

Mas também sou o sol

Desenhado por um menino.