Fabuloso 

Ao longe pareciam fios de ouro. O mês era setembro, as manhãs ainda molhadas de orvalho e um sol tímido, mas estalando de ansiedade, pronto para abrir as cortinas celestiais e protagonizar uma peça chamada verão.
Mas ainda era setembro…
 A natureza se encarrega de prover cada ser com o que lhe é devido.
Aquele emaranhado de fios dourados encantava um ser em especial e, pela distância tornou-se motivo de imenso desejo. 
Quanto mais longe das possibilidades, mais o querer é maximizado, pelos prováveis espinhos do caminho, mas a aventura é instigadora, 
E toda manhã, a cada manhã aquele ser vivia aquele deslumbre, que quase cegava-lhe e veio por fim a paixão…
Aquele platonismo já não mais fazia sentido, o próximo passo é a aproximação, se declarar desejoso de tanta beleza e por fim possuí-la.

Os olhos marejados de lágrimas de emoção, turvou-se ante tanta luz. Aquele ser, esperançoso, alçou voo e deslocou-se em direção ao seu sonho.... 

Numa daquelas lindas manhãs podia-se ver, no meio daquele emaranhado dourado, um ponto negro, como a se debater, a clamar por ajuda.

Já na manhã seguinte aquele ponto estava, inexplicavelmente, imóvel, dentro do próprio sonho...
Os cenários e sentimentos são instrumentos de ilusão, que sabiamente a mãe e mestra natureza nos proporciona, materiais hiper didáticos! E mesmo assim os seres não aprendem...
Teias, e nelas penduradas as gotículas de orvalho e mais os incidentes raios de sol, tornam atraente o visgo... Ou é ouro, ou é mel...
E poderia ali estar  qualquer ser...
Se fosse o homem, como voaria até lá? A paixão também ala...
De longe se vê um ser estirado na viscosidade de uma teia, tecida pelo seu próprio destino, embevecida por seus cegantes e, comumente, impróprios desejos.
Tudo, tudo, tão puríssima ilusão!