Por que viajo pouco?

Nunca gostei muito de viagens para fora da minha Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, não que eu seja desprovido de recursos para isso, ou um contumaz sovina, ou não considere que haja cidades belas para além do Rio. Aceitem o que escrevo: não tem nada a ver com esses três aspectos, é que prefiro viagens mentais por meio da música, da literatura, do cinema, da filosofia, da ciência e de fotos, especialmente de mulheres que eu considero bonitas. Outro detalhe: sou muito preguiçoso para arrumar e desarrumar malas

Fiz nove exceções, putz, muitas. Uma viagem à Brasília por conta do sepultamento do corpo do meu tio Luís Trotta; visita a minha querida prima, Leila Galante em Marília, São Paulo; lecionar em Resende e, deliciosamente, em Cabo Frio por treze longos anos; Petrópolis, Teresópolis e Friburgo, uma vez em cada uma destas cidades para agradar namoradas que, adorando viajar, acabaram me abandonando pelo meu modo de árvore enraizada. Mais duas, uma para Marataízes – motivo conjugal – e a última para Castelo no Espírito Santos.

As pessoas que vêm ao Rio adoram nossa Cidade, gostam do nosso sotaque e, por aqui, procuram até "imitar" nosso jeito babaca de ser. Contudo, minhas poucas experiências mostraram, pelo menos para mim, que o carioca parece não ser muito bem visto quando faz turismo em outras cidades brasileiras, quando sai do Rio para trabalhar ou até mesmo morar pelo Brasil afora. Acredito que nossos “s” e “r” causem uma impressão do arrastamento do andar carioca, do pensar carioca, do sentir carioca e do se relacionar carioca.

Creio, apenas crença, que somos vistos como marrentos, metidos à besta, maix esperrrtox etc. Verdade, partes de nossa Cidade talvez sejam, em conjunto, uma das mais bonitas do Brasil, e, quem sabe, isso acabe respingando em nós e nos tornando, cariocas, muito soberbos e vaidosos. Ou talvez por nos consideramos cosmopolitas, pura tolice, e nossos outros compatriotas meros provincianos, outra tolice. Pode ser tudo isso e maix...

Esse “maix", porém, minha percepção não alcança e minha inteligência não consegue verbalizar.

Sinto ser o Rio minha alma gêmea.