Diálogo dos pássaros

Diálogo dos pássaros (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

Último dia do ano de dois mil e vinte e um. Em algum lugar bem longe da civilização, onde as grandes árvores dominam a paisagem, entre capim verdejante, flores de palmas, lírios, margaridas. Uma trilha de formigas saúvas corta o verde da braquiária alta, de tão alta pode-se ver as pequenas sementes verdes que se balançam com o fraco vento soprando do sul. Algumas gotas de água caem lentamente da atmosfera, pois a fraca chuva, em formato de sprays, espalha-se rapidamente a paisagem, onde o verde se mistura com a alvura da água.

Em uma cerca de arame traçada entre vários mourões, repentinamente se aproxima um casal de pássaros. Pelas características é da raça de sanhaço. Distanciam um do outro por cerca de quinze centímetros. Olham-se mutualmente e replica sons diferentes. Um pouco mais ao lado, quatro canários pousam também no arame. Parece ser uma família, pois, ao centro, está o canário maior. É, sem dúvida, o líder do bando. Lá em baixo, quase perto de algumas flores de rosas, o solitário beija-flor se estaciona para o pequeno descanso. A tarefa foi árdua, pois as visitas de flor em flor fazem dele o perfeito maratonista. No galho mais alto da árvore de ipê amarelo, bem atendo a tudo, encontra-se o casal de gaviões carcará. Estão juntos e parecem estar em lua de mel. Observam tudo, desde aos pássaros pousados no arame, às rolinhas que circundam o arbusto médio.

- Que linda é a natureza, a mãe maravilhosa, que me protege de tudo.

Fala alto o beija-flor, encurvando o bico debaixo de uma das asas, possivelmente coçando e eliminando algum piolho.

O canário mais velho responde rapidamente:

- Sim, a natureza e nossa mãe. Ela nos fornece tudo, desde a água que bebemos, desde o alimento que comemos e até o descanso.

Prosseguindo, mais uma vez o canário falou:

- Viemos de longe eu e minha família. Estamos exaustos. O vento forte da manhã de hoje exaustou-nos a tal ponto de pousarmos a qualquer lugar. Aqui estamos. Daqui a pouco, os humanos comemoram mais um ciclo de trezentos e sessenta e cinco dias. Eles fazem festa, soltam fogos de artifício, comem, bebem, brigam, enfim, são os privilégios da raça dominante desta Terra. Assim que descansarmos, vamos jantar as sementes daquela farta braquiária ali em baixo. Perto, também, tem uma grande bica de água. Assim, jantaremos, beberemos água e vamos procurar abrigo para esta noite. Vai chover muito e precisamos de algum lugar bem protegido.

O sanhaço macho disse:

- Bem vindo a esta linda terra. Estamos vivendo aqui a mais de dois anos. Já tivemos cinco filhos. Todos eles criaram e foram viver para a natureza. Vocês estão vendo aquela varanda da casa logo ali? Fizemos mais um ninho lá. Temos mais dois filhotes. Estamos descansando e procurando mais alimentos para eles. Conforme você disse, a noite de hoje será de muita chuva. Para isso, eles deverão estar de papinho bem cheio para não chorarem no decorrer dela.

Do alto, os gaviões falam:

- Hoje queremos paz. Estamos em lua de mel. Conhecemo-nos na semana passada. Formamos uma família. É final de ano e não queremos briga com nenhum pássaro. Alimentamos há meia hora. Pegamos uma cobra bem grande e a partimos. Estamos fartos e hoje iremos dormir aqui do alto. Estamos em paz.

Desta forma, os gaviões se arranjaram no galho. Deitaram juntinhos como dois pombinhos em lua de mel.

O beija-flor disse adeus. Batendo as asinhas, partiu para mais algumas flores. Fartará e arranjará algum galho para se deliciar da noite chuvosa e fria.

Os sanhaços despediram dos canários, da rolinha, que quieta ficava no outro extremo da cerca. Bateram as asas e logo retornariam ao ninho com alimento para os filhotes. Estavam felizes e a felicidade deles era vista aos olhos de cada um.

Os canários, enfim, decolaram indo à direção das sementes de braquiária. Fartaram-se das sementes. Rapidamente beberam água perto da bica e sumiram no horizonte, ao qual se escurecia e a chuva aumentava mais.

O poeta, assim dizendo, olhou bem para cada cena. Pegou a caneta e papel e assim escreveu:

- “Ah! Natureza linda

Que me põe na berlinda.

Vejo os pássaros dialogando

E este poeta escutando.

No alto da árvore, o gavião

Quer ser o vilão,

Do canário

Neste lindo cenário...

O ninho está logo ali

Agora que vi.

Sou feliz por ser o poeta,

Escrevendo estes versos com a caneta.”

A chuva foi aumentando. Ventos eram sentidos a velocidade grande. Relâmpagos e trovões riscavam e barulhavam o céu que se escurecia rapidamente.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 02/01/2022
Código do texto: T7420665
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